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Pode parecer paradoxal, mas poucas coisas são mais importantes na comunicação do que o silêncio. Saber quando falar e saber o que falar são coisas que dependem essencialmente dos intervalos. O problema é que a ausência de som tem se tornado cada vez mais rara.

Uma das explicações para isso é a característica da atual sociedade. O advento das redes sociais consolidou um perfil de pessoas que são suas próprias mídias. Todo mundo sempre quis falar e ser ouvido, mas a tecnologia encurtou o caminho para isso.

As redes sociais foram constituídas com a ideia de reproduzir interações reais, ainda que exageradas ou baseadas em personagens falsos. Todo mundo é bonito, inteligente e tem uma vida emocionante na internet – o que, aliás, não é muito diferente do que acontece em um bar ou na pista de uma casa noturna.

A grande diferença entre a internet e o mundo real é o tempo de reação. O comentarista raivoso de um blog ou de um texto talvez fosse amainado se recebesse uma resposta imediata e convincente.

"O que possibilita ou impossibilita a comunicação é, em última instância, o silêncio", escreveu Eduardo Cañizal, pesquisador focado em linguagem não verbal.

Não por acaso, estudos sobre comunicação dão atenção destacada ao silêncio. Até psicanalistas freudianos, que baseiam o tratamento na palavra, valorizam os efeitos promovidos pelos intervalos.

Entender isso é fundamental para qualquer plano de comunicação, e o esporte não é diferente. Ainda assim, há poucos estudos sobre o uso do silêncio nessa seara. E o problema é que, para variar, a ausência de base teórica promove um festival de empirismo, o que aumenta consideravelmente a margem de erro.

Foi o que aconteceu, por exemplo, com o Atlético-PR. O time rubro-negro decidiu valorizar o site oficial. Para isso, limitou drasticamente o acesso da imprensa durante a disputa do Estadual de 2013.

José Roberto Guimarães, técnico do Amil/Campinas e da seleção brasileira de vôlei feminino, causou polêmica semelhante ao reclamar dos microfones durante um jogo da Superliga. Ele pediu que os artefatos fossem retirados e que a transmissão respeitasse a liberdade do trabalho do treinador.

Nos dois casos, porém, faltou colocar as coisas em perspectiva. É válido que o Atlético-PR tente valorizar o site oficial, mas restringir o acesso da imprensa pode diminuir o impacto – e a relevância, por consequência – das notícias relacionadas ao clube. Zé Roberto, por sua vez, tem de entender que as informações e o áudio são diferenciais fundamentais para a TV, que é parceira e parte fundamental para a existência da Superliga.

Blindagem e restrição à informação são fundamentais para planejar o silêncio, mas levar isso ao extremo pode jogar contra. O esporte, assim como outras searas, precisa entender que o silêncio exagerado pode minar o interesse.

Porque restringir, na comunicação ou na vida, é quase sempre a saída mais fácil. A mais eficiente, porém, é mudar a cultura. Nenhuma lei é tão útil quanto ensinar ao público a importância de determinado comportamento.

Um exemplo contrário foi dado pelo Paris Saint-Germain. O time da capital francesa contratou o astro inglês David Beckham, e uma entrevista coletiva foi agendada para oficializar o acordo com o meio-campista. O evento foi sóbrio e minimalista, mas teve transmissão global pelo site oficial da equipe.

Com um assunto relevante e um serviço de qualidade, o PSG conseguiu turbinar de forma consistente o número de acessos da página do clube. E se a diretoria conseguir aliar isso a uma boa estratégia de produção e distribuição, é possível que o interesse se transforme em receita.

Hoje em dia, são poucos os sites ou veículos de mídia que conseguem vender publicidade e viver disso. Essa regra também vale para plataformas oficiais de clubes ou entidades de futebol.

A dificuldade de vender publicidade, contudo, não se deve à ausência de público. Sites de clubes têm alto contingente de acessos, mas não vendem por terem pouca relevância. E o caminho para a relevância não pode exigir restrição a outros conteúdos.

O caminho para a relevância, como ensinou o caso do PSG, é a oferta de serviços. O que pode intensificar a relação do público com uma página oficial é entender quais são as necessidades dessas pessoas.

É por isso que os sites oficiais de clubes e entidades esportivas em outros países investem cada vez mais em opções variadas. As páginas apresentam estatísticas, produtos, ingressos, planos de sócios e notícias. Conteúdo deve ser visto assim, como um aspecto em um pacote.

Há um aspecto de formação cultural aqui: um bebê que chora é normalmente associado a um problema. Ele reclama por ter fome, sono ou carência, por exemplo. É o tal do "Quem não chora não mama", que se torna uma regra tácita com o passar dos anos.

Bombardear as pessoas de informações pode diminuir a relevância do que é dito. Limitar totalmente o acesso também é um caminho complicado. A distância entre os dois casos, que o futebol ainda precisa aprimorar, é percorrida com pesquisa e planejamento.

Para interagir com o autor: guilherme.costa@universidadedofutebol.com.br

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