O futebol brasileiro, sabe-se muito bem, é mundialmente conhecido pela imensa técnica e habilidade de seus jogadores. É, também, mundialmente conhecido pelo talento inequívoco desses mesmos jogadores em cavar faltas e potencializar eventuais cartões amarelos e vermelhos para seus adversários.
Talvez o maior exemplo disso tenha acontecido na Copa do Mundo de 2002, na primeira partida contra a Turquia, quando Rivaldo – eleito o melhor jogador do mundo alguns anos antes – levou uma bolada na coxa, colocou a mão sobre o rosto, caiu no chão, e cavou a expulsão do jogador adversário. “Brasileiros fingidos!”, deve ter exclamado polidamente algum torcedor turco ao ver o replay detalhado do lance.
Vampeta, companheiro de Rivaldo na seleção pentacampeã, também acha isso. Quando ainda jogava no Flamengo, o jogador bigodudo foi perguntado qual era a razão do fraco desempenho da equipe. Vampeta então respondeu que o Flamengo fingia que pagava, e ele fingia que jogava. Era tudo, enfim, um grande fingimento. Sem saber, acho, ele criou um dos maiores provérbios da história dos recursos humanos, além de cravar uma máxima da administração esportiva que merece ser copiada, citada e referendada por um bom tempo.
Talvez Vampeta não tenha chegado a alcançar o status de craque do futebol brasileiro, mas – sem dúvida alguma – Vampeta é um gênio. E não só por ter sido um dos últimos jogadores a usar bigode e nem por ter dado cambalhotas na rampa do Planalto. Não. Vampeta é um gênio porque conseguiu simplificar o futebol brasileiro em uma única frase. Coisa que só os gênios são capazes de fazer.
É triste admitir, mas é verdade. O futebol brasileiro não passa de um grande fingimento. Os clubes fingem que pagam e que se mobilizam pelas reformas estruturais mais básicas. Os jogadores fingem que jogam e que querem ficar no clube, e não se transferir pra algum mercado que pague melhor. A torcida, principalmente a organizada, finge que vai pro estádio pra assistir um jogo e não pra descarregar suas agruras e sair no sopapo com o cara do lado, ou com a polícia. A polícia finge que vai pro jogo pra servir e proteger, e não pra descarregar suas agruras saindo no sopapo com o cara do lado, ou com a torcida. A imprensa finge que se preocupa com o estado primário da organização interna do seu produto. E o governo, por fim, finge que vai atuar seriamente pra mudar o estado caótico e não lá muito otimista em que as coisas atualmente se encontram.
É tudo um baita de um fingimento danado.
Como eu mesmo faço parte desse ambiente, admito tristemente que também estou dentro de todo esse fingimento. É verdade. Eu finjo que estou realmente preocupado e que vou fazer alguma coisa pra melhorar isso tudo. Eu até quero, mas sei que não vou. Não confio nas minhas capacidades a ponto de achar que o meu esforço valha a pena e que dará algum tipo de resultado. Eu finjo que é possível, mas sei que não é. Não sou um gênio.
Talvez seja hora de eu deixar crescer um bigode.
Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br