Enfim definiram as sedes para a Copa de 2014. Em menos de cinco anos, as cidades têm que se coçar para construir estádios, melhorar a infra-estrutura de acesso e de transporte, melhorar os aeroportos, melhorar a segurança, melhorar a segurança e tudo mais. O tempo urge. Tamanha é essa urgência que é difícil acreditar que as coisas prometidas vão ser realizadas. Os estádios certamente irão. De resto, possivelmente não. Em cinco anos, dá pra planejar e implementar um projeto de um trem bala que ligue dois pontos a 500 quilômetros de distância um do outro? Não faço idéia. Acho que quem anunciou o projeto também não.
De qualquer forma, é importante focar naquilo que vai ter que obrigatoriamente ficar de pé, os estádios.
Os projetos são sensacionais. Um mais bonito que o outro, principalmente com a lotação máxima, os fogos de artifícios, os papéis picados e tudo mais que apresentaram junto com as projeções das construções.
Aparentemente, entretanto, quem montou os projetos não conhece muito bem o mercado de futebol brasileiro, ou então não está preocupado com ele. Porque é fato que os projetos não são minimamente racionais.
Uma prova disso é que dos 12 estádios escolhidos, cinco mantêm o formato oval, e apenas um desses cinco tem uma pista atlética. Ser um estádio oval com uma pista atlética já é um desperdício. Ter um estádio oval sem pista atlética, então, beira a ignorância.
Para começar, nenhum estádio justifica uma pista atlética. É um baita desperdício de dinheiro. Fora um ou outro evento, que acontece uma ou outra vez por década, nenhum estádio lota por causa de atletismo. É uma triste verdade.
E não ter a pista é pior ainda. Isso é um certo padrão da arquitetura atual dos estádios brasileiros, e a Copa é a grande chance de mudar isso. Ao afastar o público do campo, você minimiza a atmosfera do jogo o que implica em uma grande perda de atratividade. Estádios com arquibancadas mais próximas do gramado atraem mais torcedores. Isso é fato comprovado. A diferença é algo em torno de 20%.
Além disso, a área que fica entre a arquibancada e o gramado não pode ser utilizada para nada. Uma das tendências de comercialização de estádios é maximizar a utilização do espaço que fica abaixo das arquibancadas. Os 10 ou
Mas isso, por si só, não demonstra a falta de compreensão do mercado de futebol do Brasil. O pior é o tamanho dos estádios. É óbvio que a estrutura montada será um exagero. É um exagero tão grande que chega a ser ridículo.
A média de lugares dos 12 estádios é de 58.400 lugares por estádio. A melhor média de público de um Campeonato Brasileiro foi em 1983, com 23.000 torcedores por jogo, o que corresponderia a uma taxa de ocupação de 39% dos novos estádios. A média histórica dos Campeonatos Brasileiros é de 14.300 torcedores, o que corresponde a uma taxa de ocupação de aproximadamente 25% dos novos estádios.
Ou seja, pra ficar bem claro, a capacidade média dos novos estádios é quatro, eu disse quatro vezes maior do que a média histórica de público no melhor campeonato do Brasil.
O Brasiliense, time mais bem colocado de Brasília, joga a Série B do Campeonato Brasileiro. Ele vai passar a jogar no novo estádio Mané Garrincha. A capacidade do novo Mané Garrincha será de 76.323 torcedores. A média de público do Brasiliense em 2008 foi de 3.018 pagantes por jogo, o que corresponderia a uma taxa de ocupação de 4%. Quatro por cento! Arredondando para cima!
É óbvio, portanto, que quem fez os projetos dos estádios para a Copa do Mundo não conhece o mercado de futebol do Brasil. Ou isso, ou está pouco se lixando com esse mercado. Ou então, os dois. Não faço idéia de qual seja a opção mais verdadeira. Quem anunciou o projeto, porém, deve saber.
Alguma coisa, pelo menos, tem que saber.
Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br