Pela primeira vez, pude conhecer o que pensa, realmente, o técnico mais badalado do momento. Em outras ocasiões, sempre aquele blábláblá enfadonho de repórteres esportivos em coletivas de imprensa pós-jogo, onde se pergunta o óbvio para obter o óbvio como resposta.
Mano discorreu a respeito do contexto do Corinthians, desde a sua chegada, e foi enfático ao falar de não ter gostado do que vira em termos de organização administrativa e como procedeu para modificar, positivamente, o quadro.
Ademais, afirmou que um dos componentes de sua carreira, agora vitoriosa, foi saber fazer a correta interpretação do que acontecia nas etapas da sua vida para tomar decisões estratégicas.
No início da década de 1980, Mano se esforçava para figurar no elenco de um clube de pouca expressão, no interior do Rio Grande do Sul. Já começava a titubear quanto à continuidade da carreira como jogador profissional por se achar medíocre. Foi ajudado a tomar a decisão de pendurar as chuteiras e empunhar a prancheta de técnico, quando ouviu um colega de clube, bradar orgulhoso que, após 10 anos como jogador, tudo o que tinha amealhado estava dentro de uma vistosa caminhonete.
Mano sabia que havia chegado ao seu nível de incompetência como jogador de futebol e decidiu terminar os estudos de Educação Física para perseguir outra carreira, na mesma área do esporte que amava, porém de forma mais promissora.
Sem saber, havia sido objeto daquilo que comprova o famoso Princípio de Peter na área de gestão.
O “Princípio de Peter” foi formulado, em finais de 1969, pelo Dr. Lawrence J. Peter, como chave para a compreensão dos sistemas hierárquicos (empresas, administração pública ou privada, partidos políticos, etc), e diz o seguinte:
“Numa administração estruturada hierarquicamente, as pessoas tendem a ser promovidas até ao seu nível de incompetência”.
Assim sendo, ao se considerar o princípio como válido, o processo de promoção dentro das organizações as transforma, no estágio final, em um conjunto de pessoas ocupando funções além de suas capacidades.
As pessoas evoluem e são promovidas quando demonstram capacidade superior à função que ocupam, até ficarem limitadas por uma função a partir da qual não conseguem mais progredir – atingem o limite de competência. Ou seja, ao final de sucessivas promoções por mérito, todos tendem a encontrar uma função na qual não conseguem mais se destacar.
O profissional terá atingido o seu nível de incompetência e estagnado. Como o rebaixamento ou “despromoção” não são habituais, as pessoas permanecem nessas posições, em prejuízo da organização a que pertencem.
Imaginemos isso num clube de futebol, ao se ter profissionais e cartolas medianos em seu desempenho, em cargos executivos. Todo o contexto da gestão fica a perigo. Em outras palavras, o triunfo dos incompetentes…
Dentro do alcance deste princípio, as perguntas tradicionais que os torcedores costumam fazer sobre quem administra seu clube do coração, por exemplo, “Como é que todo um bando de incompetentes consegue estar à frente do nosso clube?”, fazem sentido.
No Brasil, o título do livro de seu criador, L. J. Peter, é “Todo mundo é incompetente, inclusive você – as leis da incompetência”.
Pelo “inclusive você” acima, devemos tomar cuidado também, pois estamos todos sujeitos a ele.
Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br