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A globalização consiste, de forma bem resumida, no processo de integração econômica, cultural, social e política, gerado pela necessidade do capitalismo de buscar e conquistar novos mercados. Mas qual seria a relação da globalização com o futebol?

Até o final da década de 70, a economia do futebol se limitava à manutenção do sistema federativo dos clubes, sendo uma atividade sem fins lucrativos. Já no início da década de 80, o futebol passou a ser um produto tipo exportação, iniciando-se um grande fluxo de dinheiro e influência neste mercado, abarcando jogadores, times, campeonatos, canais televisivos, patrocinadores etc.

Isso se deu pela internacionalização do esporte, ocasionada, justamente, pelo fenômeno da globalização. O futebol deixou de ser apenas uma prática esportiva, se tornando um dos maiores mercados financeiros mundial, sendo que um dos seus principais alavancadores foi o televisionamento dos jogos ao vivo, além da introdução da publicidade de grandes marcas.

Empresas multinacionais começaram a investir maciçamente nos campeonatos, times e, principalmente, jogadores, estampando suas marcas nos uniformes e ao redor dos gramados nos estádios. Assim, o futebol, e tudo aquilo ligado a ele, passou a ser tratado como mercadoria, em que há muito mais em jogo do que apenas fazer ou defender gols.

Há alguns anos, um braço da globalização começou a ganhar uma força surpreendente e, até mesmo, assombrosa, no mercado futebolístico. A internet, aqui mais representada pela mídia, seja ela manifestada através dos jornais, telejornais ou redes sociais, deixou de apenas informar sobre jogos e campeonatos, passando a buscar e divulgar informações internas dos clubes e, principalmente, das atividades extracampo dos jogadores.

Como tudo nessa vida, existe o lado bom e ruim da influência da internet no futebol. Enquanto algumas notícias divulgadas fazem times e jogadores aumentarem sua popularidade, expandindo não apenas os seus lucros, mas o de todas as empresas licenciadas e patrocinadoras envolvidas, há outras, em contrapartida, que podem desestabilizar por completo a realidade do clube e dos outros envoltos, leia-se: jogadores de futebol.

Um exemplo recente de como a mídia pode influenciar no mercado futebolístico, é o caso da recontratação do jogador Robinho pelo Santos Futebol Clube. 

Conforme amplamente divulgado, no sábado, 10 de outubro, o Santos anunciou a contratação de Robinho, sendo declarado pelo clube como “a última pedalada”. O que o clube e o próprio atleta não esperavam é que a notícia seria duramente criticada pelos torcedores e grande parte dos comentaristas influentes do país.

As críticas se deram pelo fato de Robinho ter sido condenado em primeira instância, em 2017, pela justiça italiana, a nove anos de prisão por violência sexual em grupo. Ele e cinco amigos foram acusados de violentarem sexualmente uma jovem albanesa em 2013 na cidade de Milão. A sentença foi dada de acordo com as evidências coletadas através de interceptações telefônicas realizadas contra os acusados.

Mesmo sabendo da condenação, o Santos preferiu realizar a contratação do atleta, se remetendo aos tempos de glória vivenciados pelo jogador no time como uma maneira desta contratação ser bem aceita pelos torcedores. Um dos principais motivos da contratação era financeiro: o clube tem um débito com o atacante e queria aproveitar os cinco meses de contrato para abater a dívida.

Mesmo sofrendo grande represália dos torcedores do Peixe e de outros amantes do futebol, além de pressão por parte dos patrocinadores, chegando até mesmo a perder o patrocínio da Orthopride, o Santos preferiu, no primeiro momento, seguir com a contratação de Robinho.

O estopim para a suspensão do contrato entre o clube e o atleta, foi a divulgação pelo Globo Esporte de parte das transcrições dos áudios entre Robinho e outros envolvidos no suposto crime. As falas do jogador geraram ainda mais repúdio à permanência dele no clube, além de ter levado o principal patrocinador do time santista ameaçar romper o contrato, o que fez com que o Santos se visse obrigado a suspender o contrato com o jogador.

Analisando a contratação de Robinho pelo lado jurídico, o fato de o jogador ter um processo criminal correndo em seu desfavor, não o impede de ser contratado por algum clube e/ou empresa – função social, sobretudo considerando que ainda existe discussão acerca do fato na justiça italiana.

Em que pese a decisão não ter transitado em julgado, restando ainda ser avaliada pelo Tribunal de Apelação, Robinho está sendo tratado como culpado pela internet, o que o leva a arcar com consequências que não atingem apenas sua vida privada, mas também seu lado profissional.

Se não fosse pela pressão da internet sobre os patrocinadores e clube, o contrato provavelmente estaria ativo, até mesmo por inexistir qualquer impedimento legal para a contratação e permanência do jogador no clube. 

Portanto, nos resta questionar até que ponto é saudável essa interferência da internet nas atividades extracampo dos jogadores.

Aqui estamos retratando um caso sensível, um crime abominável e que, se confirmado pelas próximas instâncias, os culpados não merecem qualquer ato de indulgência por parte da sociedade, devendo cumprir as rigorosas penas eventualmente culminadas.

Entretanto, há outros casos onde não envolvem crimes, mas opiniões pessoais dos jogadores e sua vida privada, que acabam prejudicando contratos, parcerias e até mesmo sua permanência no clube, por não serem aceitas no “Tribunal da Internet”, o que vai totalmente contra ao direito à liberdade de expressão garantido a todo cidadão.

Assim, em que pese a globalização ter ajudado e muito na propagação e crescimento do futebol e do mercado que o rege, a vida pessoal dos jogadores acabou virando um anexo de sua profissão, sendo que não importa mais apenas o que acontece dentro das quatro linhas do gramado, mas também tudo que sobrevém extracampo. 

Contudo, não podemos deixar de reconhecer a importância do avanço da inclusão no futebol de pautas antes consideradas tabus, como a luta contra o racismo, homofobia, machismo e outras formas de preconceitos, assim como o papel de apoio a esses movimentos que as grandes marcas estão desenvolvendo.

Atitudes imorais e que atentem contra a dignidade de qualquer pessoa, devem sim ser repudiadas e combatidas por toda a sociedade, não importando se está partindo de um cidadão anônimo ou de uma celebridade prestigiada, como o Robinho, devendo, no entanto, ser observado o bom senso e razoabilidade, para que imagens e carreiras não sejam manchadas por alegações e acusações que eventualmente não correspondam à realidade dos fatos.

*As opiniões dos nossos autores parceiros não refletem, necessariamente, a visão da Universidade do Futebol

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