Muitos são os atletas de futebol que passam por situações desconfortáveis com lesões graves ao longo de suas carreiras, temos exemplos de superação e também exemplos de encerramento da carreira esportiva por causa destas graves lesões.
Será que muitos atletas e profissionais envolvidos no futebol conhecem os impactos e reações psicológicas que se apresentam após a instalação de uma lesão. Mas, então, uma vez não conhecendo estas reações como então passar a conhecê-las?
Um dos modelos mais aceitos que explicam como um atleta reage a uma lesão é o modelo de grief reaction, proposto por Kubler-Ross (1969), no qual o atleta após constatada a lesão passa por cinco estágios emocionais:
1. Negação, o atleta não acredita que a lesão possa ter acontecido com ele e tende a negar-lhe a devida importância.
2. Raiva, o atleta pode tornar-se agressivo com as pessoas a sua volta.
3. Barganha ou negociação, o atleta tende a negociar consigo mesmo na tentativa de se recuperar mais rápido; passando a racionar, pensar e propor soluções na tentativa de evitar a realidade da situação.
4. Depressão, o atleta reconhecer a lesão e suas prováveis consequências; a incerteza sobre seu futuro se instala.
5. Aceitação e reorganização, o atleta aceita a lesão e passa a estar apto para o processo de reabilitação.
E como os treinadores podem ter um rápido diagnóstico sobre o atleta após a lesão?
Existe um Checklist proposto por Heil (1999) que possibilita a avaliação do ajuste psicológico do atleta. Este é dividido em duas partes, sendo que na primeira parte denominada observação procura-se observar fatores situacionais e pessoais que estejam relacionados a dificuldade de adaptação à lesão.
Na segunda parte, denominada atenção, o treinador deve-se manter atento a fatores que normalmente não são observáveis no início do processo, mas que também podem interferir na recuperação do atleta (figura 1).
Checklist de adaptação à lesão (Heil) |
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Observação |
Situacional |
· Pouco envolvimento com a reabilitação; · Recaídas na reabilitação; · Baixa capacidade mental após o retorno à atividade física; · Incapacidade de melhorar a habilidade física. |
Pessoais |
· Apatia ou tristeza, expressão de culpa por abandonar o time; · Medo excessivo em determinadas horas; · Excesso de confiança; · Dor. |
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Atenção |
· Problemas pessoais; · Problemas físicos; · Incapacidade de traçar metas de desempenho realistas; · Preocupação com a lesão, com incerteza da recuperação completa. |
E agora??? Já compreendemos a importância das reações psicológicas e também como ter um diagnóstico sobre as reações do atleta. Mas, como promover um adequado e eficaz processo de reabilitação?
Com o objetivo de potencializar e facilitar o processo de reabilitação, podemos utilizar as várias técnicas de superação existentes e dentre elas podemos citar o estabelecimento de metas, auto conversação, o relaxamento e a visualização.
E é neste ponto justamente que entra o trabalho do Coach junto ao atleta, pois o profissional desta área experiente e capacitado tem plenas condições de promover a adequada aplicação das técnicas acima citadas num processos de coaching para apoiar na recuperação da lesão do atleta.
Vamos compreender um pouco mais destas técnicas de superação a seguir!
Estabelecimento de metas
O trabalho de Coaching promove o estabelecimento de metas congruentes com a realidade, com os valores e desejos do atleta, bem como com validade sistêmica na vida pessoal e profissional do atleta. Podem ser estabelecidas metas para retorno a prática esportiva, são cridos pontos de avaliação e também estágios de avanço menores do que a meta final, promovendo o avanço gradual em direção ao objetivo traçado e com o aumento da confiança e da capacidade de realização de tarefas por parte do atleta. Isso aumenta consideravelmente a auto estima do atleta durante o processo de recuperação.
Auto conversação
A adoção das técnicas de auto conversação é extremamente importante para que o atleta possa lidar com a redução da autoconfiança, desenvolvendo no atleta a capacidade de bloquear pensamentos negativos.
Visualização
As técnicas de visual
ização podem ser divididas em quatro grupos:
• Imagem de recuperação ou afirmação, na qual pode-se imaginar uma meta de reabilitação sendo atingida ou ainda imaginar um atleta conseguindo atingir todos os objetivos traçados;
• Imagem de cicatrização, neste caso é preciso uma imagem que represente a capacidade efetiva do corpo de se curar como por exemplo a recuperação de um atleta com uma fratura, que passa a imaginar o fluxo sanguíneo chegando até a área lesionada e produzindo a cicatrização.
• Imagem de tratamento, quando o atleta toma conhecimento dos mecanismos que ocorrem durante o tratamento e o atleta pode imaginar esses efeitos positivos acontecendo naquele momento da fisioterapia.
• Imagem de performance, face a incapacidade momentânea de praticar o esporte naquele momento, o atleta pode visualizar imagens que simulem a performance específica, isso pode auxiliá-lo no treinamento de situações presentes em treino e competição e também ajuda a manter a confiança.
Relaxamento
A utilização das técnicas de relaxamento são uteis no alívio da dor e do estresse, que frequentemente acompanham os quadros de lesões e sua recuperação. Um exemplo prático que podemos compartilhar trata-se de um programa de dois minutos proposto por Lindemann (1984), conforme abaixo:
• Inicialmente o atleta adota uma posição cômoda em um lugar tranquilo e agradável;
• Fecha os olhos;
• Desenvolve uma atitude positiva para o exercício;
• Concentra-se no seu próprio ritmo de respiração;
• A inspiração deve acontecer naturalmente;
• Após a inspiração o atleta começa imediatamente uma expiração profunda;
• Após a expiração, o atleta faz um pequeno intervalo (sem forçar);
• A relação entre o tempo de inspiração e expiração deve ser aproximadamente de três para cinco, respectivamente;
• O atleta deve manter o exercício por dois minutos;
• O atleta deve abrir os olhos e aplicar uma fórmula positiva de autoafirmação, com por exemplo: “Estou me sentindo muito tranquilo e pronto para o trabalho”.
Esta técnica pode ser utilizada antes da aplicação de uma das técnicas de superação mencionadas anteriormente neste artigo ou quando o nível de tensão estiver aumentado.
Bem, agora sabemos a relação entre a recuperação de uma lesão no esporte e o trabalho de coaching, certo? Desta forma, apoio nesta empreitada não falta. Então boa recuperação e conte com o trabalho de um bom coach.
Para interagir com o autor: gustavo.davila@universidadedofutebol.com.br