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A vitória do Botafogo por 3 a 2 sobre o Vasco, no último fim de semana, pelo Campeonato Brasileiro, teve várias cenas emblemáticas. Foi um jogo marcado por um golaço de Rafael Marques ou por um lindo lance de Juninho Pernambucano no gol de André, por exemplo.

No entanto, outro episódio chamou muita atenção. Durante o duelo, o meio-campista holandês Clarence Seedorf foi até a lateral do campo e passou alguns instantes conversando com o técnico Oswaldo de Oliveira. Foi um exemplo completo e eficiente de comunicação.

O teor da conversa entre Seedorf e o técnico do Botafogo ainda não foi revelado, mas os dois faziam movimentos com as mãos em direção ao campo. Claramente, ambos trocaram ideias sobre o posicionamento e as alternativas da equipe para superar o Vasco.

Num time de futebol, assim como acontece em uma empresa, funcionários (jogadores) devem ter autonomia para questionar processos e apresentar alternativas aos superiores. Desde que isso seja feito com respeito e nos momentos certos.

Comunicação é conteúdo, mas também é forma. É importante pensarmos no que transmitimos quando trocamos mensagens, independentemente do caminho escolhido para isso (telefone, internet ou pessoalmente, por exemplo). Mas, também é relevante pensarmos em como fazer.

O exemplo mais óbvio disso é a história do gato no telhado. Em vez de dizer ao dono que o animal de estimação dele havia morrido, a pessoa conta antes que ele subiu ao topo da casa. Depois, diz que o bichano caiu e que a queda foi grave. Por fim, revela que a mascote não resistiu.

Usar eufemismos é uma solução, mas não resolve sempre a questão. O jeito de falar e o momento também interferem nas reações de quem recebe a mensagem. Se a história do gato for contada a partir do roteiro citado anteriormente, mas apresentada em meio a uma festa e diante de muita gente, o dono certamente responderá de forma diferente de quem a ouve em casa e sozinho.

Repito: um funcionário que discorda de um processo pode questionar seus superiores. Ele tem direito a isso sempre. Se o fizer com voz alta, postura arrogante e no meio de outros empregados, contudo, essa pessoa terá pouca chance de sucesso.

Seedorf deu exemplo disso no domingo. Ele não gritou com Oswaldo de Oliveira de dentro do campo. Tampouco falou diretamente para os atletas e se insurgiu contra as propostas do superior. Independentemente do teor da mensagem, o holandês soube como passá-la.

Há um exemplo contrário na história recente do futebol brasileiro. No ano passado, o goleiro Rogério Ceni discordou do posicionamento do São Paulo em um jogo contra a LDU de Loja, válido pela Copa Bridgestone Sul-Americana. Ele começou a gritar e pediu que Cícero entrasse no lugar de Ademilson.

"Eu não aprovo isso. Acho que tem de ser cada um na sua função. Se eu achasse que o Cícero deveria entrar, teria colocado", disse Ney Franco depois do jogo, em entrevista coletiva.

Rogério Ceni, posicionado atrás da defesa, tem uma visão do jogo que é totalmente diferente do ângulo de qualquer treinador. Por isso, é até natural que ele identifique outros aspectos da partida. O que ele não pode é escancarar isso.

A atitude do goleiro, independentemente dos motivos, é um exemplo de como uma mensagem mal transmitida pode gerar um resultado bem diferente da proposta inicial. Ele fez o contrário de Seedorf, que esperou o momento adequado e não transformou uma discordância em polêmica.

A diferença de postura entre os dois jogadores é um resumo do quanto a comunicação é fundamental para o cotidiano de qualquer instituição. O futebol não foge a isso.

Todavia, a eficiência da comunicação não depende apenas do conteúdo das mensagens. A dimensão das coisas é alicerçada diretamente no formato.

Isso vale também para o exemplo contrário. Um técnico comedido e controlado, como José Roberto Guimarães, pode oferecer muito conteúdo para a seleção feminina de vôlei e transmitir informações relevantes para as atletas. Bernardinho, cujo estilo é radicalmente oposto, é outro exemplo de eficiência à frente da seleção masculina.

Um bom líder precisa saber como mexer com os comandados e em que momentos é necessário dar ênfase a uma mensagem. É impossível ser José Roberto Guimarães o tempo todo, mas também não dá para ser puramente Bernardinho. Aliás, nem eles são 100% fiéis aos estereótipos que lhes foram impingidos.

Dos funcionários para os líderes ou dos líderes para os funcionários, a comunicação sempre permite troca de ideias e discussão de conceitos. Para que isso não crie crises, porém, é fundamental que se pense nos caminhos.

Mais do que um resultado

Volto ao assunto da semana passada, mas resultados recentes tornaram relevante a insistência na discussão. Analisar Bayern de Munique 2 x 0 São Paulo e Barcelona 8 x 0 Santos apenas pelos resultados é uma falha grave de comunicação.

No esporte, temos a tendência de avaliar o caminho fácil, que é o resultado. No entanto, essa não pode ser a única medida. Quem protagoniza lances mais agudos nem sempre é mais importante do que quem apenas se esforça para viabilizar essas individualidades.

Analisar a distância entre o Barcelona e o Santos apenas pelos oito gols é fechar os olhos a tudo que cerca o amistoso. Da mesma forma, a vitória do Bayern de Munique sobre o São Paulo não traduziu tudo que aconteceu.

Há vários caminhos para aprofundar essas discussões. É possível debater a diferença de proposta de jogo entre Brasil e Europa, a distância física ou as condutas táticas, por exemplo. É possível falar sobre o desnível técnico que esses amistosos apresentaram. É possível até falar sobre individualidades. Analisar apenas o resultado é cabotino. Mas, como é mais fácil, ainda é recorrente.

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