Domingo à tarde, dia de clássico, estádio lotado, milhões acompanham a partida pela televisão, gol impedido e O bandeira não vê, O juiz valida o tento e a partida é decidida a favor do time que cometeu a irregularidade. Quantas vezes não vimos essa história? Muitas, afinal, como diz aquele ditado: errar é humano. Juízes de futebol erram (bastante por sinal) e faz parte, dá até uma certa graça ao negócio. Normal, até bonito, não?
Agora, faça uma reflexão sobre o episódio acima trocando apenas dois artigos, substitua a letra O por A antes da palavra bandeira e O juiz por A juíza. Sentiu o drama? Pontuarei dois episódios em que erros de arbitragem culminaram em uma mudança drástica na carreira de duas mulheres promissoras. O caso mais famoso é o da bandeirinha Ana Paula Oliveira, que teve uma má atuação em partida entre Botafogo e Figueirense pela semifinal da Copa do Brasil em 2007, beneficiando o clube catarinense e provocando a ira da diretoria botafoguense. Fato que culminou em seu afastamento da função, e que foi o início do fim de sua carreira dentro de campo.
Mais recentemente, em 2014, a bandeirinha Fernanda Colombo anulou um gol legal do Cruzeiro e foi obrigada a ouvir do diretor de futebol do clube celeste que seria melhor ela ter ido posar para a Playboy. Três anos após o acontecido, a jovem de 25 anos, muito jovem aliás, que já foi aspirante Fifa se considera aposentada.
Para informação: dos 215 árbitros presentes no quadro da CBF, apenas 15 são do sexo feminino, o que corresponde a 7%. O número de assistentes é um pouco maior: 58 mulheres em um total de 311, chegando a 18,6%. Por que será?
Outra situação de uma mulher envolvida com futebol e que por conta de alguns erros profissionais quase foi linchada, aconteceu com a ex-presidente do Clube de Regatas Flamengo, Patricia Amorim. A gestão da ex-nadadora não foi fácil: parcerias que não vingaram, entreveros com estrelas do futebol – jogadores e técnicos -, o caso Bruno, sua atuação política fora do clube e até mesmo sua relação conjugal (enquanto casada com membro de organizada de clube rival) foram elementos que a tiraram do cargo. Erros aconteceram – uns que cabiam a sua pessoa e outros que não eram de sua alçada – só que Patricia foi ceifada do futebol de maneira agressiva (não definitiva, já que atualmente é subsecretária de Esportes e Lazer do Rio). Erros aconteceram. Quem erra deve ser devidamente penalizado, sempre. Mas por que não é assim sempre? Por que os presidentes, não só de clubes, mas de federações e confederações inclusive, que fazem barbaridades às fuças de todo mundo não sofrem nem 10% das consequências sofridas pela primeira presidenta do clube rubro-negro?
Jornalistas do gênero feminino são postas a prova muito mais do que os do sexo oposto, sobre o futebol feminino então, não vou nem falar…
O erro feminil, sobretudo no futebol, que é nosso campo de debate e reflexão, sempre é mais pesado e nunca passa despercebido. A mulher que resolve se dedicar a uma carreira profissional no meio futebolístico deve ser impermeável a erros e se puder não titubear é bom, aumenta um pouco suas chances de ser aceita sem muitos questionamentos. Não há como não notar e não se surpreender com a diferença de tratamento dada para os equivocados e equivocadas.
Por um futebol menos injusto e desigual entre os gêneros.