Crédito imagem – Jogos estudantis da Bahia/Divulgação
Nesta série de Princípios Pedagógicos temos refletido sobre importantes temas até agora, como a importância de a formação esportiva ensinar o gosto pela prática e pela modalidade, bem como a necessidade de o(a) professor(a) ou treinador(a) ser capaz de acolher e estimular o desenvolvimento pleno de todos e todas do seu grupo de alunos(as) ou atletas. Esses ensinamentos partem dos princípios pedagógicos de “Ensinar a gostar de futebol” e “Ensinar futebol a todos”. Qual é a sua opinião sobre eles? Já os conhecia? Fazem parte da sua prática também?
Nesta semana venho abordar outro tema fundamental à prática pedagógica, seja ela contextualizada à iniciação, especialização ou alto rendimento. Se caminharmos pelas escolas e clubes de futebol nos depararemos com aulas e treinos bastante singulares. Cada professor(a) ou treinador(a) possui a sua essência, suas verdades e seus métodos de aplicar o conhecimento adquirido ao longo de sua carreira. A forma de falar com os alunos para explicar uma atividade, a maneira de orientar uma atleta à beira do campo, a escolha dos conteúdos planejados para serem aperfeiçoados em determinada sessão de treino, são todas intervenções construídas consciente ou inconscientemente na nossa forma de trabalhar.
O treino ou a aula é um dos momentos mais especiais do exercício da nossa função, enquanto profissionais da formação e treinamento esportivo. Sabemos que cada segundo é valioso e pode ser bem ou mal aproveitado para favorecer a aprendizagem ou os comportamentos que desejamos despertar no nosso grupo. O tempo é tão escasso para fazermos tudo que queremos fazer, não é mesmo? Isso ocorre tanto para a nossa turma ou equipe quanto para a nossa vida. Precisamos saber o que fazer com o tempo que temos. O que pudermos intervir para melhorarmos individual ou coletivamente aqueles e aquelas sob nossa liderança, é nosso trabalho não deixar passar a oportunidade.
É triste andar pelas escolas e clubes e ver profissionais gastarem o tempo que têm de aula ou treino com qualquer coisa, sem terem pensado bem sobre o que poderiam ter feito de melhor naquele momento. Por outro lado, é louvável ver profissionais da nossa área procurarem meios e métodos cada vez mais eficazes de transformarem o ambiente de aprendizagem que lideram em algo cada vez mais poderoso sobre o que desejam ensinar. Ninguém nasce sabendo dar uma boa aula ou um bom treino, mas podemos aprender. Pois caso alguém nos pergunte: por que sua aula (ou seu treino) é assim? Devemos responder com tranquilidade e consciência das razões do que estamos fazendo. Se a pessoa tiver uma ideia diferente, que nos convença com argumentos melhores que os nossos. Não teremos problema em mudar, já que o que queremos é “ensinar bem futebol a todos”.
“Ensinar bem futebol a todos (e todas)” é o princípio pedagógico mestre deste artigo. Como já ouvi algumas vezes do Professor João Batista Freire: “não basta fazer com que todos participem plenamente da aula, é preciso ensinar bem o futebol!”. De fato, as crianças, adolescentes ou adultos que estiverem sob a minha liderança, precisam melhorar no futebol a partir do que eu escolho fazer com o tempo de intervenção que tenho com eles ou elas. Se alguém perguntar: por que você faz o aquecimento dessa forma e não de outra? Por que você treina fundamento com esse tipo de exercício e não com esse? Por que você para o treino para conversar? Por que você usa o jogo com essas regras e não com outras? A pessoa que se prepara para dar um treino ou uma aula terá que saber responder. Novos métodos de treino podem surgir e superar os meus. Eu preciso estar atento para perceber isso também. Contudo, jamais posso ir para uma aula ou treino sem ter claras as razões sobre como vou ensinar o que me propus a ensinar. O desafio é saber cada vez mais, para ensinar cada vez melhor.
Sobre este tema, poderíamos ir para um caminho de reflexão relacionado às diferentes abordagens pedagógicas ou metodologias de treino. Eu tenho bem claras quais são as linhas que eu sigo. Busco fundamentar minha prática a partir da Pedagogia da Rua e a Pedagogia do Jogo, utilizando uma metodologia mais próxima da sistêmica possível, fundamentadas nas minhas experiências e estudos. Se me perguntarem sobre qualquer atividade do meu treino ou cada intervenção minha, eu terei como explicar e a resposta deverá ser coerente com essa linha de pensamento. Pode ser que eu erre, que eu tenha pensado errado nessa parte, ou até agido de maneira automática. Somos serem falíveis, e não tem problema com isso. Devemos reconhecer que erramos e, em especial, porque erramos. Mas a reflexão interna para não repetir o erro faz parte fundamental deste princípio pedagógico.
Poderia me alongar sobre o porquê escolhi essa abordagem pedagógica e metodologia e não outra, mas não é o foco deste texto. Em outra oportunidade, podemos falar sobre esse tema. Eu gosto muito dele, inclusive. No entanto, o foco aqui é despertar a importância de professores(as) e treinadores(as) perceberem que cada segundo da sua aula ou treino pode ser melhorado, e é sua responsabilidade torná-lo mais eficaz do ponto de vista da aprendizagem. Aquilo que decidimos ensinar precisa ser ensinado. Sabemos que alunos e atletas aprendem de formas diferentes, em tempos diferentes. Precisamos entender esse processo e tornar o nosso trabalho efetivo. Só assim nos valorizaremos como profissionais, asseguraremos o direito daquela pessoa a ter uma educação esportiva competente, e poderemos dormir com a consciência tranquila de, como disse certa vez Mario Sergio Cortella, estarmos fazendo o melhor que podemos, até termos condições de fazer melhor ainda.