Imagine você, caro leitor, assistir ao jogo do seu time ouvindo os comentários do próprio treinador da sua equipe. Mas não com ele à beira do campo, cumprindo a função para o qual é remunerado (aliás, o mais alto salário do país para o cargo), e sim na telinha, vendo assim como você o jogo pela televisão.
Na quarta-feira insossa das quartas-de-finais da Copa Sul-Americana, Wanderlei Luxemburgo atacou de comentarista no jogo do Palmeiras! Sim, isso mesmo. Ele deu folga aos jogadores titulares, mandou o auxiliar técnico para a Argentina junto com outros 14 atletas e, em vez de ficar em casa e observar a partida, meteu-se a comentarista da principal emissora do país.
Sacada de mestre da Globo? Mais um acesso de vaidade de Wanderlei?
De fato um pouco dos dois. Mas esse não é o questionamento que deve ser feito num caso como esse. Porque o fato já está consumado. Luxemburgo já foi à Globo e palpitou até no desempenho dos times que são seus rivais diretos na disputa do título nacional.
No dia seguinte, na maior naturalidade do mundo, mídia, torcida e diretoria do clube apenas comentaram a atuação do pseudo-comentarista, ou, mais precisamente nesse caso, do pseudo-treinador.
Nada de questionar a validade do ato em si, ou então a magnitude do descalabro que foi o episódio.
Via de regra, é como um médico ir à televisão comentar a cirurgia de um paciente, ou dar palpite sobre o procedimento cirúrgico de seus colegas. E, para agravar, o paciente é dele!!!! Ou, ainda, um advogado que naquele dia pediu recesso do tribunal, decidir ir à TV Justiça comentar o caso que está em julgamento!
Simplesmente o ato de Luxemburgo fere qualquer questão ética que se possa ter já colocado no relacionamento transmissão de jogo, treinador de futebol, etc. Uma coisa é, num período fora do trabalho, Wanderlei decidir comentar um campeonato. Outra, muito diferente, é ele deixar de lado uma competição para focar em outra e, num determinado dia, comparecer à TV para falar sobre o desempenho do time que dirige!
É
tão absurdo quanto colocar ponto eletrônico em jogadores como o mesmo Wanderlei fez com o time do Corinthians em 2001. Ou, ainda, tão errado quanto mentir a data de nascimento e adulterar o nome no documento de identidade, como feito pelo até então Vanderlei Luxemburgo para se tornar Wanderley Luxemburgo e jogar no Flamengo. Se o futebol fosse um meio mais sério no Brasil, no dia seguinte Luxemburgo seria demitido por justa-causa do trabalho. Mas como foi o próprio Wanderlei quem criou o conceito de “super-técnico”, ou de “manager”, é impossível contrariá-lo… Nesse caso, a justa-causa é para quem deixou o “monstro” ser criado.Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br