A contratação do colombiano Juan Carlos Osorio foi uma das grandes apostas do São Paulo para a temporada 2015. Depois da chegada dele, porém, o time se desmantelou no setor defensivo (Paulo Miranda, Dória, Denilson e Souza saíram, e Rodrigo Caio ficou num processo de vai-não-vai em que ele foi o grande prejudicado). Dos movimentos às declarações, o São Paulo dos últimos dias é a síntese perfeita de uma série de conceitos que permeiam o futebol brasileiro.
A começar pelo time: o São Paulo destruiu seu setor de contenção, complicou demais a saída de bola e limitou as opções do treinador. Tudo isso ainda no primeiro terço do Campeonato Brasileiro, uma competição em que são raras as equipes que terminam com a mesma estrutura que tinham quando começaram. O principal torneio do futebol nacional é uma corrida em que você só sabe como as coisas começam, mas não pode avaliar nada até que a janela se feche, pelo menos – isso sem falar nas mudanças de técnicos, conceitos e estrutura que acontecem durante o trajeto.
Antes de o Campeonato Brasileiro começar, o São Paulo era um time com estrutura montada e uma base que havia feito boa campanha no ano anterior. Quando Osorio foi contratado, a ideia era que ele burilasse isso e levasse o time a um patamar diferente. Depois dos movimentos da diretoria, contudo, a pergunta é: que time?
Há uma série de pontos a serem abordados sobre a postura da diretoria do São Paulo, mas o time paulista não é um caso isolado. O futebol brasileiro inteiro tem essa premissa, e a conjuntura fez com que o país retomasse fortemente o viés exportador – em comparação com anos anteriores, as transferências para o Brasil caíram e as negociações para fora cresceram.
A série de negociações que o São Paulo fez é reflexo de fatores como moeda fraca, desejos individuais dos jogadores e o estado econômico das equipes nacionais. Nas temporadas anteriores, os principais clubes do país inflacionaram de forma contundente as folhas de pagamento e também as dívidas de curto prazo. Em 2014, o Flamengo foi o único entre os grandes a reduzir seu déficit.
Portanto, ainda que as decisões da diretoria do São Paulo sejam questionáveis, tudo é contexto. O fortalecimento do Campeonato Brasileiro passa necessariamente por uma revisão de tudo isso.
Juan Carlos Osorio questionou a diretoria do São Paulo. Não apenas pelo número de jogadores negociados, mas por todos fazerem parte de um mesmo setor. No domingo (05), no empate sem gols com o Fluminense, ele chegou a relacionar para o banco de reservas o zagueiro Breno, que não entra em campo desde 2011.
As cobranças públicas de Osorio são lícitas e pertinentes. No entanto, cabe mais uma reflexão sobre contexto: que cenário o colombiano esperava encontrar no futebol brasileiro quando foi contratado? Ele realmente achou que haveria manutenção e sequência do elenco? Ele pensou que existiria algum planejamento de saídas numa seara em que planejamento ainda é algo extremamente raro?
O caso das baixas é o segundo de Osorio no São Paulo. Expulso na derrota por 4 a 0 para o Palmeiras, o técnico colombiano havia reclamado da atitude do árbitro e dito que desconhecia o critério adotado no Campeonato Brasileiro de 2015, com uma postura menos permissiva sobre questionamentos de decisões em campo.
Mais uma vez: por que Osorio não sabia? É certo um profissional desconhecer o contexto em que está inserido e usar essa falta de informação como justificativa para um erro? Tente transportar isso para outra realidade e pense no quanto é absurdo alguém que foi contratado recentemente por uma empresa falhar e dizer que “não sabia”.
Nos dois casos, Osorio exemplifica um dos piores aspectos comuns entre os jogadores brasileiros: a falta de entendimento sobre o contexto. É essa a natureza, por exemplo, dos atletas que se transferem para times ucranianos e depois reclamam do frio ou da perda de visibilidade. Afinal, o que eles esperavam quando assinaram?
As reclamações de Osorio são perfeitamente cabíveis e levantam debates necessários para o futebol brasileiro. Ao fazê-las, porém, o técnico mostrou desconhecimento sobre o meio em que está inserido. Isso é perigoso.
Entretanto, Osorio não foi o único no São Paulo a servir de exemplo nesse sentido. Depois da derrota para o Atlético-PR, o goleiro Rogério Ceni corroborou as cobranças à diretoria e as críticas ao volume de negociações. O capitão tricolor, que está em sua última temporada como profissional, disse que entende a necessidade financeira do clube, mas que a cúpula da equipe também precisa entender a necessidade que ele tem de ser campeão.
Mais uma vez, não há problema com a declaração. O que Rogério disse é o que outros jogadores também devem pensar. Novamente, a questão é contexto: numa situação como essa, é no mínimo complicado que a principal liderança de um grupo manifeste publicamente que prioriza objetivos pessoais em detrimento da situação de sua equipe.
No mesmo jogo, no intervalo, Paulo Henrique Ganso deu outra demonstração nesse sentido. Questionado sobre a partida – o São Paulo perdia por 1 a 0, gol marcado pelo zagueiro Gustavo após cobrança de falta –, o meia disse que o time paulista atuava bem, que só estava atrás no marcador por causa de um erro individual e que todo mundo sabia de quem tinha sido a falha – no lance, Lucão deixou de acompanhar o defensor do Atlético-PR.
A análise de Ganso não está errada. Mais uma vez, a questão é contexto: qual é o impacto de uma crítica tão direta, sobretudo se o alvo for um atleta tão novo e que já sofre com a desconfiança de parte da torcida? Não ajudou, certamente.
Entender o contexto pode ser um processo complicado em muitos momentos, mas é fundamental para amenizar problemas. Isso evitaria teses como o apagão que a comissão técnica da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) criou para justificar os 7 a 1 da Alemanha, por exemplo. Se tivessem olhado para o contexto, Felipão e Parreira entenderiam que era momento para algo muito mais contundente.
O mesmo vale para a própria CBF, que resgatou Dunga depois da Copa e criou o contexto para uma seleção brasileira com repertório pobre e estilo extremamente limitado. Questão de contexto: esse tipo de jogo pode ser eficiente, mas não tem nada a ver com o que os torcedores esperam ou cobram da equipe nacional.
No fim, a eliminação do Brasil nas quartas de final da Copa América é apenas mais uma parte de um contexto. É um subproduto de um cenário que se construiu durante anos e que não tem perspectivas de mudança em curto prazo.
Ah, o presidente da CBF não foi ao Chile para acompanhar a Copa América. Não por ter ficado aqui e priorizado o desenvolvimento do futebol nacional, mas por temer ser preso se deixar o Brasil. O fato de Marco Po
lo del Nero ser atualmente o principal dirigente do futebol nacional é mais um que não pode ser analisado de forma isolada. Como Eduardos Cunhas da vida, o mandatário da CBF é fruto de um contexto.