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Acho que eu já disse mais de uma vez aqui que a indústria do futebol como conhecemos poderia mudar. Disse isso com o caso do Charleroi, com a eleição do Platini, com o discurso do 6+5 do Blatter, com o manual de licenciamento da Uefa, com a proposta de compra do Liverpool pelos seus torcedores, e uma imensidão de outras vezes. Nenhuma delas, porém, deve ter tamanha importância no contexto da indústria do que o caso que eu vou te contar agora.
 
Ok, o 6+5 do Blatter foi aprovado pela Comissão de Futebol da Fifa e deve ter algumas repercussões positivas e negativas, mas ainda há de ser aprovado em outros níveis para começar a valer. O caso que já foi aprovado pelo CAS, o tribunal arbitral do esporte, e que deve causar uma revolução no mercado foi o Caso Webster, um caso que só pode ser comparado em importância com o Caso Bosman, que aconteceu mais de uma década atrás.
 
Resumidamente, o defensor escocês Andrew Neil Webster mudou de clube, do Hearts da Escócia para o Wigan da Inglaterra. O Hearts queria receber o valor da rescisão do contrato, que estava estipulada em 4,6 milhões de libras. O Wigan disse que não ia pagar a rescisão, coisa que o CAS deu razão ao clube, porque ano passado a Fifa resolveu fazer um carinho na Comissão Européia e aprovou um compromisso, conhecido como Regulamento 17, que dizia que um jogador pode se transferir de clube ao pagar o montante restante de salários quando faltarem dois anos para vencer o seu contrato, mediante a um aviso prévio de 15 dias no fim da temporada. Com isso, ao invés dos 4,6 milhões de libras, o Wigan vai pagar ao Hearts apenas 150 mil libras, um trigésimo do valor requisitado.
 
Com esse precedente, clubes perdem ainda mais poder de retenção do contrato de jogadores. A idéia por trás disso é adequar a condição trabalhista de um jogador de futebol à condição de um outro trabalhador comum. Segue, portanto, a tendência já demonstrada pelo caso Bosman de dar mais poder ao jogador do que ao clube, além – é claro – de minar ainda mais o mercado de transferências. Em uma projeção feita pelo jornal inglês The Independent, grandes estrelas do futebol inglês, como Cristiano Ronaldo e Cesc Fabregas, poderão se transferir em 2010 por apenas 12 milhões de libras, o mesmo valor pago pelo Middlesbrough por Afonso Alves.
 
Com a indústria do futebol dando uma importância cada vez maior para o mercado de transferências, é certo que essa medida vai mudar as coisas um tanto. Os salários dos principais jogadores devem ficar cada vez maiores, o valor de transferência potencialmente menor e os contratos sendo renovados com mais freqüência.
 
Com menores valores de transferência, menos investidores terão interesse em participar dos direitos econômicos de atletas, o que pode eventualmente minar uma potencial fonte de receita de clubes brasileiros. Com isso, clubes formadores devem ter seu percentual de receita reduzido, o que pode acabar com uma série de projetos que estão sendo desenvolvidos atualmente no Brasil.
 
Ainda é muito cedo para dizer ao certo quais serão as conseqüências do Caso Webster para a indústria do futebol brasileiro e mundial. Mas que vai mudar, agora vai.
 

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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