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"Man of steel" ("Homem de aço"), novo filme protagonizado pelo Superman, chegará na próxima sexta-feira aos cinemas dos Estados Unidos (no Brasil, a previsão é que o longa seja lançado no dia 12 de julho). Antes da estreia, contudo, a obra dirigida por Zack Snyder (de "300" e "Watchmen") já serve como um compilado de lições para o futebol brasileiro.

O filme é a primeira aparição do icônico super-herói nas telas grandes desde “Superman Returns”, dirigido por Bryan Singer (“Os Suspeitos”, “X Men” e “X Men 2”) e lançado em 2006. Na época, a obra custou quase US$ 400 milhões, sofreu para arrecadar esse valor e colocou em xeque o futuro do “Homem de aço” nos cinemas.

Entre 2006 e agora, porém, a Marvel lançou uma série de obras de sucesso inspiradas em super-heróis. O maior exemplo foi o filme da equipe “Os Vingadores”, que chegou às telas em 2012 e amealhou US$ 1,5 bilhão mundialmente.

Histórias sedimentaram na DC Comics a ideia de levar aos cinemas um produto sobre a Liga da Justiça, grupo formado por heróis da editora. Não apenas pelo potencial global de arrecadação nas bilheterias, mas pela enorme quantidade de licenciamentos.

O novo filme de Snyder é um embrião disso. A missão do longa é revitalizar a franquia do Superman, e isso não representa apenas a pressão por um resultado consistente nas bilheterias. A meta é faturar.

O custo de produção de “Man of steel” ficou na casa dos US$ 225 milhões. Além disso, a Warner Bros. Colocou na produção outros US$ 150 milhões em campanhas de marketing.

Segundo o site “Advertising Age”, a produção do filme estima já ter recuperado mais de 75% do valor. “Man of steel” tem cem contratos de patrocínio ou placement, número recorde para o cinema.

Como o filme ainda não foi lançado, é cedo para fazer qualquer avaliação sobre a obra. Também seria igualmente precipitada uma projeção sobre o desempenho nas bilheterias. Mas já é possível dizer que há várias lições para o esporte nessa história.

A primeira dela é que nenhum dano de imagem é definitivo. Se fosse lançado logo depois do filme de Singer ou tivesse uma abordagem similar, o longa de Snyder sofreria muito com comparações – e com o fracasso – do antecessor. Nesse caso, a comunicação e o tempo tiveram papéis fundamentais para descolar uma obra de outra.

O segundo passo foi dar a franquia a um fã. Sempre que pode, Snyder mostra o quanto é interessado e o quanto entende da liturgia que envolve o Superman. Assim, as pessoas que admiram o personagem têm alguma segurança de que ele será retratado com respeito e precisão.

Além da recuperação da imagem e do respeito à história, o filme do Superman ensina ao futebol que ninguém pode ignorar o perfil do consumidor. A sociedade atual é diferente de quando o personagem foi criado, e os jovens de hoje são radicalmente distintos dos garotos daquela época. Eles mudaram o jeito de consumir informações, e isso criou novos paradigmas de heroísmo.

Até hoje, a franquia iniciada com “Superman”, obra dirigida por Richard Donner em 1978, é considerada o exemplo mais bem acabado de aparição do herói nos cinemas. Hoje em dia, porém, o filme ofereceria pouco para os jovens consumidores.

Outro ensinamento do novo Superman é a abordagem sistêmica, coisa que os heróis da DC nunca tiveram no cinema. Enquanto a Marvel criou um universo que comportasse todos os heróis e foi espalhando elementos disso pelos filmes até unir as pontas em “Os Vingadores”, “Man of steel” é o primeiro passo de um projeto que pode desembocar em “Liga da Justiça”. Pode.

Uma das razões do sucesso de “Os Vingadores” é que o filme sempre soube o que queria. Desde a concepção das aventuras individuais dos heróis, a Marvel colocou tudo a serviço de uma obra maior. Com isso, conseguiu resultados expressivos em todas as etapas.

No futebol brasileiro, é comum avaliarmos apenas o resultado. Um time é bom quando vence, e uma estratégia é eficiente quando funciona. Damos pouca atenção aos detalhes e aos processos. E aqui eu incluo imprensa, torcida e até profissionais do esporte.

A seleção brasileira comandada por Dunga era boa até a Copa do Mundo de 2010 porque vencia, ainda que usasse em demasia o contra-ataque, tivesse um repertório minguado e reservas em nível inferior ao dos titulares. A derrota para a Holanda nas quartas de final da África do Sul escancarou todos esses problemas.

Com Mano Menezes, o time era ruim porque não vencia. A seleção rejuvenesceu, passou a controlar mais a bola e mudou radicalmente a movimentação. A equipe passou a trocar mais passes laterais, mas ficou menos aguda e incisiva.

O time montado por Luiz Felipe Scolari, que no próximo sábado vai estrear na Copa das Confederações, é muito mais parecido com o de Dunga. Não pelos jogadores – a maioria foi convocada por Mano –, mas pela filosofia. É uma equipe que agride sem a bola, que produz retomadas em velocidade e que cadencia pouco.

No começo do trabalho de Mano Menezes, o colunista Tostão chegou a dizer que o Brasil vivia uma crise de esquizofrenia. Os jogadores eram moldados para o contragolpe e conviviam com essa ideia desde a base, mas atuavam em uma equipe que se propunha a ficar com a bola.

Sanada essa “crise existencial”, a seleção ganhou competitividade. E aí, pouco importa o que o Brasil vai produzir como “escola” ou “filosofia de jogo”. Quem avalia apenas o resultado não se preocupa com esse tipo de detalhe.

Não existe um jeito ruim ou um jeito bom de montar um time. Existem caminhos, e a escolha entre eles depende do que se quer atingir. Por isso, uma noção sobre o todo é tão relevante quanto uma análise sobre as minúcias.

O sucesso que o novo filme do Superman atingiu antes de ser lançado tem muito disso. A obra é abrangente, fala a diferentes perfis de públicos, atualiza um personagem clássico e tem uma série de ingredientes convidativos. Além disso, foi concebida como um produto, com um modelo de negócios que depende pouco do desempenho.

Isso soa como um acinte num momento de tantas más notícias para a mídia brasileira. Os últimos cortes foram cadernos da “Folha de S.Paulo” (o jornal acabou com “Ilustríssima” e “Equilíbrio”). A editora Abril fará uma redução ainda mais substancial, que pode atingir até 11 títulos, mas o processo ainda não foi totalmente anunciado.

Em alguns lugares isso é mais latente, mas o jornalismo ainda carece de um modelo de negócios mais eficiente. Não é possível que o faturamento esteja baseado no binômio formado por venda e anúncios.

O que o filme do Superman ensina, e que no cinema j&aa
cute; é até comum, é que o segredo é a criação de produtos. A bilheteria pode até não ser o ideal, mas a venda de cadernos, chaveiros, roupas e todo tipo de objeto alusivo ao personagem deve garantir a receita.

Aí cabe uma discussão para o futebol: de onde o futebol tira receita? Ela está atrelada ao desempenho, não apenas esportivo, mas de mídia ou de público? O futebol sabe se transformar em produto?

No Brasil, iniciativas de licenciamento e uso de marca ainda são produzidas fora de clubes e confederações. Há empresas que crescem muito nesse nicho, como Meltex e SPR, que gerenciam lojas e complementam estoques das equipes parceiras.

O que vira produto, porém, ainda é apenas o que esse tipo de empresa produz. O futebol não sabe transformar em produto o que tem de mais diferente, que é a emoção oferecida ao público. É algo que nem o cinema teria capacidade de fazer.

A reconstrução do personagem, o respeito à história, a preocupação com o consumidor, a abordagem sistêmica e a transformação em produto são bases para o sucesso precoce do novo Superman. Isso precisa ser assimilado urgentemente pelos profissionais do futebol brasileiro.

No caso do filme, ações simples de comunicação e gestão conseguiram dar fôlego a uma franquia que teve um percalço enorme há apenas sete anos. A situação talvez fosse mais grave do que qualquer crise de imagem de seleção ou clube.

A diferença é que no cinema eles tiveram tempo para esperar a poeira baixar e planejar direito. No futebol, a urgência e o perfil imediatista que imperam no Brasil fazem desse um exemplo bem distante. Talvez seja mais fácil esperar ajuda do Superman…

 

Para interagir com o autor: guilherme.costa@universidadedofutebol.com.br

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