Quase sempre, nas escolas de jornalismo espalhadas por aí, se discute o papel da grande mídia no exercício da profissão de jornalista. Muitos professores adoram dizer que a grande mídia é, na realidade, um grande manipulador da informação em prol de seus objetivos empresariais.
O final de semana esportivo no Brasil revelou a essência dessa discussão acadêmica. Afinal, o objetivo primordial de uma empresa de mídia é informar ou lucrar?
Nas cadeiras acadêmicas, a discussão fica centrada no jornalismo. Aquele da essência, da verdade, do compromisso com a informação. Aposto que, se fosse num curso de administração, muito provavelmente o jornalismo fosse o de menos.
Domingo foi um dia tão cheio de novidades do esporte no Brasil que era quase impossível não comentar sobre tudo o que aconteceu pelo país. No carro-chefe do futebol, clássicos estaduais com grandes resultados já complicaram a diagramação das páginas, o tempo dos noticiários na TV ou as chamadas para as capas dos sites.
Mas a grande reviravolta dos padrões morais para a condução do jornalismo foi nas rádios e, especialmente, na televisão. E o “detonador” desse processo foi o automobilismo.
O final de semana foi marcado pela realização, em São Paulo, da primeira etapa brasileira da Fórmula Indy após mais de uma década. Ao mesmo tempo em que os carros corriam na pista de rua montada na região do sambódromo do Anhembi, lá longe, no Bahrein, a Fórmula 1 dava a sua largada para a temporada, tendo diversas novidades, entre elas a volta de Michael Schumacher, o maior vencedor da categoria.
O que acontece é que a Fórmula Indy é um evento transmitido pelo grupo Bandeirantes, enquanto que a Fórmula 1 tem a Rede Globo como sua grande parceira. E, para desespero dos puritanos do jornalismo, as duas emissoras ignoraram solenemente o evento de sua concorrente.
A Band não falou de Fórmula 1, mesmo tendo os direitos de transmissão, na rádio, das provas da categoria máxima do automobilismo. A Globo mandou apenas uma equipe para a cobertura da Indy em São Paulo, algo totalmente fora dos padrões da emissora para um evento de grande porte que acontece no país. Mas, também, com a clara tarefa de ficar de sobreaviso para produzir material principalmente no caso de um terrível acidente acontecer.
Jornalisticamente, foi ridículo o tratamento dado pelas duas emissoras aos eventos que “concorriam” com aquele que fazia parte de suas grades de programação. Não tem sentido ignorar uma prova da Indy em São Paulo ou a estreia da Fórmula 1 mais imprevisível dos últimos anos. Além disso, a tentativa de repórteres e narradores de promover demais o seu evento, em detrimento do que de fato acontecia, revela outro lado obscuro do negócio.
O que nunca se discute nas cadeiras do jornalismo, é que uma empresa precisa dar lucro para continuar a existir. Seja ela uma fábrica de chocolates ou um veículo de imprensa. Nessa busca pelo lucro, o produto “esporte” traz um alto valor agregado. Aumento de audiência, obtenção de patrocinadores e, no caso da Indy, organização de um evento.
Tudo isso leva o jornalismo para um segundo plano. Informar, para uma empresa de mídia, é menos importante do que lucrar. Até o momento em que todas perceberem que a essência do seu negócio é a informação.
O lucro? Ele é mera consequência da informação bem transmitida ao consumidor.
Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br