Uma proposta inovadora foi colocada em pauta pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) no Congresso Técnico do principal escalão deste esporte no Brasil, realizado há poucas semanas. Era ideia limitar em uma (1) a troca de treinador por clube durante o campeonato brasileiro deste ano. Em outras palavras, a equipe só poderia mudar de técnico apenas uma única vez, nas trinta e oito rodadas do certame. A proposta não foi aprovada. Mas qual a relação desta sugestão com a gestão e o marketing do futebol.
Em primeiro lugar, a estabilidade no emprego. O limite traz garantia de que o profissional pode se instalar em um lugar por determinado tempo, o que torna menos difícil o convívio familiar, o que contribui com a vida pessoal do colaborador. Em isso acontecendo, imagina-se melhor ambiente de trabalho (que favorece a gestão do futebol), que sugere maior e melhor produtividade (medida em resultados). Em termos de marketing, os resultados podem contribuir com o posicionamento do produto (o clube e seus jogos) no mercado.
O limite do número de mudanças de treinador também sugere melhor planejamento por parte da equipe. Com isso, outros aspectos podem ser influenciados, tais como: filosofia, identidade e rotina de trabalho; unicidade e entrosamento. Fortalecimento e consolidação da cultura do clube, refletida dentro de campo e mantida temporada após temporada. Contratação de atletas, membros da comissão técnica e – se for o caso – de treinadores, deverá obedecer esta cultura.
O estabelecimento destas práticas permitirá, com o tempo, o investimento sustentável nas categorias de base e a contenção de despesas exorbitantes em busca de imediatismos que visam favorecer grupos políticos e de torcedores que exercem influência no cotidiano da instituição. Títulos sim são importantes. Ganham eleições. No entanto, ainda mais importante é o legado do clube e sua cultura para a vida esportiva da cidade, da região e do país. Com o devido respeito, mas não é o Arsenal (Inglaterra) o clube britânico mais vencedor. Ao mesmo tempo, é corriqueiro já há alguns anos as declarações sobre crise de identidade no (historicamente vencedor) Manchester United.
Vê-se, assim, uma gestão eficaz e eficiente. Obviamente é preciso quadro de colaboradores profissionais voltados para a instituição. Diferentemente da situação com funcionários indicados, a fim de colaborar com grupos ou chapas específicas, característica intrínseca à falta de profissionalismo, que por si só é contraproducente.
Independente da palavra (chapa ou grupo) – na ausência de profissionalismo – o funcionário indicado colabora com a “panela”.
Em termos de marketing, a questão da cultura e da identidade da instituição são reforçadas. É incentivada a história, que constrói uma tradição, que gera empenho e lealdade daqueles que estão envolvidos com a instituição. Estas características são capazes de viabilizar interessantes produtos.
Com tudo isso, é sim importantíssima que uma pauta como esta, sobre o limite de trocas de treinadores seja colocada em discussão. Afinal, a prazo, ela só tem a contribuir com a gestão do futebol no Brasil, em estabelecer uma própria cultura e ambiente na condução política e esportiva dos clubes que praticam a modalidade, quer seja de maneira salariada ou não. Não passou desta vez. No entanto, se a insustentabilidade financeira e esportiva prosseguirem, talvez em 2020 a história seja diferente.