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Crédito imagem – Jogos estudantis do Rio de Janeiro/Divulgação

Eu cresci jogando futebol na rua. Quando queríamos variar um pouco, eu e meus vizinhos jogávamos queimada ou vôlei. Mas o futebol era o preferido, e por isso havia regras rígidas: quem chutar a bola, tem que ir buscar; se passar alguém na rua, todo mundo tem que parar; e se vier carro, tem que parar também; lembrando que não pode chutar a bola no portão da casa de fulano, e se a bola cair na casa de ciclano, decidimos no jokempô quem vai buscar. Decerto, não há quem não sinta saudade desse período e quem não tenha aprendido algo com essa fase. 

Concomitantemente aos jogos e brincadeiras de rua, eu disputava as Olimpíadas Estudantis, que era mais um caminho de aprendizado. Por cinco anos de minha jornada escolar, o meu ano letivo iniciava com um chamado dos Professores de Educação Física para participar das turmas de treinamento de Futsal e a partir das respostas positivas eles estampavam os nossos nomes num pedaço enorme de papel kraft no pátio da escola. Dali em diante era só alegria e atenção ao que estava por vir, que era: representar a escola numa competição externa, vestir o uniforme completo que indicava qual escola nós pertencíamos, sair de lá com um ônibus fretado até o local do jogo, aprender a controlar o frio na barriga e não deixar ele atrapalhar em nada, entrar na quadra junto com as colegas e treinadores, ouvir apito daqui e dali, gritos disfarçados de instruções vindos de todos os lados, aplicar as jogadas ensaiadas em quadra, dar o melhor de si naqueles três tempos de oito minutos, voltar para a escola e, nos dias (ou anos) seguintes, recomeçar o ciclo (com um frio na barriga menor, talvez). Tudo isso fazia parte da atmosfera que envolvia os jogos escolares, de que até hoje lembro com um carinho imenso.

Por tudo isso que o esporte me despertava e por mais algumas coisas, escolhi a Educação Física e virei Professora. Certa vez ouvi alguém dizer que no exercício da docência eu deveria ter paciência para “esperar o presente virar passado…”. Outros, numa linguagem menos filosófica, me aconselhavam o seguinte: “não adianta esperar resultados agora, pois só iremos colher no amanhã. E provavelmente, nós nem teremos consciência do que será colhido. ”

Entendendo o poder que o esporte tinha tido na minha formação, eu busco levar isso aos meus alunos. Vejo o esporte como um meio fundamental para a difusão de valores. Valores não somente esportivos, mas humanos. Olha aí a força do esporte na escola e porque ele tem que ser mais valorizado nesse contexto. Nesse sentido, ainda hoje meus olhos brilham quando eu entro numa quadra e lembro daqueles momentos de treinos e de jogos; quando eu ouço sons de apito e um falatório de crianças e adultos no meio de qualquer jogo. Sabe aquele frio na barriga? Eu ainda sinto antes, durante e após os jogos dos meus alunos. E isso para mim não é um mero acaso. O esporte me desperta algo que não se explica, não se compreende, apenas se sente. 

Toda essa mistura de sentimentos me fez observar o mesmo brilho nos olhos em cada criança com a qual pude ter contato, a mesma importância para um simples chamado para participar das turmas de treinamento, a mesma felicidade em vestir a camisa e representar a escola… notei que, independentemente de vitória ou derrota, eles iam ali para usufruir de toda aquela atmosfera indescritível da melhor maneira que, sem saber direito, marcaria para sempre a trajetória de cada um. 

A prática esportiva, independentemente do contexto, despertou em mim as melhores sensações e influenciou diretamente em minha formação; não de atleta, mas de cidadã. Preciso dizer que fui inspirada pelo esporte e por professores que transformaram minha trajetória. Por isso, aos professores que me inspiraram, a minha gratidão eterna; aos professores leitores, talvez os resultados virão a longo prazo, e pelos caminhos naturais da vida possivelmente não tenhamos mais contato com nossos alunos e nem ciência dos frutos colhidos, mas saibam que, ao tratar o nosso objeto de ensino com paixão, os resultados obtidos se mostrarão não só no campo esportivo, mas na forma de alunos conscientes de suas próprias ações, atestando, assim, a quadra como ambiente de preparação para a vida.

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