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De uma forma geral o futebol tem sofrido grande evolução tanto no aspecto do jogar como, principalmente, no entendimento e compreensão do jogo. A própria participação do jogador nesse processo já não é mais apenas uma participação do “fazer” e sim do “pensar” sobre tudo aquilo que envolve o jogo e o jogar. O jogador quer saber o motivo de estar fazendo certa coisa, a tal ponto, de não se satisfazer em apenas “fazer”, mas de “fazer” o certo. Aliás, todos nós sabemos, o que queremos fazer, ou, pelo menos, o que achamos certo fazer.

Por isso, insisto enfatizar a alta complexidade que se encontra o futebol. O futebol se tornou tão complexo que meios e caminhos tradicionais já não bastam, mas uma necessidade de abordagens de natureza holística (que procure entender o futebol na sua totalidade) ou sistêmica, generalista ou interdisciplinar. Sistemas de muitos níveis exigem controle científico, controle “técnico” e não empírico. Todavia, esse é outro ponto que quero levantar. Sabemos que a maioria das decisões tomadas no futebol, dentro e fora de campo, são de caráter empírico. Sabemos, ao mesmo tempo, que o jogo de futebol praticado outrora não é o “mesmo” jogo de futebol praticado hoje em dia. Não posso falar e refletir sobre o que aconteceu antigamente (algo que não vivi), mas hoje vejo um jogo de futebol mais requisitante da parte tática/cognitiva do que da parte técnica/física. Claro que falo aqui de futebol de alto nível. Se o jogo de futebol praticado anteriormente requeria qualidades diferentes da de hoje, se os problemas a serem solucionados (em campo e fora) são diferentes do de hoje, qual o sentido de basearmos, totalmente, nossas decisões de hoje tendo em vista a “experiência” adquirida em um contexto diferente?

Torna-se essencial atualizarmos constantemente nossas referências de entendimento e compreensão daquilo que está acontecendo. Da mesma forma que a “inteligência” (com suas diversas formas de inteligência) evolui, os problemas também evoluem. A ponto que a cada passo no processo evolutivo, novos obstáculos surgem e novos caminhos necessitam ser trilhados. E precisamos estar constantemente analisando e interpretando o contexto, a fim de tomar a “melhor” decisão possível (melhor entre aspas, pois o melhor é relativo a cada problemática).

Precisamos entender que devido ao grande número de variáveis que interferem no jogo e no jogar, o futebol tem essencialmente problemas de “sistemas”, isto é, problemas de inter-relação de um grande número de variáveis. O que se deve definir e descrever como sistema não é uma questão com uma resposta óbvia e trivial. Se alguém se dispusesse a analisar as noções correntes e os “slogans” em moda, encontraria bem alto na lista a palavra “sistema”. Este conceito invadiu todos os campos da ciência e penetrou no pensamento popular, na gíria e nos meios de comunicação em massa, sem se ter a devida noção do seu entendimento e da sua utilização.

O 1˚ problema é um problema de origem organizacional. Pois o futebol é um jogo coletivo. Quando o nível de organização não é o “mínimo” tolerável a nossa esperança de “algo bom” é reduzida. Ficamos a espera de que o “talento” e/ou “individualismo” se sobressaia as qualidades do adversário e/ou as dificuldades do jogo. Que a vontade de ganhar dos jogadores seja maior que a vontade do adversário. Ficamos a espera de um milagre.

Por outro lado, perante o que tenho observado ao longo da minha prática e observação, o futebol tem em sua dinâmica uma alta requisição do individual. A tomada de decisão individual interfere nos conjuntos de decisões interativas, de uma forma contagiante. Por hora, um esforço de um jogador pode induzir, influenciar, direcionar o comportamento de outro jogador. E, isto é claramente visível quando atletas com alto nível de relevância no grupo guiam o processo de comportamento do coletivo no jogo e no treino. A percepção do jogador com relação a realidade da equipe, a leitura que ele tem da situação e do contexto da equipe deve ser levada em consideração no entendimento do contexto e do ambiente vivido por time.

Quando os jogadores sabem que a organização da equipe não é a das mais “confiáveis”, a prestação “física”, o interesse por “conseguir fazer, o que se tem que fazer, da melhor forma possível”, a “vontade” dos jogadores é maior. Pois sabem que se assim não for a organização fica mais vulnerável (aumentando a possibilidade que o adversário tem de entrar no sistema defensivo e romper a organização defensiva da equipe). O treinador por essência deve encontrar um equilíbrio no nível de organização coletiva capaz de exigir o máximo de prestação comportamental do jogador. Não deixando o sucesso da partida apenas nas “pernas” dos jogadores.

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