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Talvez seja perceptível, através da leitura dos textos que produzo, o meu modo de pensar futebol e até mesmo a minha afinidade metodológica. Mas antes de tudo defendo um futebol pensado como um “todo”. Algo “minimamente complexo”. Um jogo que mescla, “divinamente”, a Arte com a Ciência. Arte no sentido de ver o que é “bonito”, a tal criatividade, admirada na “mágica beleza” da resolução dos problemas que o jogo te oferece (individual e coletivamente).
Por outro lado, a defesa que faço da minha forma de pensar não obriga, de forma alguma, a afinidade (completa ou não) por aqueles que leem. A cada um se reserva sua crença, e é necessário a discórdia para que haja discussão e, assim, desenvolvimento do pensamento e, posteriormente, aprimoramento da prática, do dia a dia. Isto, na verdade, é o que mais interessa, fazer e não somente falar. Aliás, para chegarmos em resultados diferentes, precisamos pensar e agir de forma diferente. Precisamos mudar nosso comportamento para obter resultados diferentes. Se por ventura fizermos as mesmas coisas, não podemos esperar resultados diferentes (Albert Einstein). E muito disso passa pelo treino.
Entre os jogos existe(m) o(s) treino(s). E, inevitavelmente, há uma quantidade maior de treinos do que jogos. Uma porcentagem bem maior que fundamenta a importância crucial de se estruturar e arquitetar (periodizar) as sessões de treinamento. Precisamos nos importar mais e melhor com o período de treinos. Saber organizar o tempo que se tem para construir uma forma de jogar. Por isso, pode ser considerado, um processo de ensino-aprendizagem, tanto individual como coletivo, da maneira como se pretende jogar. Este processo de ensino-treino tem como objetivo aperfeiçoar as diferentes capacidades e competências dos atletas e da equipe. Porém, ainda algumas práticas vêm limitando e coibindo o desenvolvimento individual e coletivo.
Um treino analítico, por exemplo, é configurado em uma dinâmica onde dificilmente os jogadores podem expressar as suas aptidões criativas, através do gesto técnico ou da ação em movimento. O que infelizmente reflete em uma característica constantemente observada no nosso futebol, uma inoperância da criatividade decisional nas soluções de algumas dificuldades que o jogo apresenta.
Aprender futebol a base de repetições debilita as possibilidades criativas dos jogadores. Este tipo de treino onde se propõe, ou impõe o mesmo, um treino analítico. Onde se observam tarefas fechadas e práticas físicas dirigidas todas elas a um único aspecto (geralmente físico ou técnico). Deste processo resultam jogadores que passam anos se exercitando, onde a sua técnica melhora, mas eles não jogam (individual e coletivamente) necessariamente melhor (o que podemos observar atualmente). Isto porque as tarefas que estimulam a repetição mecanizada e “cega” das ações são nefastas para o desenvolvimento dos jogadores, hipotecando a sua inteligência, criatividade e adaptabilidade. Treinamos jogadores para executarem melhor. E para pensarem melhor o jogo? E para resolver melhor os problemas do jogo (como ter a posse de bola, por exemplo)? Quando iremos nos importar com o pensar? Quando iremos treinar mais o cognitivo?
Treinar os jogadores para fazer o que deve ser feito em determinada situação do jogo. Nas mais variadas e distintas situações do jogo, termos no mínimo 7/8 atletas pensando sobre o mesmo referencial coletivo. Não fazer as mesmas coisas ao mesmo tempo, mas sim, pensar sobre o mesmo referencial ao mesmo tempo. O princípio é começo e não o fim, o ponto de partida. Caso contrário, o desempenho da equipe e o atleta ficam a mercê apenas da vontade e motivação. Só não podemos cair no erro de esquecer que esta “vontade” e “motivação” é para fazer algo. Algo específico. Motivação: motivo + ação. Objetivo da ação. Qual o propósito do seu desempenho?

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