Renovação e transparência?
“Disputar a Série A e a Série B é muito diferente, mas o principal é a transparência”. A frase foi dita na semana passada por Andrés Sanches, presidente do Corinthians, logo após o rebaixamento do clube paulista para a Série B do Campeonato Brasileiro.
Na ocasião, Sanches disse também que já havia convidado o amigo e ex-zagueiro Antonio Carlos para assumir a gerência de futebol corintiana. No dia anterior, o zagueiro havia se despedido dos gramados atuando com a camisa 10 do Santos no jogo contra o Fluminense.
Na primeira entrevista de Antonio Carlos como gerente corintiano, porém, uma declaração dada pelo atleta passou quase que despercebida pelos veículos de imprensa. Em meio às falas sobre o rebaixamento corintiano e o novo desafio, Antonio Carlos disse que havia dois meses já falava com alguns jogadores sobre o Corinthians, trabalhando informalmente para o clube.
Quando eleito, Andrés prometeu renovação e transparência para o Corinthians. Continua, em suas entrevistas, pregando a mesma linha de conduta dentro do clube. Renovar e ser transparente.
Então como pode alguém que se propõe a isso conversar com um jogador ainda em atividade e recebendo salários de um clube para assumir um cargo de gerência num rival? É, mais ou menos, como se o diretor de um banco trabalhasse informalmente para outro enquanto não mudasse de cargo. E, o que é pior, já no dia seguinte assumisse a função no concorrente…
Foi isso que Antonio Carlos fez. A transparência de Andrés Sanches, pelo visto, não valeu enquanto seu “amigo de infância”, como gosta de frisar, estava recuperando-se de uma lesão no ligamento cruzado anterior do joelho e queria fazer um jogo de despedida dos gramados.
O caso fica ainda pior quando lemos na Folha de S. Paulo que a torcida corintiana já interpelou Antonio Carlos sobre o fato de ele ter beijado a camisa do Santos um dia antes de ser anunciado como gerente corintiano. Imagine se a torcida e os dirigentes santistas exigissem de seu ex-funcionário explicação semelhante?
A transparência é um elemento em falta no esporte. Mas não dá para querer adotá-la apenas quando o assunto se refere à gestão passada de um clube em crise, como o Corinthians de hoje.
Renovação sempre é bom. Transparência, mais ainda. Mas não dá para existir meio-termo nesses dois campos.
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