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Entrevista. Patrick Nally

Considerado o pai do marketing esportivo moderno, o homem que contratou Blatter para a Fifa nos anos 70 critica a falta de planos no Brasil e diz que entidade se transformou em 'feudo privado'

'A Copa do Mundo é uma oportunidade desperdiçada pelo Brasil'

Jamil Chade - Enviado especial ao Rio

01 Julho 2014 | 17h 42

Apesar de toda festa, o único legado da Copa do Mundo é uma "grande oportunidade desperdiçada" para o Brasil. Quem faz essa avaliação é Patrick Nally, considerado o "pai" do marketing esportivo moderno e a pessoa que, nos anos 70, contratou e treinou um certo jovem - Joseph Blatter - para trabalhar na Fifa. "Um verdadeiro plano de legado jamais foi estruturado", atacou. 

Nally foi quem, em 1974, intermediou o contrato da Fifa com a Coca-Cola e foi o responsável pela elaboração do plano de marketing da Copa do Mundo que serve de base até hoje para os Mundiais. O papa do marketing esportivo e consultor da Unesco é um dos principais nomes do evento promovido pela Fundação Getúlio Vargas e o Fifa Master Alumni que, nesta quarta-feira, realizam um seminário no Rio para fazer um balanço da Copa.

Em entrevista exclusiva ao Estado, ele fez uma avaliação do Brasil e apelou a governos e patrocinadores para que se unam para forçar uma mudança na Fifa. Eis os principais trechos da entrevista: 

Qual é o impacto de marketing da Copa do Mundo para o Brasil?

Esta Copa, como as anteriores, é um megaevento global que garante oportunidades substanciais de marketing. Infelizmente, diante de algumas preocupações anteriores, planos para promover o evento foram reduzidos, especialmente no mercado local brasileiro. Para o Brasil, essa Copa é uma mensagem ao mundo do amor e estilo de jogo brasileiro. Mas também está deixando um legado de que o Brasil não estava preparado para capturar o impacto total da maior oportunidade de marketing diante das preocupações que permearam a preparação do evento. A imagem da Fifa também criou um impacto negativo. 

Qual é o real legado da Copa para o País?

Uma enorme oportunidade desperdiçada. 

Por quê?

Porque o evento foi tomado por uma controvérsia e um verdadeiro plano de legado jamais foi estruturado. Isso enfatiza porque megaeventos precisam ser planejados de forma mais eficaz com todos os acionistas, e não apenas com a Fifa e o Comitê Organizador Local. 

Patrick Nally diz um plano de legado para o Brasil nunca foi estruturado
Patrick Nally diz um plano de legado para o Brasil nunca foi estruturado

Apesar da festa nas ruas, existe também um questionamento sobre os custos do evento. É justo que megaeventos sejam financiados com dinheiro público? 

Por conta do enorme volume de dinheiro público investido nesses megaeventos, o planejamento, execução e transparência do legado precisam uma maior colaboração. Esses megaeventos têm um impacto significativo no país-sede e precisam ser administrados de uma forma "coletiva". Patrocinadores, emissoras, governos, torcedores, acadêmicos precisam se unir para fazer parte do plano. Esses eventos não podem ser organizados apenas para o benefício da Fifa. 

Por que a reputação da Fifa é tão ruim? 

Porque ela opera como um feudo privado. Não existe transparência suficiente sobre como ela opera. Ela está envolvida em muitos escândalos, num momento que todo o esporte está confrontado com alegações de corrupção, manipulação e doping. A Fifa está sentada sobre um vasto volume de recursos, sem qualquer auditoria reconhecida. 

Temos agora estádios do século 21. Mas nossos cartolas são do século 19. Como a Copa pode mudar isso?

Isso só vai mudar quando todos os atores se juntem para apresentar um plano. Apenas resmungar não vai fazer as coisas mudarem. Apenas ao unir os interesses de diferentes partes e elaborando um "plano colaborativo" é que uma mudança pode ser atingida. No final das contas, a Fifa é controlada pelas 209 federações nacionais. E todas essas federações tem um governo. Se governos, patrocinadores, emissoras se unirem para apresentar um plano, será muito difícil a Fifa não aceitar a mudança.