François Hollande, o Presidente francês, já fez fugir de seu país o ator Gérard Depardieu.
É possível que, em breve, jogadores de futebol pensem que o melhor lugar da França seja o aeroporto Charles de Gaulle.
O governo do partido socialista havia prometido, em campanha, tributar em 75% os salários de todos os que ganhassem acima de EUR 1 milhão ao ano.
Isso, naturalmente, não só impacta no bolso do “empregado”, como também onera a política de remuneração que o “patrão” deve adotar nas negociações dos salários, encarecendo seu caixa.
Eis que os clubes de futebol, na França, estão acenando com o “lockout”, a greve dos empregadores que, seguramente, terá o apoio dos seus milionários jogadores-celebridade.
A reação ocorre diante da afirmação do governo de que não isentará o futebol da taxação de suas fortunas.
O futebol mundial tem vivenciado um presente de “exuberância irracional”.
A noção foi cunhada pelo ex-Presidente do FED, o Banco Central Americano, Alan Greenspan, chamando a atenção para a supervalorização do mercado de ações na bolsa e do sistema financeiro dos EUA em meados dos anos 1990.
Muito dinheiro vem sendo carreado para o futebol, dada a diversificação de fontes de receita global, incluindo investimento de grupos empresariais que compram clubes de futebol e passam a administrá-los.
O paradoxo, aqui, é que, em vez de se racionalizarem investimentos, acaba-se por “abrir a torneira” até a bacia transbordar, fazendo com que toda a indústria sofra com essa gestão irracional.
Por outro lado, os esforços ao chamado “fair play” financeiro do futebol tentam encontrar mecanismos para regulamentar, na esfera esportiva, o equilíbrio na gestão como princípio norteador. Michel Platini, francês, Presidente da Uefa, é o maior defensor dessa regulamentação.
Nos EUA, as grandes fortunas sempre foram taxadas com alíquotas bem altas, pois isso tem a seguinte origem e validação sociocultural e histórica: pagar mais impostos significa que uma empresa ou uma pessoa são bem-sucedidas e, como conseqüência natural, deve se sentir orgulhosa e “devolver” à sociedade ou “compartilhar” seu êxito com a comunidade.
É o conceito de “give back” que permeia toda a sociedade americana e a torna a nação que mais destina recursos à filantropia.
Filantropia essa que também se desenvolve na indústria esportiva, por meio das fundações e iniciativas administradas pelas ligas, pelos clubes e pelos grandes atletas.
Portanto, chama a atenção o movimento arquitetado na França, país notadamente conhecido pelo Estado de Bem-Estar Social, que orgulha o povo francês como sendo uma grande conquista que remonta à Revolução Francesa.
Ou não seria justo o pagamento de altos impostos por quem já ganha muito dinheiro?
Justo seria anistiar dívidas dos clubes de futebol, no Brasil, uma vez que o tamanho dessas dívidas é tão grande que não se pode pagar?
Ou justo é ter folhas salariais inflacionadas, desde o mais recente profissional egresso do sub-20, passando pela comissão técnica e chegando aos executivos de futebol?
Entre atores, jogadores de futebol e donos de clubes de futebol, parece que, na Europa Latina e na América Latina, o único ideal que se pode afirmar vigente é o da liberdade.
Porque igualdade e fraternidade custam caro demais aos seus bolsos.
E bem são ideais ultrapassados… Estão lá em 1789.