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A Copa do Mundo de 2014, que será realizada no Brasil, conheceu no último fim de semana o oitavo de seus 12 estádios. A despeito de ainda estar com 98% das obras concluídas, a Arena da Amazônia, em Manaus, recebeu seu primeiro evento teste.

O local abrigou um empate por 2 a 2 entre Nacional e Remo, válido pelas quartas de final da Copa Verde, e tudo que cercou o evento serve como subsídio para uma discussão sobre comunicação.

A inauguração da arena teve 20 mil ingressos. Desse total, 35% foram destinados a operários da obra. A estimativa do governo do Amazonas é que o estádio comporte 42 mil pessoas quando estiver pronto.

O primeiro tópico a ser observado, portanto, é a lotação. O Campeonato Amazonense de 2013 teve média de 807 pagantes por jogo. Como uma partida entre Nacional e Remo consegue colocar 20 mil pessoas em um estádio?

Há várias explicações para essa quantidade, a começar pelo fator novidade. As pessoas foram ao estádio porque queriam conhecê-lo. O trabalho do gestor nesse caso, portanto, é fazer com que essas pessoas tenham vontade de voltar. E mais do que isso, fazer com que outros queiram ir ao local. Mesmo que sejam movidos pela mesma curiosidade.

Como fazer isso? Com promoção, é claro! Comunicação adequada para chamar atenção do público e comunicação ainda mais incisiva para quem já tomou a decisão de comprar um ingresso. A pessoa que investiu tempo e dinheiro em uma entrada tem de ser bombardeada com informações e ações. E isso tem de acontecer do momento da aquisição até o retorno para casa.

E aí começam os problemas da Arena da Amazônia. O estádio estava inacabado quando foi inaugurado, com defeitos em aspectos como estacionamento, (des) orientação de público e falhas estruturais nos banheiros. Tudo isso é comunicação. E comunicação da pior espécie.

Houve relatos de torcedores que passaram até 45 minutos nas filas dos bares do estádio. Que tipo de consumidor recebe esse tipo de atendimento e volta para casa disposto a retornar a um estabelecimento?

No entanto, os problemas da inauguração ainda tinham o atenuante de se tratar, obviamente, de uma inauguração. O que aumentou a proporção da situação negativa foi o posicionamento do governador do Amazonas, Omar Aziz.

No domingo, o político foi questionado pela “ESPN” sobre o custo do estádio. A obra da Arena da Amazônia consumiu R$ 604 milhões, R$ 89 milhões do que a previsão inicial.

“Isso é problema nosso, não de vocês. Isso é problema do povo amazonense, não é teu. Não é problema da imprensa do sul [sic]. É nosso o problema, deixa com a gente. Se nós tivemos competência para construir uma arena desse porte […] nós teremos competência para dar um legado”, respondeu Aziz quando questionado sobre o que vai ser do equipamento após a Copa.

Desde o ano passado, dirigentes de times do Amazonas têm dito que não há interesse em gerir o estádio. Os argumentos são o alto custo de manutenção e o tamanho do equipamento, muito maior do que o necessário para a realidade local.

Questionado sobre o estouro no orçamento e o que vai ser da arena depois da Copa do Mundo, Aziz podia ter explicado ou construído um raciocínio que o aproximasse do público. Ele podia ter falado sobre as dificuldades de um empreendimento dessa proporção e podia ter começado a direcionar um discurso sobre o pós-evento. Em vez disso, optou pelo clima de guerra e pelo regionalismo.

A questão é: o público da Região Norte é suficiente para um estádio do tamanho do que existe em Manaus? Se for, ele será assíduo o bastante para a arena ignorar que existem outras regiões no país?

O estádio é problema de todos, sim. Sobretudo por ter sido construído com dinheiro público. E dar satisfações do que é feito com dinheiro público é parte importante de um trabalho para diminuir o distanciamento entre gestores e consumidores.

A Arena da Amazônia, como outros empreendimentos relacionados à Copa do Mundo de 2014, é uma excelente oportunidade de negócios. Se bem conduzida, pode ser um importante polo para desenvolver a região (e não apenas o futebol da região). Mas isso depende de um plano extenso de comunicação.

Esse plano de comunicação não pode ignorar a relação com o consumidor. E não há relação com o consumidor que ignore aspectos como o serviço da inauguração e as informações sobre o futuro do aparato.

A Copa do Mundo não serve apenas para 64 jogos. Enquanto o Brasil não entender isso, o país seguirá discutindo qual região tem direito a saber sobre o estádio. E inaugurando equipamentos que não dão condições favoráveis aos consumidores.

No fim, a Copa do Mundo tem servido para escancarar o quanto o Brasil trata mal a comunicação.

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