Muito o que venho pensando, ultimamente, sobre o futebol está no simples fato de ser um jogo de confrontos, tanto individual como coletivo. E como qualquer enfrentamento, as duas partes querem ganhar, sobressair-se perante o outro, independente de suas vantagens e/ou vulnerabilidades. Um jogo de imposições, no qual o vencedor será aquele que vai se impor sobre o outro, mas não uma imposição momentânea, e sim uma imposição constante ao longo do jogo, em cada ação. Somando a isto, encara-se o jogo, por muitas vezes, como um exemplo de “luta” incessante, onde a concentração e a intensidade tem que ser sempre a máxima (mesmo sendo relativa). Lembrando que este jogo tem uma grande dependência das condições iniciais, uma coisa boa traz uma coisa boa, o gol traz confiança e auto-estima individual e coletiva.
E, o mesmo efeito se dá quando se rouba a bola ou induz o adversário a perde-la. Trazendo confiança para quem rouba a bola, e “dúvida” para quem a perde. Por isso, o pressing alto é fundamental para se defender bem. Defender bem pode ser caracterizado por gerenciar os espaços do campo e de progressão do adversário, induzindo e manipulando o oponente (controlando o jogo). Mas, defender bem também está em conseguir ter a bola mais vezes, conseguir recuperar a bola mais vezes, consequentemente, atacando mais.
Como tudo que envolve o futebol “cientificamente”, é preciso saber realizar o “pressing alto” para se pressionar bem (para se pressionar de qualquer jeito, não). Aliás, a impressão que passa quando se pressiona de qualquer forma, é quase que de “desespero”. Uma equipe que quer muito a bola e não sabe como tê-la, tenta fazer qualquer coisa a qualquer momento. Deixando muitos espaços entre linhas de marcação, vulnerabilizando a estrutura defensiva da equipe. A contrapartida está no fato de que esta “qualquer coisa” se dá de forma intensa. Geralmente, o jogador exprime o máximo de si, o que por um lado é bom. Contudo, neste caso, não há uma sincronização e harmonia entre os “fazeres” dos jogadores. Ou seja, dar o “máximo” não é a solução, podendo até ser prejudicial, caso esse “máximo” não for organizado coletivamente.
Em termos de preceitos científicos e metodológicos, o pressing alto tem em sua referência uma “ligação” mais forte com o posicionamento/movimentação do adversário do que com o espaço e/ou o posicionamento da bola (sendo estas duas últimas referência mais fundamental na marcação zonal). Essas orientações de posicionamento/movimentação do adversário é circunstancial, ou seja, forte dependência da leitura que cada jogador tem do momento em questão. Cabe a cada jogador ler o momento e saber fazer o pressing alto. E cabe ao treinador não atrapalhar muito nesta situação oferecendo um emaranhado de regras (princípios), guiando por inteiro o comportamento do jogador, consequentemente, limitando a leitura de jogo daquele momento. Compete ao treinador oferecer uma gama variada de situações em treinos que possibilitem e capacitem os jogadores a saberem lidar com situações de pressão ou pressing (como bem sabem, “pressão” para mim é uma expressão individual e “pressing” um expressão coletiva).
O mesmo raciocínio pode ser utilizado na iniciação ofensiva sobre pressing alto (quando a equipe tenta sair com posse desde a 1˚ linha defensiva, sobre pressing daqueles que tentam diminuir os espaços ou roubar e/ou recuperar a bola).
O vídeo abaixo pretende exemplificar um pouco deste pensamento:
Alguns falam que é preciso ter “coragem” para poder ter posse sobre pressão. Penso um pouco além disso, ao meu ver é preciso saber corresponder com um satisfatório nível técnico a pressão/pressing do adversário, pois o oponente está diminuindo os espaços de atuação do portador da bola. Somando a isso, se torna imprescindível a constante movimentação e procura de linha de passe daquele que vai receber a bola, advindo do portador da bola que está sobre pressão do adversário. O que tenciona mostrar neste pequeno vídeo de uma equipe que está construindo a posse sobre pressing do adversário e com inferioridade numérica (10×11):