23/10/2014 - 06h00

De coaching a hipnose, clubes brasileiros copiam estratégias de empresas

Do UOL, em São Paulo

  • Keiny Andrade/Divulgação

    Paulo Storani é ex-oficial do BOPE do Rio de Janeiro e foi contratado pelo Sport para dar palestras

    Paulo Storani é ex-oficial do BOPE do Rio de Janeiro e foi contratado pelo Sport para dar palestras

Os clubes de futebol do Brasil mostraram nas últimas semanas que estão dispostos a adotar estratégias utilizadas por grandes e médias empresas, principalmente internacionais, para atingir metas: coaching profissional, hipnose, palestras de psicólogos e até de ex-policiais são algumas das inovações.

Os métodos, no entanto, parecem servir no futebol brasileiro como última alternativa para evitar um fracasso e não são usados de forma padronizada, ao longo de um ano, por exemplo, para realizar todo o trabalho. São os casos de Palmeiras, Sport e Portuguesa, que, ameaçados pelo rebaixamento, decidiram investir em diferentes métodos.

O coaching foi a estratégia adotada pela diretoria do presidente Paulo Nobre, no Palmeiras. Lulinha Tavares foi o coach contratado após a equipe sofrer a histórica goleada por 6 a 0 para o Goiás. O trabalho que passou a ser desenvolvido estabeleceu metas a serem cumpridas e tentou tirar de cada jogador uma performance um pouco melhor. É o que explica Villela da Matta, presidente da Sociedade Brasileira de Coaching.

"O coaching surgiu no esporte, mas ele se consolidou dentro da indústria, dentro dos negócios. Porque coaching é o único processo na área de aumento de desempenho que tem uma comprovação científica do resultado. Se você pega um time de futebol, ele é igual a uma empresa. Os jogadores são funcionários, os técnicos são os executivos e você tem os diretores da empresa. E você precisa alinhar tudo isso. Para os colabores, que seriam os jogadores, os funcionários", explica da Matta, que afirma que até a esfera familiar do atleta se envolve com o processo.

O coaching nasceu nos esportes norte-americanos e, desde então, migrou para o mercado empresarial, no qual foi aperfeiçoado. Agora, retorna ao esporte em sua versão completa. No Brasil, no entanto, são poucos os clubes de futebol que adotam o processo.

"Infelizmente no Brasil a gente está atrasado, sim, até nas empresas. A gente está atrasado enormemente, coisa de 20 anos. O mundo hoje trabalha em conceitos extremamente científicos, técnicas comprovadas de aumento de performance", explica Villela da Matta, que realiza o trabalho com atletas de MMA (Mixed Martial Arts) que lutam pelo UFC.  

Mas este não é o único método que desperta curiosidade dos clubes brasileiros. Há algumas semanas a Portuguesa, virtual rebaixada à Série C do Campeonato Brasileiro, contratou o hipnólogo Olimar Tesser. Diferentemente do coaching, o trabalho com hipnose não é um processo de métodos, mas sim um evento pontual no qual se acredita que poderá fazer com que o atleta tenha uma melhora de performance.

Outros casos, como o do Sport, são mais simples e se assemelham aos mais recorrentes do futebol brasileiro. O clube pernambucano contratou Paulo Storani, ex-oficial do BOPE (Batalhão de Operações Especiais) do Rio de Janeiro, para conceder palestras à equipe. Storani é especialista em gestão de equipe e também realiza o trabalho em grandes empresas. E não foi o primeiro clube que o contratou.

Veja, abaixo, alguns dos clubes que inovaram na gestão de equipe.

Cruzeiro
Visitas frequentes de ex-jogadores, como Piazza, Dirceu Lopes e Raul Plassmann, ao centro de treinamento e até mesmo aos jogos. Geralmente os ídolos conversam com os jogadores, jantam ou almoçam juntos, têm trânsito livre, dando palavras de incentivo.

Atlético-MG
Clube também já contratou palestras do ex-oficial do Bope Paulo Storani. No ano passado, antes da final da Libertadores, o técnico Cuca passou vídeo com o jornalista da globo e atleticano Chico Pinheiro, que passou mensagem de apoio aos jogadores, como forma de motivação.

Flamengo
É aberto a palestras motivacionais, mas hoje concentra o tema com o técnico Vanderlei Luxemburgo, que já dividiu as tarefas com uma psicóloga. "São estratégias que causam impacto porque não são usuais. Se fizessem mais parte da rotina dos clubes, não causaria tanto impacto quando são tornadas públicas", diz o diretor executivo Felipe Ximenes.

Fluminense
Clube utiliza a psicologia aplicada ao futebol, da base ao profissional, com constante estimulação. "Pela fórmula de disputa do campeonato, em que a briga por posições é acirrada, seja contra o rebaixamento ou briga pelas primeiras posições, essas palestras motivacionais têm efeito em algum momento", avalia Paulo Angioni, diretor executivo de futebol.

Botafogo
Comissão técnica divide a função de gestão com o psicólogo Eduardo Cillo. Anteriormente, o coach Evandro Mota, que trabalhou até com Carlos Alberto Parreira na seleção brasileiro e com o português Jorge Jesus no Benfica (POR) trabalhou no clube.

Internacional
Teve Evandro Mota como coach entre 2006 e 2008. As palestras aconteciam quase sempre coladas nas preleções, com vídeos e citações.

Palmeiras
Contratou Lulinha Tavares como coach. O trabalho de motivação é feito a partir de metas, produtividade e tem como objetivo aumentar a performance de cada jogador em um trabalho individualizado.

Portuguesa
Contratou o hipnólogo Olimar Tesser para trabalhar com o técnico Vagner Benazzi. Trabalho em eventos, que também tem como objetivo aumentar performance dos atletas.

Sport
Palestras com o ex-oficial do BOPE Paulo Storani, que já trabalhou para outros clubes do Brasil e é especialista em gestão de equipes, até no mercado empresarial.

Colaboraram Bernardo Gentile, bruno Braz, Danilo Lavieri, Dionízio Oliveira, Guilherme Palenzuela, Jeremias Wernek, Leonardo André e Pedro Ivo Almeida