Estamos no meio de um processo eleitoral no Brasil.
As chamadas eleições majoritárias vão indicar quem serão o Presidente da República, os governadores e senadores dos Estados e os deputados federais e estaduais.
Vivemos num país que, apesar de todas as dificuldades sociais e econômicas, tem consolidado a democracia como regime político.
A democracia, cabe resgatar, diz respeito ao governo que emana do povo e que por ele será exercido, por meio de representantes diretos ou indiretos.
O futebol, por sua vez, é tido como o esporte mais democrático do mundo, dada sua difusão e facilidade de prática, por inúmeras razões. Não se exige dinheiro, status privilegiado, grande infraestrutura esportiva para desfrutar desse esporte em qualquer canto do planeta.
Quando remetemos a discussão e aproximação entre futebol, eleições e democracia, talvez a primeira lembrança diga respeito à Democracia Corintiana.
Democracia Corintiana foi o histórico movimento ocorrido em 1982 no Corinthians liderado por jogadores politizados como Sócrates, Zenon, Vladimir e Casagrande.
Em meio a uma transição de mandato, os novos diretores primavam por ouvir os jogadores e o que pleiteavam sobre a gestão do clube para se tornar mais eficiente.
Com isso, quase todos os temas do dia-a-dia do elenco eram deliberados e decididos pelo voto – jogadores, comissão técnica e diretoria. Concentração, contratações, bichos e salários.
Não havia peso diferente nos votos. Todos eram iguais. Democracia direta e pura, ao contrário do pano de fundo histórico do Brasil, que passava pela chamada Redemocratização e o primeiro movimento era a luta pelas Diretas-Já (substituir a indicação de políticos, por militares, por eleições diretas).
O resultado prático no clube paulista foi o bicampeonato paulista e a chegada às semi-finais do Brasileirão, além de sanear dívidas do caixa.
Em outra coluna, já havia mencionado sobre minha experiência para acompanhar de perto as eleições do Real Madrid em 2006. Mas isso se refere à parte da democracia de ser votado.
Quero destacar a aqui a importância e o direito de votar nas eleições de um clube de futebol.
Temos acompanhado um processo muito contundente de conquista e transformação dos torcedores em sócios-torcedores, uma vez que isso gera receita frequente e previsível aos cofres dos clubes.
Em muitos casos, depois de cumpridos requisitos estatutários, adquire-se o direito de votar e ser votado. E dependendo do clube, as eleições são diretas – vota-se no candidato – ou indiretas – vota-se num colegiado que elege os mandatários.
Independentemente destas nuances, uma vez que o torcedor adquira este status de sócio, é salutar para a evolução da instituição sua participação ativa no processo eleitoral.
Diga-se isso por, em alguns casos, não só no Brasil, como sei de casos na Argentina, nem todos os que têm direito a voto o fazem efetivamente. Ou por preguiça, alienação ou por que o processo eleitoral não facilita.
Nesse ponto, os clubes brasileiros podem aperfeiçoar o processo eleitoral, estruturando e estimulando os sócios para votações em consulados e filiais; pelo correio e até pela internet (com a devida certificação de segurança exigida).
O Partido Democrata dos EUA já o faz em suas eleições prévias para indicação dos candidatos. Os filiados das Ilhas Virgens Americanas podem votar por internet. Existe até o site Democrats Abroad.
E mais: podem doar pela internet. Porque, quanto mais me sinto parte desse ambiente, mais quero contribuir com seu crescimento. Com voto e, why not?, com doações. Vide o fenômeno que elegeu Barack Obama.
No caso dos clubes de futebol, isso se daria com voto e com mais sócios na base, pagando mensalidade, ainda que longe fisicamente, pois o sentido de pertencer à instituição não tem limite geográfico.
Como cidadãos brasileiros, estamos (mal) acostumados a reclamar dos políticos. Mas somos preguiçosos para entender de política. Devemos votar, mas também ser votados, participando da política, e também fiscalizando as gestões.
O resultado prático, se não há envolvimento popular, é o déficit de cidadania que ainda vigora por todo Brasil.
Como diz um grande amigo meu, quem não gosta de política, será governado, do mesmo jeito, por quem gosta.
Ah, e como tem gente que gosta. Já demonstrava o ilustre deputado Justo Veríssimo:
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