O Brasil precisa se acostumar mais a discutir os temas que lhe são caros.
Também aqueles assuntos que não são tão fáceis.
Não apenas aceitar ou negar aquilo que acontece ao nosso redor.
A inquietação aguça a criatividade e, como consequência, a evolução das coisas.
À exceção das histórias de alguns poucos ídolos da vez dentro das quatro linhas, contadas por programas de televisão com todas as tintas dramáticas do menino que virou homem e atinge o estrelato, fama, dinheiro e cia., o futebol brasileiro não sabe debater o verdadeiro potencial de transformação social que esse esporte pode ter.
Ou não quer tratar do assunto.
Aliás, no mundo, fala-se pouco a respeito. Faz-se menos ainda.
Mesmo assim, muito à frente do Brasil.
Esse elefante branco na sala do futebol mundial deve ser enxergado sem constrangimento.
Mais ainda em tempos de Copa do Mundo 2014 e o incessantemente invocado legado que o evento deixará ao país.
Ao contrário, aproveitar a energia positiva do esporte e fazer com que sua disseminação organizada se constitua num legado social permanente.
Na Europa e nos EUA – pelo menos até onde chego com minhas investigações – os clubes, as ligas e as associações nacionais constituem institutos, fundações, ou até mesmo programas permanentes que integram a sociedade ao futebol, ou levam o futebol onde a sociedade está (normalmente em situações desfavorecidas).
Fifa e ONU, cada uma a sua maneira, têm em seus quadros mandatários designados para cuidar da responsabilidade social corporativa no esporte.
A Unicef inclusive possui acordos com clubes de futebol, dentre os quais o Flamengo no Brasil.
É pouco. É quase nada de efetiva mobilização e engajamento da cadeia.
Basta que se visite os sites oficiais de Uefa, Premier League, Federação Irlandesa de Futebol, Chelsea, Arsenal, Liverpool, Manchester United e City, Tottenham, Real Madrid, Barcelona, Milan, Bundesliga, Bayern Munich, Major League Soccer, para se constatar a diferença de tratamento ao tema e os programas – mais do que ações – que são executados.
Até mesmo Boca Juniors e River Plate, para invocar a comparação aos latinoamericanos, têm atuação contundente.
E no Brasil? Internacional, Grêmio e Vasco têm atuação organizada e louvável.
Ok, falta dinheiro e não é a atividade principal.
Ok. E qual ONG tem a capacidade de mobilização que os clubes de futebol têm em suas comunidades?
Belíssimas e organizadas iniciativas vemos na Fundação Gol de Letra, Fundação Cafu, Instituto Bola pra Frente, Instituto Deco, Instituto Paulo André, Atletas pela Cidadania, Instituto Bom de Bola.
O primeiro passo para mudar esse cenário e, sim, copiar o que é feito lá fora, nesse caso, é começar a falar sobre o elefante na sala.
Incluir na pauta de eventos do terceiro setor e até do poder público.
Bom, antes disso, deve-se querer enxergar o elefante na sala.
Empurrar pra baixo do tapete não dá, é muito grande…
Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br