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O caso é o extremo a que se pode chegar, mas é também emblemático para se pensar um pouco mais sobre a tal “interatividade” que tomou conta da mídia desde que se revolucionou a relação das pessoas com os meios de comunicação.

O tiro dado por um torcedor mexicano na cabeça do meia Cabañas, aparentemente por um desentendimento pela performance do paraguaio dentro de campo, revela um pouco mais sobre a relação cada vez mais bélica entre as pessoas. E que, cada vez mais, se expressa nas ferramentas de interatividade que são liberadas para o torcedor na mídia em geral.

Não, longe de ser contra essa possibilidade de dar “voz” ao consumidor da mídia. Pelo contrário. É fundamental para o desenvolvimento da mídia nos dias atuais colocar o seu cliente na condição de gerador do próprio conteúdo.

Só que a pergunta que não se cala, ainda mais quando acontecem casos como o de Cabañas, é uma só: o consumidor está preparado para essa interatividade?

À exceção de alguns fóruns específicos, geralmente o que se vê por aí é uma agressão aparentemente sem fim de quem tem direito a opinar sobre um determinado assunto. O colunista não falou o que se esperava? É porque ele conspira contra o seu time. O tema não lhe diz respeito? É porque o autor é um “chato”, “vendido”, “desinformado”, e por aí vai…

O pior é que essa agressividade do torcedor, aparentemente, não tem se resumido a veículos em que ele pode se “esconder” sob o anonimato, com pseudônimos, e-mails falsos e afins.

O que era para ser a era em que as pessoas teriam um acesso muito maior ao debate, à troca de ideias, à democratização no consumo da informação tem, infelizmente, revelado o lado mais triste de toda essa história.

E o caso de Cabañas é uma espécie de personificação disso. Em vez de argumentar, de tentar entender a mensagem, de tolerar aquele que erra, ou que simplesmente pensa diferente de você, o torcedor toma a via da agressão. Não tolera o erro, o diferente, o que lhe decepciona.

Não é preciso dar um tiro na cabeça de alguém para que ocorra um crime. É hora de começar a se pensar, mundialmente, numa forma de criminalizar a agressão, a injúria, a difamação e qualquer coisa do gênero também nos fóruns de discussão via web. Só assim, provavelmente, para que as pessoas tenham mais coerência na hora de opinar.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

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