Aos 18 anos, Iker virou titular do clube do coração.
Desde aquele ano, 1999, é o terceiro atleta que mais atuou pelo decacampeão europeu – os últimos três títulos com ele no elenco, e com atuação colossal na conquista de 2002.
Campeão do mundo pela Espanha em 2010. Bi europeu em 2008 e 2012.
Tudo de ótimo que se pode esperar em um goleiro. Tudo de maravilhoso que o torcedor quer ver em alguém que veste a sua camisa como se fosse nem a segunda ou a primeira pele.
Mas a única.
Tão bom é que, mesmo falhando na decisão da Liga dos Campeões de 2014, a equipe ainda buscou o empate no final que, depois, virou goleada contra o bravo Atlético de Madrid.
Tão regular é que, mesmo tendo atuado mal na temporada que passou, ainda merece o respeito dos rivais, da bola, e da história.
Mas não de todos os torcedores merengues, que o vaiaram impiedosamente depois de mais uma falha decisiva – como também fez péssima Copa do Mundo, como toda a Espanha. No primeiro gol da vitória do Atlético, no Santiago Bernabéu, pela terceira rodada do Espanhol, Casillas não cortou a bola que chegou à cabeça do colchonero Tiago. Mais um gol defensável tomado por um ícone como Iker.
Mas as vaias a ele foram indefensáveis.
O torcedor que agora quer arrancar as guantes (“luvas”) dele da meta madridista não se aguentou e pegou pesado com a lenda da meta merengue.
Fosse Casillas mais um, e não apenas um dos melhores camisas um de todos os tempos e de todos os clubes, o goleiro do Real Madrid abusaria do primeiro verbete do Manual de Sobrevivência de Craques & Bagres do Futebol:
– Eu não preciso provar nada para ninguém.
E não precisaria provar e dizer o goleiro campeão da Copa do Rei por duas vezes, campeão da Espanha por cinco vezes, três vezes da Europa e uma do mundo com a camisa do colosso madrileno.
Mas Casillas é dos poucos que têm a humildade de fazer em vez de falar.
Sabe que o torcedor pode ser ingrato. Injusto. Esquecido. Tudo.
Casillas não se perde pela boca:
– O público é soberano. Se acham que devem vaiar, é preciso respeitar, enfrentar o problema e seguir trabalhando. O torcedor está no direito dele. Eu tenho de responder jogando o meu futebol.
É isso.
Que outros sejam como Casillas jogando. E também pensando, falando. Ou ficando quietos.
Respondendo pela bola, não pela boca.
*Texto publicado originalmente no blog do Mauro Beting, no portal Lancenet.