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Torcida do Botafogo em pequeno número no Engenhão: estádio é único do Rio

Torcida do Botafogo em pequeno número no Engenhão: estádio é único do Rio

18/05/2012 - 12h00

Com estádios fechados ou ultrapassados, bilheteria perde importância no futebol brasileiro

Bruno Doro*
Do UOL, em São Paulo

Em 2011, o futebol brasileiro bateu recorde de arrecadação. Graças ao novo acordo de transmissão do Campeonato Brasileiro com a Rede Globo, os clubes arrecadaram R$ 2,14 bilhões entre janeiro e dezembro do ano passado, segundo análise da consultoria BDO. Esse mesmo estudo, porém, mostra que os ganhos com bilheteria, apesar de um aumento nominal, perderam importância.

SAÚDE FINANCEIRA DO FUTEBOL NACIONAL

  • Fotos Neymar: Fabio Braga/Folhapress - Damião: Neco Varella/Agência Freelancer

    Futebol se livra da obrigação de "vender craques": “Para fechar as contas, precisamos vender um ou dois jogadores por temporada”. Esse tipo de pensamento era  comum no futebol brasileiro há alguns anos. Mas a realidade está mudando. Desde 2007, os clubes nacionais estão se livrando da obrigação de transferir jogadores para o exterior a cada temporada. Segundo levantamento feito pela consultoria BDO, há cinco anos 37% do faturamento do futebol nacional vinha da venda de atletas. Hoje, transferências representaram, em 2011, apenas 15% das receitas, número inferior, por exemplo, ao arrecadado com cotas de TV (36%) e acordos de patrocínio (18%).

  • Flavio Florido/UOL

    Mesmo com dinheiro da Globo, clubes têm  dívida: O Campeonato Brasileiro de 2012, que começa no próximo sábado, promete ser o mais rico da história. Graças ao novo contrato de transmissão com a TV Globo, assinado em 2011, o futebol verde-amarelo apresentou um crescimento de 27% das receitas no ano passado. O problema é que as dívidas subiram ainda mais. Os clubes geraram R$ 457 milhões extra de receitas em 2011 em relação a 2010. No mesmo período, o endividamento ficou R$ 628,4 milhões maior.

Somando os 20 clubes analisados, as receitas de bilheteria somam apenas 8% do total (R$ 171 milhões) arrecadado no período, menor patamar da história. Em 2009, por exemplo, a representatividade do ingresso era de 12%, maior patamar já atingido.

“Essa queda tem duas explicações. A primeira é o impacto negativo que o fechamento de estádios em reforma para a Copa do Mundo teve, principalmente Maracanã e Mineirão. A segunda é o problema de como criar receitas com estádios. Alguns clubes, como o São Paulo e o Atlético-PR, estão descobrindo como aumentar o lucro com seus estádios. Mas é uma grande minoria”, analisa Amir Somoggi, diretor da área de consultoria esportiva da BDO.

A realidade é diferente da Europa. Enquanto no Brasil as receitas com ingressos representaram apenas a quinta fonte de receita dos 20 clubes pesquisados em 2011, atrás de cotas de TV, patrocínios, venda de atletas e clube social. No futebol europeu, referência em gestão no mundo, o dinheiro que vem do dia do jogo (que reúnem ganhos anexos ao estádio, como lojas e restaurantes) fica, sempre, entre as três principais receitas, segundo pesquisa da consultoria Deloitte.

O melhor exemplo disso é o Arsenal, da Inglaterra, em que 41% da renda anual (103,2 milhões de euros) vêm do matchday (ingressos + restaurantes + lojas...) Clubes mais ricos do mundo, Real Madrid (123,6), Barcelona (110,7) e Manchester United (120,3) também ultrapassaram a marca dos 100 milhões de euros. No Brasil, os dois clubes que melhor trabalham o conceito são São Paulo e Internacional, de maneiras diferentes.

No São Paulo, o time está descobrindo novas maneiras de lucrar com o Morumbi. Mesmo sem contar com jogos de times rivais no ano passado, o clube ganhou mais de R$ 40 milhões com o estádio. Somando com a verba de bilheteria, essas receitas representam 26% da arrecadação total. Dentro do estádio funcionam, por exemplo, livrarias, lojas, academia de ginástica e até um Buffet infantil.

“O São Paulo arrecadou R$ 41,3 milhões com seu estádio em 2011. Em 2010, foram R$ 34,6 milhões. A principal fatia ainda vem dos camarotes e cadeiras cativas, mas nota-se que de 2010 para 2011, o clube arrecadou quase 3 milhões a mais com aluguel do espaço”, afirma Andressa Ruffino, autora do livro “Arena multiuso - um novo campo de negócios”.

BILHETERIA + ESTÁDIO (MILHÕES DE REAIS)

  2010 2011
Flamengo
(com Maracanã, acima, fechado)
17,3 14,5
Atlético-PR
(Arena só foi fechada em 2012)
21,5 -
  • Atlético-PR não divulgou dados de 2011

O caso é parecido com o do Atlético-PR, com a Arena da Baixada. Como comparação, em 2010 (o time paranaense não divulgou o balanço de 2011) o clube ganhou R$ 21,5 milhões com bilheteria e estádio. O Flamengo, com torcida e público infinitamente maiores, mas sem estádio próprio, só arrecadou R$ 17,3 milhões no mesmo período – e esse número ainda caiu em 2011 para R$ 14,5 milhões por causa do fechamento do Maracanã. Agora, a própria Arena está fechada.

"As nossas receitas com a Arena vinham da exploração das 39 lojas que funcionavam no estádio e do plano de sócios. Com a saída da Arena, nós perdemos as lojas, mas, surpreendentemente, conseguimos manter os sócios. Nós tínhamos 17 mil associados e perdemos 9%. Hoje, jogando na Vila Capanema, temos 15 mil sócios.  Isto prova que o projeto de associação é bem visto, o que fica prejudicado são as novas associações", explica Mauro Holzmann, diretor de marketing do clube. "A capacidade de público da Arena era 23 mil pessoas. Descontando os 10% obrigatórios para os visitantes, com 17 mil sócios nós praticamente tínhamos o estádio cheio em todos os jogos e isto não mudou muito com a ida para Vila Capanema", completa. 

 

Ações como essa, segundo Andressa Ruffino, mostram que tanto Atlético-PR, quanto São Paulo estão buscando alternativas para lucrar com suas propriedades. “São dois modelos que procuram se adequar às novas exigências do mercado e do consumidor e por isso têm conseguido obter receitas extras. A Arena foi pioneira no sentido de promover esse modelo inovador, mas até hoje ainda tinha alguns espaços inutilizados, já o São Paulo está crescendo gradativamente, mas ainda falta muito pra se tornar uma grande arena multiuso. Está no caminho certo e adiantado perante os demais, mas a questão não é só montar algumas lojas e restaurantes no estádio e achar que isso resolverá o problema. É preciso mostrar valor agregado ao produto, algo que o São Paulo está tentando mostrar para patrocinadores e investidores, que bancarão o novo projeto de arena reformada”.

No Internacional, o Beira Rio ainda é um estádio nos moldes antigos. O plano de sócio-torcedor do clube, porém, compensa a defasagem desse modelo econômico e representa 21% do total de dinheiro que entra anualmente no clube – e esse número sobe para 25% ao somar a bilheteria. "Estamos trabalhando diversas ações para que possamos aumentar de 103.200 sócios atuais para ao menos 120 mil no final de 2012. O clube tem uma meta de atingir um número de 200.000 sócios ate 2019, o que nos daria uma receita anual aproximada de 80 milhões. Entendemos que, dentro do cenário atual, a única forma de continuarmos cada vez mais fortes é seguir com este aumento do quadro social que vem desde 2002. A gestão financeira do clube está muito alicerçada nisso", diz Norberto Jacques Guimaraes, diretor da Central de Atendimento ao Sócio do Internacional.

Em situação diferente, os mineiros estão entre os que mais sofreram com bilheteria e estádio em 2011. Com a reforma do Mineirão do Independência, a capital Belo Horizonte ficou sem futebol durante a última edição do Brasileirão. Atlético-MG e Cruzeiro mandaram seus jogos no interior e os públicos foram bem menores do que o habitual. A receita do Atlético-MG com bilheteria em 2010 e 2011, por exemplo, chegou a R$ 11 milhões em Sete Lagoas. Em 2011, a média de público do time foi de 13 mil pessoas no estádio (com capacidade total de 19 mil).

Nos dois jogos da final do Campeonato Mineiro, contra o América-MG, já no reformado Independência, o público total foi de 20 mil torcedores. Já contra o Goiás, pela Copa do Brasil, 17 mil pessoas foram ao estádio. Os números são bem melhores que os de 2012 em Sete Lagoas, com média pouco superior a seis mil pessoas – lembrando que, no Independência, o valor do ingresso ainda é maior (de R$ 30 a R$ 200 contra R$ 10 a R$ 50 em Sete Lagoas).

“É intangível o quanto representou para o Atlético os estádios em Belo Horizonte terem ficado fechados. Nós perdemos muito, tanto em campo, quanto fora dele. O prejuízo foi imenso. Agora, no Independência, vamos mudar isso. Não contar com apoio do torcedor fez uma diferença muito grande no ano passado”, fala o presidente atleticano, Alexandre Kalil.

* Colaboraram Carmelito Bifano, em Porto Alegre, e  Bernardo Lacerda e Gabriel Duarte, em Belo Horizonte

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