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Arquiteta e urbanista autônoma, graduada pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (São Paulo), em 2007. A partir do trabalho final de graduação, sobre a necessidade de espaços públicos para grandes massas, somado a projeto para um estádio em Itaquera, emprenhou-se na produção de materiais sobre arquitetura esportiva devido à ausência de uma variedade de estudos e análises de caso.
Responsável pelos blogs Gol da Arquitetura e Arquibancada, auxilia universitários com projetos em desenvolvimento sobre estádios, arenas e temas relacionados à Copa do Mundo, Jogos Olímpicos e eventos esportivos em geral.
Desde 2008, presta serviços de consultoria a interessados em se preparar para os eventos no Brasil.
Tem como bagagem a experiência em voluntariado durante os Jogos Panamericanos de 2007, no Rio de Janeiro e na Copa do Mundo Fifa 2010, na África do Sul.
Dou início nesta semana, como relatado na coluna anterior, aos relatos técnicos dos estádios de cada cidade. Inicio já com uma cidade que a meu ver foi muito polêmica e talvez por falta de escrúpulos, já que trocou, repentinamente, o projeto com o qual conseguiu a vaga para ser cidade-sede por outro bem inferior. Mas, calma, vou mostrar o porquê dessa inferioridade.
Com recursos da linguagem, a justificativa da arena é baseada em palavras que não condizem com o projeto e que, infelizmente, conquistam opiniões errôneas. Trata-se de uma arena onde boa parte dela é desmontável. Inicialmente isso parece ser bom, já que muita gente acredita que a Copa nem deveria ser levada à Cuiabá – embora em discorde bastante disso por motivos democráticos e de lucros reais com o evento no Brasil através de transporte, cultura e promoção do país como destino turístico variado.
No entanto, investir o montante de R$ 454,2 milhões através do governo do Mato Grosso, sendo que muita coisa será retirada, ou seja, não ficará para a cidade, transforma o custo da arena em um desperdício enorme de dinheiro. Mas, claro, tem uma justificativa de que a Fifa exige demais e as partes “desnecessárias” e que a cidade não comportaria depois devido ao público médio ser baixo devem ser desmontadas. Ou seja, de nada vale o investimento da Copa para incentivar o esporte local. Fazer bons projetos com arquitetura de manutenção baixa também não é conveniente pelo jeito.
Mas vamos ao projeto e as características positivas e negativas do mesmo:
- Visibilidade:
Segundo o gráfico acima, as zonas em azul são consideradas de visibilidade ótima perante o padrão da Fifa. Já o pontilhado é o limite máximo de distância que um torcedor pode ter do campo. Portanto, a visibilidade do estádio é muito boa, vendo que somente os pontos mais extremos das arquibancadas atrás dos gols ficam próximos a este limite. O limite é baseado na capacidade de uma pessoa enxergar uma bola. Vendo pelo melhor lado possível, são estas arquibancadas que serão desmontadas, portanto, após o evento, a visibilidade será ainda melhor.
- Estrutura metálica:
Há algumas décadas havia um preconceito com o custo inicial de estruturas metálicas. Hoje são bem aceitas, visto que elas minimizam o tempo de conclusão da obra. Além de reduzir custos de mão de obra, facilitará para a organização da cidade para a Copa do Mundo, podendo mais facilmente conseguir concluir suas obras dentro do cronograma sem sofrer com a especulação da mídia internacional.
- Ventilação:
Já saliento que não sou especialista em conforto ambiental, mas na graduação temos uma noção da área. Abaixo, o gráfico (que não passaria de semestre) e uma foto do futuro estádio:
Como podemos ver na perspectiva, o elemento com brises (aletas direcionadas e responsáveis por barrar a incidência do sol) tem seu tamanho variável. Esta variação faz com que a entrada de ar quente, representada no gráfico pela seta vermelha, não seja cumprida ou sendo bastante minimizada ao longo da fachada, diminuindo conforme o tamanho dele aumenta. Portanto, a ventilação é falha.
Há a ventilação como o sistema nas laterais esquerdas de cada fachada, o que não ocorre no lado oposto. Se há a diminuição da entrada de ar quente, a seta em azul claro, representando o ar resfriado pela exaustão (em azul), também não funcionará da mesma forma, pois o ar não atinge os setores adequados. Há uma necessidade de um estudo horizontal, em planta, para ver se há alguma forma disso funcionar.
- Posicionamento do telão:
Não há muito a dizer. Como a estrutura atrás dos gols será retirada, de nada adianta colocar ali os telões. Mas reparem no local previsto para o mesmo na imagem abaixo: no gramado na “curva” do estádio. Não há lugar pior! Mas, até aí, não é dos piores equívocos do projeto.
- Implantação, segurança e acessibilidade:
A implantação mostra uma falta de cuidado de pisos para evacuação do local em casos de emergência. O ideal é fazer um sistema radiação de saída, para que as pessoas se espalhem em direções opostas em momento de pânico. Mas este não é o único estádio que não prevê nada neste sentido.
O ponto mais incompreensível deste estádio é a colocação de restaurantes e coperias na parte externa e não sob as arquibancadas. Eles negam o estádio e funciona como gasto extra, com edifício independente, sem criar vínculo com a imagem de estádio e que poderia valorizar muito mais seu espaço.
Legenda da foto segundo o Portal da Copa, baseado nas informações da GCP Arquitetos (autor do projeto): 1 – espelho d’água; 2- restaurante; 3- Choperias; 4 – Playground; 5- Escalinata; 7- Centro de mídia; 9- TV compound; 10- Hospitality Village.
*Quem tem interesse em saber o que é o 6 e 11? Ninguém, certo? E pra quê colocar o número 8?
** Na imagem acima, o Norte não é identificado, mas pesquisei e ele esta para esquerda.
Os estacionamentos parecem estar jogados no terreno, sem muita organização, e as saídas são poucas, o que pode gerar tráfego intenso durante a Copa e se for usado depois, também. O número 11 trata-se da parte de piscinas – mais um erro sob meu olhar.
O governo é famoso por seu descaso em relação a este tipo de equipamento público e o custo é grande – também não há motivo para não colocá-los sob as arquibancadas, nem que isso fizesse com que o revestimento externo do estádio fosse mais afastado. Seriam equipamentos mais profissionais, mais adequados ao público e com manutenção unida ao estádio, não isolada. Aí, sim, se tornaria uma arena multifuncional (múltiplas práticas esportivas), por exemplo, e não um complexo esportivo injustificável, com gastos isolados onde um não ajuda na sustentabilidade financeira do outro.
Acima, o desenho de piso, sem trabalho de fluxos e com vegetação aleatória e não direcional.
Na imagem acima, também podemos ver o que é a “escalinata”, no canto superior esquerdo. Uma afronta, sem dúvida, à acessibilidade. Infelizmente, são poucos os estádios que disponibilizam as plantas dos projetos; então está, por ora, difícil de analisar este ponto na parte interna do estádio.
- Sustentabilidade:
Colocar meia dúzia de árvores dentro do estádio não o torna, nem de longe, sustentável. Nem mesmo a mera captação de água da chuva. Pudemos ver que a ventilação não está muito adequada e o clima de Cuiabá é quente e bastante úmido. Portanto, era necessidade básica garantir a ventilação e conforto ambiental sem utilizar condicionamento do ar, ou compensando-o. Mas a Fifa não faz exigências rígidas, dá orientações de pontos a serem estudados, mas sem regras.
O Brasil, que queria ter uma Copa verde para potencializar os negócios futuros, perde, também por meio de Cuiabá, por não ter soluções interessantes que chamem atenção para o tema.
- Usos e a remoção das estruturas:
Uma das justificativas para a remoção da cobertura e arquibancadas seria o uso da arena para feiras agropecuárias – um potencial para a região. No entanto, não é muito claro como isso vai acontecer. O uso do gramado para tal evento seria um absurdo contra o gramado e contra o futebol (atividade que deve ser a principal do equipamento), mas o acesso de maquinários é complicado se não houver mudança na fachada também, ou este será desmontável também?
São muitas questões, discursos vazios e projetos não muito detalhados. Espero futuramente poder ter acesso a materiais mais técnicos e não tão comerciais para conseguir enxergar além de palavras vazias e 3Ds bonitos.
Para interagir com o autor: lilian@universidadedofutebol.com.br