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Nesta semana, tive a oportunidade de participar do seminário Footecon, realizado com o apoio de Carlos Alberto Parreira, ex-técnico da seleção brasileira e atual comandante dos bafana-bafana, nome pelo qual a seleção sul-africana é carinhosamente apelidada.
 
Durante o encontro, que foi protagonizado por diversas personalidades do mundo do futebol, como Luxemburgo, Júnior, Mano Menezes, Caio Júnior, além é claro do próprio Parreira, muito se comentou sobre triste realidade da perda de jovens jogadores das categorias de base de clubes formadores e da conseqüente dificuldade enfrentada por seus técnicos em montarem times competitivos.
 
Diversos palestrantes do evento sugeriram que, para por um fim nesse problema, a nossa legislação desportiva deveria ser alterada de modo a proibir que jovens talentos fossem transferidos ao exterior antes de seus 23 anos de idade (talvez por uma alusão à regulamentação da FIFA, que estabelece o período de formação de atletas de futebol dos 14 aos 23 anos).
 
Em artigo anterior, neste mesmo espaço que me é concedido, tive a oportunidade de opinar a respeito, dizendo que, em minha opinião, o grande desafio imediato do nosso futebol é segurar os jogadores intermediários que hoje se aventuram por países de pouca tradição de futebol, ou ainda por ligas inferiores de países europeus. E que é absolutamente normal e irreversível que grandes nomes como Kaká e Ronaldinho Gaúcho sejam transferidos a terras estrangeiras.
 
A discussão deste artigo, entretanto, é distinta: discutimos agora se existiria uma possibilidade de alteração legislativa que pudesse segurar jovens jogadores (de primeira linha ou não), que ainda não estivessem devidamente formados e prontos a enfrentar um mercado estrangeiro. Eu entendo que não. A saída para esse problema, em minha opinião, é outra.
 
O Brasil é o país da letra morta em termos legislativos. Temos em nosso sistema normativo centenas de milhares de normas jurídicas formalmente em vigor, mas que, na prática, na maioria dos casos, são absolutamente ignoradas.
 
A cada novo problema que o país enfrenta, os membros do Poder Legislativo e Executivo se movimentam para criar uma nova lei, ou alterar a então vigente, com o escopo de corrigir o problema. O resultado é o acréscimo desmedido de diplomas que não são respeitados pelos cidadãos, quer pelo oportunismo de alguns, quer pela efetiva impossibilidade de conhecê-las e entendê-las em sua íntegra.
 
E o que é pior, as próprias autoridades aparentemente também não as conhecem, e, como conseqüência, não exigem seu cumprimento e/ou punem o descumprimento.
 
Resultado: a legislação em vigor torna-se fraca, sem que o resultado prático esperado seja devidamente alcançado.
 
Essa filosofia deve ser aplicada ao caso de perda de jovens atletas a clubes estrangeiros. Entendo que não há qualquer legislação, por mais perfeita que possa ser elaborada, que venha a neutralizar a criatividade dos clubes poderosos de contratar atletas, cada vez mais jovens.
 
Assim, a medida a ser tomada é outra. É no campo prático, do dia-a-dia dos clubes.
 
As federações (a iniciar pela própria FIFA) precisam dar maiores condições e incentivos para que os clubes formadores possam garantir maiores atrativos a seus atletas. Esses clubes precisam passar por reestruturações, precisam melhorar as condições dos seus atletas de base em termos de alimentação, saúde, educação e treino.
 
E não se trata apenas de recursos a serem repassados aos clubes. Estamos falando em know-how principalmente (a velha história do dar o peixe ou ensinar a pescar).
 
Os clubes precisam aprender a faturar dentro da nova concepção do negócio futebol. Precisam desenvolver seus departamentos de marketing para melhor se relacionarem com seus torcedores, hoje seus clientes. Desenvolver camarotes em seus estádios (mesmo que de forma bastante rudimentar, no caso de pequenos clubes do interior, mas que ainda assim poderiam representar importante fonte adicional de renda). Dentre diversas outras atividades.
 
Muito já se evoluiu e as federações vêm promovendo diversos seminários, simpósios, etc., com essa finalidade. Precisamos também de disposição para implementar mudanças por parte dos nossos dirigentes.
 
Só assim esses clubes poderão estar em situação confortável para dar maiores condições a seus jovens atletas das categorias de base.
 
Quando isso ocorrer, temos certeza que esses clubes terão mais chances de segurar, de forma natural, seus talentos de base (exceção feita, claro, àqueles casos excepcionais, como Kakás e Ronaldinhos), sem a necessidade de procedermos qualquer alteração legislativa.
 

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