Algumas ideias, conceitos ou crenças estão muito enraizadas no nosso “futebol brasileiro”.
Mas não é só no futebol.
Eu, que milito no campo e na Universidade, que ainda não cheguei aos 40 (anos de idade) e que joguei futebol apenas nas categorias de base, sei bem que muitos paradigmas embrulham muitas distintas e aparentemente distantes esferas e dimensões da vida.
Em uma das faculdades em que lecionei, por exemplo, não era incomum que um dos seguranças viesse me avisar que eu não podia estacionar o carro na área reservada aos professores. Quando eu dizia que era um dos professores, o sujeito olhava desconfiado até se convencer.
Na universidade ainda, quando disse que o meu “problema científico” era o de “vencer partidas de futebol”, logo recebi um aviso de um colega acadêmico que eu estava sendo contaminado pela “prática”.
Na “prática” (no meu trabalho como treinador), antes dos parabéns pelo resultado do final de semana, costumava ouvir na “rádio pião (ou será que era peão – não sei, mas pelo tanto de voltas que algumas notícias davam até se transformarem em absoluta inverdade, acho que eu prefiro “pião”), “Levou sorte; acha; jogou onde?”, ou “Estudar marca gol? Então, deu sorte de novo”.
Eu acho isso tudo muito divertido. Muito engraçado. Considero folclórico.
Muitos obstáculos e barreiras (e paradigmas!) não são privilégio do futebol.
Às vezes recebo alguns e-mails pedindo conselhos e sugestões para sobreviver nesse mundo (o mundo do futebol) que nos parece tão ímpar. Ele realmente é diferente, tem suas particularidades…
Mas quando se quer fazer diferença, quando se quer trabalhar em alto nível (e leia-se aqui não somente “alto nível competitivo”, mas também, e principalmente, trabalhar buscando a excelência), quando qualquer detalhe pode mudar totalmente o resultado final e quando o peso de cada decisão pode interferir totalmente no rumo das coisas, não importa se estamos falando de futebol ou de uma gigantesca multinacional: sempre existirão muros para serem contornados, transpostos ou derrubados.
Se ficarmos presos e concentrados nas dificuldades, jamais alcançaremos o resultado desejado! E não tenham dúvida de uma coisa: o que incomoda e atrapalha demais algumas pessoas, serve de motivação, e/ou nem causa qualquer desequilíbrio em outras. Enquanto alguns choram e não se mexem, outros acreditam intensamente que não há tempo para esse tipo de coisa, por que senão a jornada fica atrasada.
Se você é “jovem demais” mostre a força da sua juventude, apresente novas ideias, transforme-as em resultados! Cada vez mais excelentes jovens profissionais têm se destacado em suas áreas (negócios, televisão, esporte, etc.) – o mundo do futebol está atento a isso! E lembre-se: um dia vão dizer que você está “velho demais”, e aí os problemas serão outros.
Se você é “inexperiente demais”, mostre e convença as pessoas, enquanto adquire experiência, o quanto seu investimento em conhecimento pode ser vantajoso para vencer. Aprenda com os mais experientes e corra muito, porque muitos outros já estão correndo há muito tempo tentando conquistar um espaço, assim como você.
Recentemente, o agora piloto de Fórmula 1, Bruno Senna, em entrevista à revista Veja, disse algo que me chamou a atenção, e que sintetiza em parte o que estou escrevendo hoje. É o trecho de uma resposta, para uma pergunta do veículo, que tentava saber se ele, Bruno Senna, achava lícito uma equipe de Fórmula 1 ordenar a um piloto dar passagem a seu companheiro de equipe durante uma corrida:
“A equipe tem o direito de ajudar o piloto que está em melhor posição. Se você está na frente no campeonato, com chance de ganhar, e o outro piloto da equipe está atrapalhando, acho natural que ele ceda. Quem não quer ficar nessa posição não se coloque nela. Se você está tomando pau, vai ficar para trás e a equipe vai priorizar o outro. É assim que funciona: quem tem melhor desempenho tem prioridade. Esporte é assim, é uma coisa predatória. O mundo é assim”. (Bruno Senna)
Quem não quer ficar nessa posição não se coloque nela!
Reparem, não há lamentações, discordâncias, ou foco no problema. É a resposta, a solução e a compreensão da realidade que importam.
Claro, isso não significa, e nem estou tentando dizer isso, que se o mundo é predatório, então os fins justificam os meios.
Claro que não.
E é aí que está o segredo das coisas, afinal, nunca é demais lembrar aos maquiavélicos de plantão e aos fãs da obra “O Príncipe”, que o próprio Nicolau Maquiavel morreu despojado de todos os seus cargos, pobre e chorado por poucos amigos…
Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br