Há algum tempo me recomendaram um livro que falava sobre o “Cirque Du Soleil” (Bacon, J. U. Cirque Du Soleil: a reinvenção do espetáculo. 8. Ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006) como uma ótima leitura para entender e discutir um pouco mais as questões de marketing e gestão de uma forma prática, a partir de um estudo de caso.
O fiz na semana passada e, de forma natural, vim refletindo os seus ensinamentos para a sua reprodução no ambiente do futebol. Dentro de todo o contexto de espetáculo, característico do circo e que também faz parte da indústria do futebol, duas coisas me chamaram a atenção.
Primeiro foi o fato de este circo ter conseguido apresentar uma linguagem e expressão totalmente diferente dos demais circos. Fiz, inclusive, um exercício em sala de aula e os alunos remeteram palavras como “pipoca”, “elefante”, “palhaço”, “ciganos” para o circo comum, enquanto que “excelência”, “beleza”, “espetáculo”, “rico” vieram à cabeça deles quando falado no nome “Cirque Du Soleil”.
Cabe ressaltar que nenhum deles assistiu “ao vivo” sequer uma vez a apresentação do circo, apenas de acompanhar pela TV em reportagens ou mídias do gênero. Isso nos remete a pensar a forma que comunicamos nossos negócios e a percepção que queremos oferecer para os consumidores/clientes sobre nossos produtos e serviços.
O segundo aspecto tem a ver diretamente com a questão dos recursos humanos e ligação com o título desta coluna: “a criatividade”. Ali esteve descrito ao longo de todo o livro como é trabalhado o estímulo para que os artistas tenham liberdade para criar e inovar.
Neste contexto, o ambiente, as pessoas e os desafios foram os elementos-chave de estímulo à criatividade apontados ao longo do livro. Remetendo ao futebol, o ambiente seria o local de trabalho (centro de treinamento), em que o atleta se preocupe unicamente em praticar a modalidade, discutir com os companheiros as melhores jogadas; em que o treinador e sua comissão possam se concentrar e criar as principais jogadas para neutralizar o adversário – sem querer saber se o ônibus vai quebrar no meio do caminho ou se haverá campo para treinar ao longo da semana.
Sobre as pessoas, nos referimos ao estímulo do trabalho em equipe, percebendo que cada setor do clube funciona como o “dente de uma engrenagem” e todos devem estar engajados em um único fim, proporcionando tranquilidade para aqueles que devem criar. E os desafios, cujo contexto tem relação com a natureza humana, no qual somos movidos para a busca de coisas novas e, nesta busca, devemos criar como uma ferramenta de superação aos próprios anseios.
Em síntese é isso. Vivenciamos um mundo de constantes mudanças em que as empresas que dominam o mercado têm como característica-chave a inovação. Para que a inovação chegue ao ambiente de trabalho, é preciso estimulá-la e tal premissa não pode ser diferente no contexto do futebol.
Em alguma medida, tais elementos explicam porque alguns clubes são enormes, ou crescem vertiginosamente no mercado do futebol. E outros, que o negligenciam, perdem espaço, valor de marca e qualidade de trabalho, como um processo natural de competitividade mercadológica.
Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br