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Nos enganamos em pensar que o futebol é um jogo apenas de execução. Antes de fazer precisamos pensar no que fazer. Antes da execução temos a cognição, mesmo que de forma subconsciente. Não devemos cair na ilusão do “basta saber fazer” para termos sucesso nos diversos e distintos confrontos que ocorrem durante os 90 minutos. Necessitamos pensar sobre o que estamos fazendo e sobre o que fazemos (mesmo quando não há tempo para isso).

E aqui falo de subconsciente! Sim, a principal atuação do treinamento é no subconsciente! O movimento individual e coletivo foi trabalhado de um forma tão qualitativa que ficou para aquele lugar na “caixa craniana” que fica guardada as memórias de longo prazo.

Neste caso, preciso pedir para que relembremos daquele conhecimento que já vigora no campo da ciência há algum tempo: ⅔ do tempo total de realização do movimento é gasto em tomada de consciência e decisão, e apenas ⅓ é gasto em execução do movimento em si. O comportamento individual e coletivo é um hábito que se adquire na prática, e que fica “impregnado” na consciência. Se executar representa ⅓ de todo o tempo gasto no jogo, por qual motivo devemos apenas se preocupar com o executar?

Assim, fica inviável preocupar-nos somente em aumentar a velocidade/frequência/plasticidade do gesto, temos que ter uma atenção maior com relação ao “pensar rápido”, ao raciocínio e ao poder de decisão que um atleta pode vir a alcançar, sendo essa característica que diferencia um atleta de alto nível dos demais jogadores de futebol. É necessário captar e selecionar a informação relevante de forma rápida; é preciso conscientizar e decidir rápido para que os mecanismos de tomada de decisão e execução sejam também rápidos, eficazes e eficientes.

Não podemos dissociar corpo de mente; os dois interagem unidos e em mesma intensidade com o ambiente. O que foi o “Erro de Descartes” (filosofo francês) no ponto de vista de Antonio Damásio (Neurocientista), que escreveu um livro com este título. Neste livro ele fala da importância das emoções nos processos de memória. Conforme o mesmo, as emoções são conjuntos de reações químicas e neurais, visando sempre a sobrevivência de um organismo. Damásio demonstrou que razão e emoção não “jogam em campos diferentes”, contrariando a perspectiva amplamente difundida de que “decisões sensatas provêm de uma cabeça fria e de que emoções e razão se misturam tanto quanto água e azeite”. Hoje devemos reconhecer que as emoções estão implicadas nas percepções que fazemos do mundo, nas tomadas de decisões, nos raciocínios, na aprendizagem, nos processos de memorização, nas ações, na concentração, etc. E, quanto mais treinamos com “qualidade”, mais percebemos que as emoções são os pilares para um aprendizado concreto e duradouro (subconsciente).

Por isso, treino é tudo. Na teoria dos sistemas dinâmicos, entende-se que os comportamentos e as destrezas motoras se adaptam de forma intencional aos constrangimentos impostos pelo envolvimento, durante a realização de uma tarefa. Ou seja, quanto mais a alto rendimento estamos ou pretendemos estar, mais precisamos entender que o treino deve ser considerado o principal meio a se chegar em níveis mais elevados de futebol. Mas precisamos ter um treino de “qualidade”, que almeje a qualidade e não a quantidade.

Executar é uma parte do processo. Um processo que depende de outras partes. Um processo que pode ser melhorado e aperfeiçoado. Todavia, não basta executar. Aliás, se pensarmos assim, estaremos pensando de uma forma analítica um problema complexo, o que não parece de todo certo. Deixando de pensar o futebol de uma forma sistêmica. E, em outros casos, quando optamos a se predispor em seguir (ou entender, ou copiar, etc.) determinada “forma de pensar”/metodologia, se contradizer (principalmente na relação palavras x ação) não facilita a um “possível” aprender com o mentor.

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