É possível notar, numa frequência cada vez maior, reportagens qualificadas da mídia especializada sobre o desempenho das equipes do futebol brasileiro.
Com o objetivo de abastecer o torcedor de informações sobre o seu time, proporcionando o desenvolvimento do seu ciclo de aprendizagem sobre o jogo para além da incompetência inconsciente, quanto melhor a imprensa conhecer especificamente a modalidade sob o viés técnico, maior a criticidade levada ao torcedor que tem, em toda sua passionalidade, o desejo de que sua equipe vença e dê espetáculo.
O futebol espetáculo deveria ser condição indispensável oferecida pelas grandes equipes do nosso futebol. Porém, inseridas num contexto vicioso de imediatismo, pressão por resultados, trabalhos de curto prazo e inadequada capacitação profissional, na maioria das ocasiões, as desculpas estão prontas para a prática de um futebol pouco atrativo, pragmático e pouco inteligente, traduzidos em jogos com pouca organização coletiva, pouca criatividade, muitos chutões e incapacidade das equipes trocarem passes curtos (a maior ação técnica do jogo) em progressão.
E se a imprensa se opusesse cada vez mais a este futebol? E se a oposição estiver embasada em elementos quali-quantitativos, que qualificam o jogar apresentado? As ferramentas de análise de jogo já estão disponíveis e cabe a mídia se apropriar de mais este conhecimento para potencializar as necessárias transformações ao futebol brasileiro.
Sinteticamente, o papel inicial da imprensa esportiva é o de identificar os elementos que qualificam o jogo. Para isso, é preciso conhecer o próprio jogo. O sistema, sua lógica, seus princípios, suas referências. Sendo assim, será possível identificar a identidade de cada equipe e o quanto a mesma está alinhada a um jogo de grande elaboração individual e coletiva.
Dada a identificação, o próximo passo é a divulgação em larga escala do nível de jogo apresentado. Como jogam as principais equipes do futebol brasileiro em cada um dos momentos do jogo? Em seus momentos, onde estão as principais potencialidades da equipe avaliada? E as principais deficiências?
O passo seguinte e, seguramente, o mais enriquecedor é o da argumentação e debate das informações apresentadas. Se uma equipe é sólida em sua marcação nas bolas paradas defensivas e não tem sofrido gols desta característica, cabe a imprensa (após identificar e divulgar) argumentar com os porquês de tal solidez. Quais as ações individuais e coletivas têm sido bem aplicadas a ponto da equipe mostrar eficácia neste tipo de ação?
Uma mesma sustentação argumentativa deve ser elaborada quando, por exemplo, uma equipe é ineficiente em sua organização ofensiva na fase de construção, excedendo em chutões ações ofensivas que poderiam ser construídas com um jogo apoiado. É papel da imprensa, através de imagens, vídeos e dados, mostrar o que tem sido feito e debater alternativas ao problema apresentado. Falta mobilidade? Existem linhas de passe?
Vale lembrar que além dos dois exemplos supracitados, um bom número de análises individuas e coletivas podem ser feitas com o intuito de analisar uma equipe.
A temporada está prestes a completar um mês competitivo. Somado ao mês de pré-temporada, já temos tempo suficiente para identificar o surgimento de padrões. Logo, tempo também suficiente para a imprensa debater em alto nível os elementos que têm qualificado (ou não) o nosso jogo.
As mudanças transformadoras e impactantes, hierarquicamente, devem surgir de cima para baixo. Para o futebol brasileiro se transformar de verdade, CBF, dirigentes e treinadores de ponta devem liderar o processo.
A imprensa, com toda sua capacidade de repercussão, pode ser um grande catalisador deste movimento. O atraso na mudança dos maiores níveis hierárquicos, não inviabiliza a transformação em dimensões inferiores. Em qualquer dimensão que você atue, da iniciação ao profissional, da área técnica de campo ou fora dela, se você acredita na mudança, seja a mudança. Quando os movimentos de transformação, já perceptíveis e, assim como o desenvolvimento do papel da imprensa, cada vez mais presentes, forem determinantes e condição sine qua non para trabalhar no futebol brasileiro, você estará preparado.
Então, mãos à obra!