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Poucos são os bons exemplos de gestão no futebol brasileiro. Como constatação, os inúmeros clubes em pré-temporada para os campeonatos estaduais que têm realizado pelo menos quinze contratações (em alguns casos contrata-se o elenco completo) para iniciarem os trabalhos, já ilustram o quanto somos ineficientes em princípios básicos da gestão empresarial.

Sendo assim, quando cases de sucesso surgem no mercado precisam ser estudados, compreendidos e divulgados a fim de que sirvam como referência para trabalhos que tenham objetivos semelhantes.

No Footecon 2012, Mário André Mazzuco, gerente de futebol do Coritiba Foot Ball Club, foi palestrante do tema "Modelo de gestão das categorias de base" e discorreu com propriedade sobre os elementos que compõem a gestão do futebol de formação do clube em que trabalha. Tais elementos serão discutidos na coluna desta semana.

Mazzuco iniciou a apresentação afirmando que um dos objetivos da gestão das categorias de base do clube é torná-la parte da macrogestão de todo o futebol do clube. Desta forma, o gerenciamento da base não ocorre de maneira dissociada do futebol profissional. Questão aparentemente simples, porém, a realidade nos clubes brasileiros aponta para um abismo significativo entre base e profissional, permitido por falhas gerenciais.

A missão e visão do clube, que assim como qualquer empresa devem ter as suas (e tal fato é ignorado por muitos de nossos gestores), são as seguintes:

Missão: Jogar um futebol competitivo, garantindo entretenimento e potencializando o orgulho e o amor de todo coxa-branca.

Visão: Ser um clube vencedor, reconhecido como força esportiva e referência de gestão. Neste cenário, é papel da gestão controlar o processo produtivo num ciclo que compreende as pessoas, as equipes, os problemas/soluções, os controles, os procedimentos e os resultados.

No tocante à equipe técnica, doze áreas multidisciplinares assessoram todos os atletas envolvidos no processo de formação. São elas: Psicologia, Assistência Social, Nutrição, Fisiologia, Musculação, Pedagogia, Captação e Seleção, Fisioterapia, Medicina, Observação Técnica, Scout e Escola-Coxa.

No projeto de formação, que se inicia no sub-11 e tem como um dos objetivos promover os jogadores formados à equipe principal, ou então, negociá-los, os conceitos que norteiam cada uma das seguintes categorias seguem abaixo:

Sub-11 e sub-13: Interação do atleta e início da formação geral;
Sub 15: Aprendizagem e preparação para carreira;
Sub-17: Correção e preparação profissional;
Sub-18 e sub-20: Aprimoramento, manutenção e adaptação ao profissional;
Profissional: Aprimoramento e alto rendimento.

Atualmente, a equipe paranaense conta com 57 funcionários e 170 atletas registrados. Destes, 75 são profissionalizados, 27 estão no departamento profissional e três atletas que foram formados na base são titulares na equipe principal.

Todos os jogadores são acompanhados no banco de dados do clube, que realiza uma avaliação de diferentes competências trimestralmente, onde cada atleta é avaliado e classificado num score que varia entre 1 e 5. Tal avaliação é denominada Radar Coritiba e é uma excelente ferramenta para acompanhar o desenvolvimento do jogador. Na palestra, Mazzuco afirmou que tal ferramenta foi embasada na avaliação do atleta realizada no Inter-RS e criada por Medina no início da década passada, na ocasião, coordenador do clube gaúcho.

Como parte da infraestrutura, o clube possui um CT com cinco campos de treinamento e tem como planejamento o desenvolvimento de um CT integrado para base e profissional. Sem dúvida, será mais um passo à frente da grande maioria dos clubes brasileiros.

Em um amplo processo de captação, os atletas chegam ao clube por meio de observações em Curitiba e região, observações da Escola-Coxa (são 32 no Brasil e um nos EUA), do futsal, através da captação de clubes formadores, visitas técnicas realizadas pelo departamento de captação e parcerias com clubes e empresários. Com esta rede de contatos, 2.000 atletas pré-selecionados são avaliados por ano no clube.

Caso o jogador captado não seja munícipe, ocupará uma das 52 vagas do alojamento. E é no alojamento que inicia a busca por um sonho. Nas portas dos quartos, fotos de ídolos do Coxa estão estampadas e na última delas (também a mais recente) a foto é a do volante William, formado nas categorias de base, com 23 anos e mais de 100 jogos pelo Coritiba. A frase pronunciada nos corredores do clube e que instiga os jovens sonhadores é: quem será o substituto de William na última porta?

Para dar sustentabilidade ao projeto, no departamento de observação, o Projeto Sombra aponta as formações de todas as categorias indicando onde estão as principais carências.

Mário Mazzuco encerrou a apresentação apontando os objetivos do trabalho na atual temporada. Além dos que foram indicados no início da coluna, o clube visa a disputa de todos os títulos regionais e o fornecimento de atletas à seleção brasileira.

Detalhes técnicos do trabalho de formação não foram apresentados até porque este não era o tema da palestra. Porém, com este modelo de gerenciamento, se o trabalho de campo estiver sendo adequadamente realizado, sem dúvida, em poucos anos o Coritiba irá colher os frutos do investimento na formação.

E, para concluir, destaco a preocupação do processo de formação feito no clube paranaense que além de preparar o futuro do jogador, prepara também o do não jogador, pois sabemos que um grande percentual de atletas submetidos à formação esportiva não chega ao profissional devido ao estreitamento natural da pirâmide.

Formar o homem e não só o esportista é demasiado utópico e desnecessário para quem ainda acredita que jogamos o melhor futebol do mundo. Parabéns ao Coxa!

Para interagir com o autor: eduardo@universidadedofutebol.com.br

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