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Nos últimos dias andei conversando com algumas pessoas sobre a iniciação no futebol, mas uma em particular me chamou bastante a atenção. Um amigo próximo, ex-jogador de futsal, me disse estar espantado, pois seu filho de 4 anos já está participando de campeonatos e se especializando em uma posição dentro da quadra! A comparação feita foi com ele próprio, dizendo que em sua época, com 4 anos, estava somente brincando na rua.
Continuei a conversa, pois se tratava de um tema muito interessante, e lhe disse que em Portugal o sub-7 joga 3×3 com golzinhos e sem goleiro. Não há campeonatos, muito menos posição fixa. O objetivo primordial é continuar desenvolvendo o gosto pelo jogo, de forma lúdica e recreativa.
O papo estava realmente agradável e por isso continuei dando alguns exemplos, como o da Europa (UEFA) que a partir do ano 2000introduziu o futebol de 7 como obrigatório para as categorias sub-10 e sub-12. Esta decisão contribuiu muito para uma melhor aprendizagem do jogo e uma formação mais eficaz, além de respeitar as diferentes fases de desenvolvimento do futebolista e servir de guia para os professores e treinadores.
Em seguida ele me fez a grande pergunta: e porquê aqui é diferente?
Bom, é óbvio que o futebol de 11 apresenta uma estrutura e um conjunto de situações muito complexas e incompatíveis para o desenvolvimento de uma criança ou de um jovem futebolista. Por isso, em 2016o ex-jogador de futebol e da seleção brasileira, Mauro Silva (atual vice-presidente de integração com atletas da Federação Paulista de Futebol), tomou a frente das ações para tentar modificar o formato de jogo do sub-11. A proposta era que em 2017, o campeonato paulista da categoria fosse realizado num campo menor (73x50m), com bolas e balizas adaptadas à idade e num formato de 9×9 incluindo os goleiros.
Pude perceber algum alívio da parte dele e por isso segui o raciocínio, dizendo que seria fundamental adaptar e adequar todo o contexto que envolve o jogo de futebol de acordo com as motivações e características dos jovens futebolistas. Ou seja, o jogo (futebol de 3, 5 e 7) praticado em campos com medidas e dimensões reduzidas reúne as melhores condições para o ensino e aprendizagem do futebol nos primeiros escalões de formação. Neste caso, é o jogo que se adapta à criança e não o contrário.
Resolvi então fazê-lo entrar no contexto! Imagine que você e teu filho estão na quadra da praça jogando basquete. O garoto vai arremessar um lance livre com uma bola oficial, estando à uma distância de 5 metros da cesta que se encontra à 3,05 metros do chão, com precisão e técnica adequadas?
Resposta: Em hipótese alguma!!!
Voltamos ao futebol e lhe disse que deveríamos pensar a respeito das dimensões da bola, do espaço de jogo, do tamanho da baliza, do número de jogadores e algumas adaptações às regras do jogo para cada escalão. Tudo isso precisa estar de acordo com os níveis físicos, fisiológicos e cognitivos do jovem futebolista. Do contrário, continuaremos observando partidas de distintas categorias em campos de futebol de 11 e nos deparando com situações nocivas como, por exemplo, quando um goleiro de 10 anos não alcança a bola após um chute, pois a bola foi muito alta e as dimensões da baliza não permitem intervenções adequadas.
Uma ideia de progressão mais adequada seria a inclusão do futebol de 3 para iniciantes (sub-7) e o futebol de 5 para sub-9 antes de chegar ao futebol de 7. Seguindo este exemplo que é bem parecido com modelos utilizados por países representativos no panorama europeu e de outros esportes coletivos, esta progressividade da relação entre o espaço de jogo e o número de jogadores contribuiria para uma melhor aprendizagem do jogo. Além disso, é um modelo que permite que cada jogador intervenha mais vezes, ou seja, aqueles que estão no jogo, realmente participam do jogo.

 

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