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Em uma partida de futebol, uma equipe tem em média 90 sequências ofensivas a seu favor. Somando as sequências ofensivas de duas equipes, em um jogo, em média, existirão 180 sequências ofensivas (em algumas divisões e países a média é de 160 sequências).

Se levarmos em conta que historicamente em campeonatos brasileiros (e tantos outros pelo mundo), a média de gols por partida está abaixo de três gols (muitas vezes bem abaixo), poderemos inferir que, no jogo, em menos de 1,67% das vezes o sistema ofensivo de uma equipe sobressai efetivamente sobre o sistema defensivo da outra (que é o “gol”).

O êxito ou fracasso final de uma seqüência ofensiva concentra-se integralmente na ação da finalização. Podemos dizer que sendo a finalização dependente de inúmeros fatores (e que qualquer alteração em um desses fatores pode comprometer por completo a sequência ofensiva), ela apresenta padrões caóticos.

Muitos estudos têm mostrado em quê faixas de tempo há maior incidência de gols em jogos de diversos campeonatos pelo mundo. Apesar de algumas pequenas diferenças é comum a todos eles a constatação de que a maior parte dos gols em uma partida tem ocorrido no segundo tempo.

No entanto, estudos Brasil a fora, incluindo alguns desse que vos escreve, têm constatado na grande maioria das vezes que a maior parte das finalizações em um jogo ocorre no primeiro tempo da partida – apesar de grande parte dos gols ocorrer no 2º tempo (abaixo podemos ver a incidência de finalizações ao longo de jogos, nacionais e internacionais, escolhidos aleatoriamente – mais informações a esse respeito estão disponíveis também na dissertação de mestrado que defendi em 2004).

Muitas hipóteses e muitos palpites podem ser levantados a partir dessa constatação (de que o aproveitamento no 2º tempo do jogo é melhor do que no 1º). O fato é que o futebol é transdimensional e apontar esse ou aquele fator para explicar esse ou aquele acontecimento simplifica demais em relações de causa e efeito algo que não se estabelece assim – o jogo de futebol é complexo!

A questão é que, independentemente dos gols acontecerem mais no 1º ou no 2º tempo do jogo, eles são escassos no futebol. A defesa sobressai ao ataque, e muito!

Como já escrevi em outras oportunidades, quase todas as equipes de futebol vão para o jogo para não sofrer gols, e depois, também, para fazer gols. O pensamento, ou melhor, a intenção, devia ser sempre a de fazer gols, e ponto.

O objetivo máximo do jogo é fazer gols, e não, não sofrê-los; e isso é mais difícil de se entender e de se aceitar do que parece.

Como a intenção das equipes se choca com o objetivo máximo do jogo, o que temos é “o que temos”… pouquíssimos gols! Mas quando as equipes precisam se arriscar mais, por motivos diversos (necessidade de se arriscar que se expressa e se consolida muitas vezes no 2º tempo dos jogos, quando se está perdendo, quando se necessita de algum resultado específico, etc.), os gols também acontecem mais.

Isso quer dizer, em outras palavras, que a intenção coletiva da equipe faz com que ela se comporte de maneira diferente no jogo. Infelizmente, muitas vezes a intenção de treinadores e das equipes bate de frente com aquilo que o jogo necessita, e o pior, se dá pouca importância a isso.

A lógica do jogo (aquela que leva para a vitória) está aí e pode ser vista por quem quiser enxergá-la! Para uma equipe dominá-la, poucas coisas precisam mudar no nosso atual cenário paradigmático, mas essas poucas precisam mudar muito!!!

(…) “A inteligência segue o caminho inverso da ação. E é somente isso que a torna inteligência. Começando do ponto ao qual se deseja chegar, evita-se o comportamento errático e desordenado a que se dá o nome de tentativa e erro“. (RUBEM ALVES, “Filosofia da Ciência: introdução ao jogo e a suas regras”. São Paulo: Edições Loyola. 2008. p.36)

Para interagir com o autor: rodrigo@149.28.100.147  

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