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Não existe espetáculo sem promoção. Por mais que o público seja fiel ou que o conteúdo seja popular, o sucesso de um evento está necessariamente ligado à capacidade que a organização tem de criar mobilização em torno disso. No esporte ou em outras searas, o mundo está cheio de exemplos que ilustram esse raciocínio. A Confederação Brasileira de Futebol (CBF), contudo, parece ignorar todos.
O Campeonato Brasileiro de 2015 é um exemplo perfeitamente conduzido de promoção deficiente. Não houve, desde o início do ano, qualquer esforço para que o público se aproximasse da competição. Ainda que a média de pessoas presentes nos estádios tenha crescido e que a taxa de ocupação seja uma das mais altas da história do torneio, e organização não tem mérito nisso. A rodada do último fim de semana é apenas o ápice dessa cultura deficiente.
O líder Corinthians chegou à 34ª rodada em condições de garantir o título do Brasileiro. Para isso, a equipe paulista precisava vencer o Coritiba às 19h30 de sábado (07), em São Paulo, e torcer para o Atlético-MG não bater o Figueirense às 17h de domingo (08), em Florianópolis.
A situação é tão absurda que é até difícil admitir que aconteceu. A CBF ignorou a chance de seu principal campeonato ser definido e permitiu a possibilidade de o título ser resolvido com o campeão em casa, no avesso perfeito da festa que a competição deveria ter.
Não é apenas uma questão de lisura: em casos assim, com dois jogos que definem um mesmo aspecto na tabela, o organizador de um campeonato precisa zelar por aspectos como o ambiente das partidas e a promoção. Se o Corinthians tivesse sido campeão, que cena de festa seria retratada em todo o mundo?
Uma alteração nos jogos demandaria acertos com a Polícia Militar e com os parceiros de transmissão do Campeonato Brasileiro. A CBF alegou que não houve pedido de nenhum dos clubes e que não teve tempo suficiente para reformular a tabela do fim de semana.
Entretanto, não faz sentido que uma alteração assim tenha de ser sugerida. A CBF deveria ter um olhar sistêmico para suas competições, preocupada com o macro e com questões pontuais. Se fosse assim, teria notado semanas antes que a possibilidade de o campeonato ser resolvido no último fim de semana existia.
Por mérito do Atlético-MG, a CBF escapou de um dos momentos mais vexatórios da história do Campeonato Brasileiro e não viu um campeão sem festa. A próxima chance do Corinthians é a partida contra o Vasco, na quinta-feira (19), no Rio de Janeiro. Vale a pergunta, então: em dez dias, o que a entidade que comanda o futebol brasileiro vai fazer para a possibilidade de seu principal torneio ser resolvido? Que festa será montada e que ações serão promovidas para fazer com que essa partida seja especial?
E se houver uma virada, o que ainda é possível? Que tipo de coisa a CBF tem feito para mostrar que o campeonato ainda está aberto e que é interessante? Quais são as ações institucionais voltadas a atrair mais gente para estádios, TVs ou simplesmente para o consumo? Que esforço é feito para mostrar qualidades dos atletas além do que fica claro no tempo em que eles estão com a bola nos pés?
A popularidade do futebol talvez contribua negativamente nesse caso. Outras confederações esportivas brasileiras, mais carentes e com menos espaço na mídia, fazem melhor o trabalho de promoção de evento e de seus protagonistas. A CBF simplesmente ignora esses assuntos.
Essa discussão pode parecer simples e pequena, mas existem componentes infinitamente maiores. O esporte de altíssimo nível competitivo, afinal, é um agente de mobilização social. E mobilização social só acontece com aproximação e humanização. Não há envolvimento se o público não compreender em que o ídolo é maior do que seus feitos esportivos.
A transformação de atletas em heróis modernos tem uma série de implicações comerciais (é mais fácil ditar tendências de consumo a partir disso), mas também contém um viés social. Tudo isso acontece para criar uma empatia maior e aproximar esportista e público por causa do lado humano.
É fácil listar aqui histórias humanas de atletas de qualquer outra modalidade no Brasil. Com a aproximação dos Jogos Olímpicos de 2016, aliás, esse filão será ainda mais explorado. E no futebol? Qual é o repertório que os jogadores brasileiros têm a contar? Como isso é trabalhado pelos organizadores dos campeonatos?
As questões são tão simples que é até absurdo que a CBF nunca tenha feito. Tudo isso revela um dos problemas mais contundentes da administração da entidade em termos de comunicação, e isso afeta diretamente o futebol brasileiro como um todo. A venda internacional também padece por causa da falta de identidade do produto.
O futebol brasileiro precisa urgentemente de um plano de promoção e comunicação. Para a CBF, porém, a prioridade talvez seja o planejamento de crise. Antes de vender o futebol nacional ou aproximá-lo de um número maior de consumidores, a entidade deve estar preocupada é com a salvação de seus próprios dirigentes – o presidente Marco Polo del Nero, por exemplo, não sai do Brasil desde que uma operação liderada pelo FBI ocasionou prisões de sete executivos ligados à Fifa, incluindo José Maria Marin, antecessor dele no cargo.
Numa entidade em que proteção é a palavra de ordem, faz até algum sentido que a promoção seja ignorada. Ter mais gente interessada no Campeonato Brasileiro agora pode ser sinônimo de jogar luz numa administração que tem muito a esconder.

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