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Entendamos de uma vez por todas senhores: a “preparação física” é importante para se jogar futebol!

Não seria eu “louco” de dizer o contrário. Estaria contra mim mesmo e contra o norte que escolhi (a Teoria da Complexidade) se desprezasse (ou menosprezasse) a “preparação física”.

E preciso hoje falar sobre isso porque tenho ouvido, visto e lido muitas coisas equivocadas a respeito do assunto.

Um sem número de estudiosos, pesquisadores e treinadores têm alardeado aos quatro cantos do mundo o que chamarei de “periodização tática” portuguesa. Não discutirei aqui dessa vez os conteúdos e nortes dessa proposta. É fato, porém, que antes dos portugueses; russos e franceses (e mais recente do que esses, os espanhóis) já apontavam outros rumos para a iniciação, especialização e treinamento de alto rendimento nos esportes coletivos (e aqui em especial, no futebol).

Os portugueses ganharam força na sustentação da sua teoria com a rápida ascensão do treinador José Mourinho. Não sei se Mourinho e pesquisadores portugueses estão falando a mesma língua, mas os ventos sopram que sim.

Infelizmente vejo muita distância entre o que se está propondo em Portugal (especialmente os “filhos” da Universidade do Porto) e o que realmente está acontecendo em Portugal; assim como vejo grande abismo entre os conceitos e construtos que nasceram de russos e franceses (e de alguns próprios portugueses que estudaram Jogo, Complexidade, Caos, Imprevisibilidade, etc) para a prática portuguesa.

Tenho a impressão, por vezes, que tem se buscado ser igual à Mourinho e não explorar a fundo no dia-a-dia dos campos as bases teóricas que são discutidas.

A ação de um treinador transcende o método (leiam a tese do Dr. Hermes Balbino: “Pedagogia do treinamento: método, procedimentos pedagógicos e as múltiplas competências do técnico nos jogos desportivos coletivos”), mas o método terá grande peso no alto nível competitivo quando as ações de diversos treinadores tiverem equivalência e fizerem com que suas equipes vençam.

Então, para avançar não se deveria buscar Mourinho, mas sim ir à frente com o método.

É ponto pacífico e muito claro que o treino técnico-tático tradicional não era, há décadas atrás, suficiente para garantir boa performance de jogo ao longo de 90 minutos (assim como nos moldes atuais também não é – e tenho muitas dúvidas se os “óculos portugueses” [e aqui excluo Mourinho] seriam; realmente creio que não!).

É ponto claro (e não tão pacífico) que dentre as decisões possíveis para se tentar compensar em “sobrecarga” a incapacidade do treino técnico-tático tradicional de gerar respostas “adaptativas” positivas e adequadas (me desculpem os biólogos), a escolhida não foi a melhor (criou-se em separado, o treino físico).

Há muito venho dizendo que não é possível separar o que é físico, do que é tático, do que é técnico, do que é mental no jogo de futebol. Sinto não saber como ser mais claro.

Tudo que vejo em um jogo carrega tudo (todas as variáveis, juntas e ao mesmo tempo).

Isso significa que o treinamento para preparação do jogador de futebol precisa sim contemplar a complexidade que é inerente ao jogo.

Com isso, não estou eu a defender a tal “Periodização Tática” portuguesa; não nos moldes que ela é proposta, porque vejo nela uma dificuldade dos seus “mentores” de levá-la a prática. E não é pela inconsistência da teoria, nada disso! Os construtos são em sua maioria muito fortes.

O fato é que não considero boa a “decodificação” que fazem do seu ótimo corpo teórico quando o levam para a prática. Então o problema não está na proposta em si (ainda que também tenha minhas considerações sobre isso), mas no como ela vem sendo construída na prática.

Não estou eu aqui também a defender o treinamento tradicional ou o treinamento físico fragmentado. Isso já deveria ter sido superado.

O fato de algumas frentes pelo mundo estarem tentando novas perspectivas para o treinamento do jogo de futebol, pautadas no mesmo pressuposto teórico, não quer dizer que tenham a mesma interpretação e formatação desse pressuposto.

Por enquanto, o que posso dizer é que estão enganados aqueles que entendem que um modelo de periodização, treinamento ou seja lá o que for, que estruture suas bases de forma a não separar o que é tático, técnico, físico e mental não pode sustentar o desempenho atlético de um jogador em jogo.

Estão enganados também os que vêm no “modelo português” (ou em um único português – Mourinho) a resposta pronta ou salvação do treino no futebol, assim como se enganam os que trazem como solução paralela o que é chamado de Modelo de Treinamento Integrado (que teve especialmente trabalhos e pesquisas russas, americanas e alemãs como fonte primeira de inspiração) através de uma falsa não-fragmentação do jogo de futebol.

O que proponho, senhores é outra coisa e posso desde já dizer que em breve publicarei resultados a respeito disso. Sem maniqueísmos lembro que os Modelos Tradicionais, de Blocos, Cargas Seletivas, Periodização Integrada, Periodização Tática, Periodização Composta, etc, precisam ser conhecidos para que suas idéias sejam discutidas e para que os porquês das coisas fiquem claros na opção por esta ou aquela conduta de trabalho.

O que precisamos buscar é uma “Periodização de Jogo®( Leitão 2009 no prelo)“que contemple realmente o jogo, em dinâmica e carga (cognitiva, fisiológica, física, etc) fractalmente.

Que fique claro: o mais importante não é o que é tático; o mais importante não é o que é físico, técnico ou mental.

O mais importante é o que é JOGO e ponto.

Se não entendermos a fundo o que é JOGO e não soubermos transferir aos campos aquilo que nossos construtos teóricos apontam, acabaremos acusando proposta, modelo e método de falhos, mas estaremos nos cegando para o problema real, que é a nossa incapacidade de levarmos à prática o nosso discurso.

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br

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