“Ganância é bom”, dizia Gordon Gekko, o personagem de Michael Douglas no filme Wall Street – Poder e Cobiça, dirigido por Oliver Stone na década de 1980.
“Ela clarifica e captura a essência do espírito evolutivo”, dizia o megainvestidor para o pupilo interpretado por Charlie Sheen.
O enredo do filme, que se tornou cult entre os que orbitavam nas bolsas de valores, corretoras e afins pelo mundo todo, tornava evidente a avidez por dinheiro rápido e um estilo de vida agressivo – na linha de sexo, drogas, rock and roll e pregões.
Nesta semana, pude acompanhar duas coisas muito interessantes ligadas à gestão e às finanças de clubes de futebol.
Na primeira, o programa Arena Sportv debatia, entre jornalistas e alguns dirigentes, os números do balanço dos principais clubes a partir do estudo da Crowe Horwath Auditores.
Sem entrar nos detalhes, percebe-se que o faturamento global aumentou bastante nos últimos anos, assim como as dívidas permaneceram estabilizadas e ou aumentaram em alguns casos.
Patrocínios, licenciamentos, venda de jogadores, até bilheteria, puxam o cenário favorável. Resta deixar o balanço no verde. Aliás, apenas três dos clubes abordados apresentaram superávit.
Na segunda, li a interessante reportagem da Fut Lance, sobre o Lyon, clube francês que, em 10 anos, foi alçado ao patamar dos principais clubes da Europa.
Um clube que nunca havia faturado nenhum título e passou a enfileirar sete ligas nacionais e figurar nas fases finais da Uefa Champions League.
A reviravolta se deu a partir de 1987, quando Jean Michel Aulas assumiu o clube, que dispunha de um orçamento de três milhões de dólares anuais.
E o presidente reconheceu que o sucesso havia sido alavancado pelo fato de o clube se tornar especialista no mercado de transferências de jogadores, tal qual na bolsa: comprar na baixa, vender na alta e, se possível, antes dos competidores, amparado em muita informação. E quanto mais dinheiro, mais títulos o Lyon ganharia, segundo ele.
Gekko, numa das cenas, fala a seu pupilo coisas pessoais sobre o jovem que o surpreendem na hora. E Gekko emenda: “Para mim, informação é a commodity mais valiosa”.
São estas as principais leis de Aulas na sua receita de sucesso:
1. Novos técnicos desperdiçam dinheiro com transferências. Corte as asinhas deles.
2. Astros de Copa do Mundo ou da Libertadores estão sobrevalorizados. Ignore-os.
3. Jogadores mais velhos são mais caros. Peça descontos ou, melhor, evite-os.
4. O melhor momento para comprar um jogador é quando ele tem 20 e poucos anos.
5. Venda qualquer jogador quando outro clube oferecer mais que ele vale.
6. Substitua seus melhores jogadores antes mesmo de vendê-los.
7. Ajude seus jogadores a se adaptarem.
A revista ainda tece o comentário que “costumamos achar um time lucrativo meio sem graça”, como torcedores, associando futebol e dinheiro a um tabu.
Jean Michel Aulas é o Gordon Gekko do futebol mundial.
E olha que ele nunca foi o típico cartola de futebol, tido no Brasil como alguém que se diz apaixonado pelo clube e faz tudo por amor e voluntarismo, como se a irracionalidade fosse determinar o êxito ou o fracasso na gestão.
Na juventude, ele jogava handebol.
E ainda não vi o novo filme Wall Street, cujo subtítulo é bem provocante: O dinheiro nunca dorme.
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