Ao contrário daquilo que muita gente disse ao longo dessa semana, o Campeonato Brasileiro de 2008 não foi o mais competitivo da história.
Certo. Havia tempo um campeonato não ia para a rodada final com o título em jogo, mas isso jamais pode servir de parâmetro para a análise de todo o campeonato.
Subjetivamente falando, a competição final não foi tão grande assim. Na última rodada, apenas dois clubes lutavam pelo título. Havia duas vagas para a Libertadores e três clubes lutando por ela. Só um ficaria de fora. A Sul-Americana não conta. E, na briga contra o rebaixamento, havia quatro clubes para duas vagas. Dos vinte clubes participando da competição, apenas nove brigavam por alguma coisa na rodada final, isso porque o Campeonato Brasileiro tem a grande sacada de rebaixar quatro times. Fossem dois rebaixados apenas, como na maioria dos lugares, o cenário seria menos competitivo ainda.
Mas também não dá pra reclamar de boca cheia. Poderia ser pior. Poderíamos ter chego à rodada final com tudo definido. Mas o futebol brasileiro não é assim. Como os clubes são bastante nivelados, dificilmente isso irá acontecer.
Esse nivelamento pode ser comprovado matematicamente. Existe uma fórmula que pode ser utilizada para mensurar a competitividade real de um campeonato. Os idealizadores dessa fórmula são os pesquisadores do Sport Business Centre da London University. Ela não é nada mais do que uma ferramenta normalmente utilizada para se mensurar a competitividade de mercados aplicada ao futebol.
Basicamente, pela fórmula chamada de H-Index, somam-se todos os pontos conquistados no campeonato e redistribui-se um percentual para cada clube. Aplicam-se médias e compensações, e no final você consegue chegar a um número que serve como uma pontuação da competitividade. Quanto menor for esse número, melhor.
O Brasileirão de 2008, por exemplo, teve o ‘H-Index’ de 104,4. Se comparado com os resultados dos últimos campeonatos finalizados pelas 5 maiores Ligas européias, o Brasil se sobressai. O campeonato Espanhol teve 107 pontos, o Alemão 107,4, o Italiano 108,8, o Francês 105,9, e o Inglês, o menos competitivo de todos, 113,7. O Brasil tem o campeonato mais competitivo, de longe.
É bom ressaltar que essa fórmula entende por competitividade o equilíbrio de pontuação entre as equipes, estejam elas em zonas de classificação ou não. Dessa forma, o campeonato mais competitivo que existe é aquele que todos os competidores acabam com o mesmo número de pontos. A fórmula não contempla as nuances de quantas equipes estão disputando um número x de vagas. A fórmula é aplicada a todos os lugares da tabela, e não apenas àqueles que brigam por conquistas ou contra o rebaixamento.
É por isso que ela permite dizer que esse campeonato não foi o mais competitivo de todos. Ele foi, na verdade, o terceiro menos competitivo desde a época dos pontos corridos. O mais competitivo foi o de 2005, com 103,2 pontos. Depois dele, vem o de 2003, que o Cruzeiro conquistou com 13 pontos a mais que o Santos, com 104,1 pontos, e o de 2004, com 104,2 pontos. O menos competitivo foi o de 2006, com 105,2 pontos e depois o de 2007, com 104,8 pontos. Nota-se, portanto, uma certa tendência de diminuição de competitividade ao longo dos anos, o que é natural na indústria do futebol. Com o tempo, caso as coisas se racionalizem, alguns poucos clubes deverão dominar os campeonatos.
Sorte que os clubes brasileiros são imprevisíveis. Amanhã, os clubes grandes de hoje podem ser rebaixados. Melhor assim.
Ainda bem que somos desorganizados. A graça é bem maior.
Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br