O futebol, no Brasil, surgiu com o futebol de várzea, quando os campos ainda não eram regulamentados nem tinham algumas regras, como escanteio ou tiro de meta. Jogado geralmente em terra batida, eles se localizavam às margens do rio Tietê, por isso campo de várzea.
Foi a origem de muitos clubes famosos hoje e, é importante para a história e para a essência do futebol atual, saber do passado do futebol brasileiro e manter suas peculiaridades.
Hoje, o campo de terra batida está sendo extinto e substituído pelo futebol society e por gramas sintéticas. Não sou contra este tipo de equipamento, mas é legal manter um pouco da história, um pouco de tradição.
Quase todos os campos pensam em desenvolvimento tentando buscar esse futebol mais industrializado. Os campos de grama artificial, padronizados, tiram um pouco o espírito de raça e determinação que formam o caráter de muitos jogadores de periferia – local onde hoje está a maioria dos campos de terra.
O futebol de várzea é repleto de particularidades, de identidade, originalidade e cada um da sua forma, conforme seu terreno, suas condições financeiras e conforme a personalidade do time que joga ali.
Podemos imaginar vários tipos de bolas, marcações, campos, uniformes (com camisa e sem camisa, por exemplo), traves.
Surgiu disso, por exemplo, o Estrelas da Várzea, um estudo que busca ver formas engraçadas e particulares desses campos, com formatos extremamente fora dos padrões e medidas convencionais (retângulos de 90m-120m por 45m-90m), projeto do jornalista José Ricardo Yoshiga Souza.
Acima, campo no bairro Capão Redondo, em São Paulo, onde o sentido do campo, além de ter medidas bem menores, ainda tem o sentido do retângulo invertido, com as traves dispostas nas laterais maiores. Abaixo, campo no encontro da avenida Radial Leste com a avenida Aricanduva, onde um dos escanteios é modificado por conta da via existente.
Sempre considerei fundamental registrar e levantar dados de como era a estrutura do futebol antigamente e não somente falar sobre os estádios contemporâneos e mega arenas tecnológicas.
São estudos como este que me alimentam a vontade de iniciar uma pesquisa mais a fundo a respeito da história e das relações desse futebol com a formação do brasileiro e com influências sociais.
O projeto Estrelas da Várzea tem página no Facebook, no qual cada um pode indicar campos com formas e soluções bizarras e inusitadas. Visite a galeria.
Para interagir com o autor: lilian@universidadedofutebol.com.br