Entre para nossa lista e receba conteúdos exclusivos e com prioridade
Entre para nossa lista e receba conteúdos exclusivos e com prioridade

Acabo de ler a reportagem do icônico diretor de futebol, atualmente, do Fluminense. Angioni é um profissional muito importante para o futebol e traz contribuições relevantes. Num ambiente dominado pela desinformação, ignorância e preconceito, Angioni traz necessário olhar para a saúde mental e para psicologia. 

No entanto, preocupa-me o viés desse olhar. Um olhar, aparentemente, clínico. E o olhar clínico para as questões mentais, nesse momento, mais afasta a presença de psicólogos e psicólogas esportivas e psiquiatras nos clubes de futebol do que abre portas. E mais do que uma visão clínica, explicita-se uma abordagem medicamentosa. Diz Angioni em sua entrevista: “Futebol de clube já está na hora de ter psiquiatras, porque você vai precisar eventualmente dar remédio”. 

Tenho defendido, há anos, a presença da psicologia esportiva nos clubes. Não faltam motivos e argumentos que justifiquem sua presença nas comissões técnicas. Mas não defendo qualquer tipo de intervenção. A psicologia, assim como a psiquiatria, possui diferentes formas de olhar, e intervir, sobre determinado fenômeno. No caso da psicologia do esporte, pelo menos com base no que já há de estudos nesse campo de conhecimento, tenho notado que intervenções puramente clínicas mais afastam psicólogas desse espaço de intervenção do que as aproximam.

Entendo que a psicologia clinica e a psicologia esportiva não sejam excludentes. Pelo contrário, são complementares. No entanto, são papeis a serem desempenhados por profissionais diferentes, preferencialmente em espaços diferentes (um dentro e outro fora do clube). Como já afirmei em outras oportunidades, a psicologia do esporte continuará não assumindo o espaço, importância e reconhecimento que lhe cabe se continuarmos esperando que atletas se dirijam à sala da psicóloga esportiva no clube para marcar uma consulta a fim de compreender e superar problemas de depressão, pânico, alcoolismo ou outras manifestações de sofrimento psíquico.   

Se essa premissa vale para a psicologia do esporte, campo de conhecimento já em certo nível de desenvolvimento, imaginem para a psiquiatria. A psiquiatria esportiva, especialidade da psiquiatria que, por sua vez, é uma especialidade da medicina, ainda engatinha nesse sentido. Há muito para se desenvolver no âmbito das pesquisas e, principalmente, no âmbito das intervenções com o futebol. Começar dessa forma, ou seja, medicando atletas para que eles consigam lidar com a pressão extrema que recebem cotidianamente na sua prática profissional, me parece um erro. 

Comecemos ampliando e qualificando as pesquisas nessa área. Comecemos determinando os objetivos, metodologias e estratégias de intervenção no âmbito do futebol. Comecemos ampliando e qualificando os argumentos para a sua presença nas equipes médicas do futebol profissional. Comecemos apresentando aos atletas bons motivos para que eles compreendam e acreditem que a psiquiatria tem muito a contribuir com sua saúde mental e, consequentemente, com sua atividade profissional. 

Caso contrário, tendo a acreditar que a psiquiatria esportiva começará seu jogo no futebol profissional com grandes probabilidades de perdê-lo!

Texto por: Rafael Castellani.

*Este é um conteúdo independente e não reflete, necessariamente, a opinião da Universidade do Futebol.

Compartilhe

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on whatsapp
Share on email
Share on pinterest

Deixe o seu comentário

Mais conteúdo valioso