Entre para nossa lista e receba conteúdos exclusivos e com prioridade
Entre para nossa lista e receba conteúdos exclusivos e com prioridade

O futebol está em constante evolução, seja no que se refere ao processo de treino, bem como ao nível da ideia de jogo. A necessidade permanente de aumentar a qualidade de jogo para obter vantagem sobre os adversários e vencer os jogos, leva a que novos conceitos, variantes e estratégias sejam frequentemente desenvolvidas.
As bolas paradas – cada vez mais valorizadas no futebol – não fogem à regra. De fato, esta é uma questão tão valorizada que alguns clubes já possuem um treinador exclusivo para as bolas paradas. O italiano Gianni Vio, com passagens por Leeds, Al Nasr, Fiorentina, Milan, e autor do livro Palla Inativa: un ataccante da 15 reti, é um exemplo.
Analisando o que tem sido feito de uns anos para cá, me chama a atenção algumas equipes que organizam suas cobranças de escanteio ofensivo de uma maneira um pouco diferente do que tradicionalmente se faz.
O que habitualmente vemos é a presença de um único cobrador nos escanteios. Porém o que acontece quando posicionamos dois jogadores ao invés de um?
Eis algumas vantagens que penso que a equipe poderá obter sobre seu adversário com este posicionamento inicial
[1]:
1)  Normalmente a equipe que ataca, posiciona um jogador a mais no equilíbrio defensivo, para garantir vantagem numérica em um possível contra-ataque do rival (exemplo: se o adversário posiciona dois jogadores na linha do meio campo, a equipe que cobra posiciona três). Conforme ilustrado no exemplo da figura “A”, tendo em conta esta vantagem numérica no “equilíbrio defensivo”, e o cobrador (quando há apenas um), a defesa adversária possui vantagem numérica na zona da grande área de 2 + goleiro.

Neste exemplo, com 1 jogador (equipe vermelha) na cobrança, a defesa (azuis) tem vantagem numérica de 2 jogadores (de linha) + goleiro dentro da área.

Porém, conforme vemos na figura “B”, se seguirmos a mesma lógica de raciocínio, ao colocar dois jogadores na cobrança, a tendência é que o adversário seja “obrigado” a levar dois jogadores para neutralizar qualquer tentativa da equipe vermelha em levar vantagem numa cobrança curta.

Isso fará com que a vantagem numérica que levavam dentro da área se reduza, e se a equipe que cobra tiver jogadores com bom jogo aéreo, colocar dois jogadores para cobrar é vantajoso, pois há mais espaço de manobra para esses jogadores atuarem.

Seguindo a lógica anterior, agora o vermelho possui 2 cobradores, obrigando o azul a retirar 2 jogadores de dentro da área. Agora, a vantagem numérica do azul é de apenas 1 jogador (de linha) + goleiro dentro da área.

Exemplo prático da imagem anterior – Campeonato Brasileiro 2018: América Mineiro com 2 cobradores, reduz a superioridade numérica gremista dentro da área, já que o Grêmio evita a cobrança curta colocando 2 jogadores na zona da bola.

Existe ainda a possibilidade do treinador da equipe que está realizando a cobrança, optar por deixar o equilíbrio defensivo no “mano-a-mano”. Neste caso, a vantagem ofensiva aumenta ainda mais (comparando com a situação “A”), uma vez que dentro da área passará a haver igualdade numérica (excluindo o goleiro), conforme ilustra a figura “C”.

2) Se o adversário estiver desconcentrado e demorar para ajustar, não enviando ninguém para neutralizar os 2 na cobrança, a equipe poderá jogar curto e provocar desordem no posicionamento do adversário. Equipes que defendem os escanteios em zona, em jogadas curtas, podem cometer o erro de todos saírem em direção à bola, desprotegendo a zona do segundo poste, o que poderá ser aproveitado a partir de uma saída curta.

3) Se o adversário enviar apenas um jogador, a equipe que ataca, poderá fazer 2×1 e obter vantagem na ação ofensiva subsequente.

Na imagem acima, De Bruyne e Silva fazem 2×1 sobre Mané, em função da superioridade numérica criada em torno da bola (Manchester City 2018 – Pep Guardiola).

Neymar e Messi se aproveitam da desatenção do Roma para realizarem uma situação inicial de 2v1. É a partir deste lance que Luís Suarez marca o terceiro gol do jogo, pela Champions League (Barcelona 2015 – Luis Enrique).

4) Existem equipes que organizam seu posicionamento defensivo a partir do conhecimento do pé que cobrador utiliza para realizar a cobrança. Por exemplo, equipes que defendem um escanteio cobrado com o “pé aberto” se posicionam de maneira diferente de quando a cobrança vem de “pé fechado”. Tendo dois jogadores na mesma bola, poderá causar perturbação e confusão no posicionamento da equipe que defende.

Na imagem acima, em virtude do posicionamento do corpo de Rakitiće Messi, verificamos a presença de dois cobradores em potencial. Quem irá cobrar? Pé aberto ou fechado? (Barcelona 2015 – Luis Enrique)

5) Tendencialmente, este posicionamento gera facilidades para sair jogando curto, caso a equipe – pelos mais variados motivos – não queira arriscar perder a posse da bola, lançando-a diretamente para a área.

Acúmulo de jogadores em torno da cobrança para manter a posse da bola no campo de ataque. “Queimar tempo” durante os minutos finais do jogo (Palmeiras 2018 – Felipão)

6) Algumas equipes que posicionam 2 na cobrança, tão logo a bola rola, propositalmente acumulam de 3 à 5 jogadores em torno da cobrança, realizando um pequeno rondo antes de terminar a jogada, algo que pode ser muito bom em caso de possuir jogadores capacitados para realizar este tipo de jogada, dada a superioridade numérica/posicional criada e, principalmente, pela dificuldade do adversário conseguir realizar rapidamente os ajustes de marcação.

Diante do cenário atual, penso que posicionar mais de um cobrador é uma ideia que veio para ficar, mas não no sentido de se sobrepor ao que é habitual (lançar a bola diretamente para a área com apenas 1 cobrador), mas para possibilitar variabilidade, enriquecendo e aumentando as possibilidades ofensivas nas cobranças de escanteio, sempre com o intuito de criar vantagem sobre o adversário e alcançar a vitória.

Vale lembrar que no futebol não existe “fórmula secreta”, nem certo e errado. Tudo tem suas vantagens e desvantagens, cabendo ao treinador saber a característica dos seus jogadores e do adversário para criar situações benéficas à sua equipe

 
[1]Posicionamento inicial vs “elemento surpresa”: Sublinho a palavra posicionamento inicial, para diferenciar equipes que tem como um padrão a colocação de 2 jogadores próximos a bola antes do apito do árbitro, das equipes que circunstancialmente aproximam um jogador para próximo da bola com a finalidade de realizar uma jogada curta distraindo momentaneamente o adversário.

Autor

Compartilhe

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on whatsapp
Share on email
Share on pinterest

Deixe o seu comentário

Deixe uma resposta

Mais conteúdo valioso