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Faz alguns anos redigi um trabalho científico, em Ciências do Desporto, a respeito da imprevisibilidade como princípio de treinamento nos jogos desportivos coletivos. O trabalho fora aceito por uma revista científica mas acabou não publicado.

Passou um ano e recebi da mesma revista o “aviso” de que ele (o artigo) estaria presente na próxima edição. Como a Ciência é dinâmica, veloz e implacável com o tempo, achei por bem não mais autorizar a publicação (um ano havia se passado, e a contar os meses que levou para o aceite inicial, era tempo demais – o que poderia ser novidade em um primeiro momento, na minha opinião não causaria mais impacto algum).

Mas eis que dia desses, num embate científico surgiu a seguinte questão: a imprevisibilidade pode ser treinada (em nosso caso específico, no futebol)?

Já escutei muita bobagem a respeito do assunto. Certa vez um pesquisador aficionado por futebol disse que imprevisibilidade para ele era “urubu marcando gol” ou “bola murchando antes de cruzar a linha de meta”.

Obviamente a imprevisibilidade a que me refiro é a característica “mais inerente das inerentes ao jogo”; é e está no jogo assim que ele se inicia, independente de “urubus, corujas ou bolas furadas”.

E se há equívoco por um lado no conceito; por outro há na sua aplicação.

Dia desses, assistindo a um jogo do campeonato italiano, um dos comentaristas (brasileiro), ao explanar sobre um chute ao gol da região da meia-lua após passe vindo pela lateral esquerda, disse que “raramente acontece no jogo um lance como aquele, bem parecido com os treinamentos de finalização em que se repete à exaustão aquele tipo de movimentação”; e que por isso era inadmissível que o jogador tivesse chutado a bola para fora do gol.

Noto, nas minhas observações e nas falas do “cientista aficionado” e do “comentarista esportivo”, que ainda treina-se muito o que é previsível e que portanto não vai acontecer no jogo, porque ainda se considera que o que é imprevisível não é treinável (total desconhecimento sobre o jogo!).

A imprevisibilidade está no jogo, quer queiram ou não. Dominá-la totalmente seria o fim do jogo (a equipe que o fizesse não mais perderia). Mas não é possível, e não estou eu aqui a defender isso.

O que estou a defender é que o treinar tem que estar atrelado ao jogar (mais uma vez precisamos lembrar que “treino é jogo e jogo é treino”).

Treinar a imprevisibilidade significa possibilitar à equipe e jogadores pré-disposição e eficácia imediata para resolver problemas (situações-problema) tornando aqueles que seriam totalmente desconhecidos (imprevisíveis), parcialmente ou totalmente conhecidos.

Não se trata de tornar o jogo previsível, mas sim menos imprevisível.

Enquanto isso não for compreendido viveremos ainda do “treino é treino, jogo é jogo”. Então, treinar para quê?

Sendo assim, em prol do jogo, por fim sugiro: abandonemos os treinos.

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br

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