MARX, QUEM DIRIA, CHEGA AO FUTEBOL. MAS SERÁ QUE TEMOS O QUE COMEMORAR?

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Karl Marx é, sem dúvidas, um dos maiores e mais importantes pensadores e filósofos da era moderna! Apesar do tempo histórico de seus escritos, suas ideias, até hoje, carregam traços de contemporaneidade. Que a teoria marxista nos ajuda muito a compreender a sociedade que vivemos, sobretudo devido ao modo de produção capitalista que nos guia, não temos dúvidas.

No âmbito da área acadêmica da Educação Física brasileira, já se faz presente estudos voltados à economia política do esporte.

Já que nosso tema é o futebol, vale destacar livro publicado por Wagner Matias, jovem pesquisador do grupo de pesquisa e formação socio-crítica em políticas de esporte e lazerAvante – da Faculdade de Educação Física da UnB, que aos seus 37 anos de idade sucumbiu, em 2021, à pandemia sanitária – e política – que nos atingiu de modo avassalador.

Sua Tese de Doutorado, A economia política do futebol e o “lugar” do Brasil no mercado-mundo da bola, defendida em dezembro de 2019 – no ano seguinte publicada em livro pela editora Appris sob o título Futebol de Espetáculo -, se reporta à forma espetacularizada do futebol e não do espetáculo em si ou mesmo do futebol de alto rendimento. O futebol de espetáculo é uma mercadoria especial permeada pela presença dos veículos de comunicação (sobretudo pela televisão), grandes grupos econômicos e financeiros, com um público consumidor e atletas vistos como mercadorias. Assim, o livro procura desvelar o que está sendo o futebol espetacularizado no contexto do capitalismo tardio: com alguns clubes e ligas globais cobiçados por grandes grupos econômicos, acompanhados por bilhões de pessoas em todo o planeta, produtor de força de trabalho do atleta e de espetáculos, capaz de produzir mais-valia e, também, de ser um “palco” de valorização e de fonte de criação de outros produtos.

Categorias marxistas desenvolvidas com vistas à compreensão do modus operandi do modo de produção capitalista, são acionadas com maestria pelo jovem pesquisador. Dentre elas, optamos por destacar uma, qual seja, a de mais-valia, para refletirmos sobre os jogadores de futebol. Afinal, se o esporte é produção humana, se o futebol é parte constituinte de nossa cultura e se o atleta profissional desta prática social representa um papel de destaque em nossa sociedade, entendemos pertinente tecermos considerações sobre os trabalhadores da bola e a forma ganha pela força de trabalho que traduzem.

Não fomos longe buscar o entendimento de “Mais-valia”. Recorremos – vejam só! – ao preparaenem.com. Nele, a garotada que está buscando ingresso na educação superior saberá que mais-valia é um conceito criado por Karl Marx para explicar o lucro dentro do capitalismoSegundo Marx, a mais-valia é o excedente de trabalho realizado pelo trabalhador que não é pago pelo capitalista, mas é apropriado por ele na forma de mercadoriaA mais-valia é, portanto, um processo de exploração da mão de obra assalariada que gera valor de troca para o capitalista.

Muitos pesquisadores, dentre eles os dois autores deste texto, têm se dedicado e refletir sobre o processo de coisificação e mercadorização do jogador de futebol. Como vendem sua força de trabalho, seu “pé-de-obra”? Muitos dos estudos e textos publicados corroboram a ideia de que o jogador de futebol é entendido e tratado por grande parte daqueles que compõem o contexto do futebol profissional como uma coisa, uma mercadoria e um produto que pode ser comprado, vendido, trocado e descartado tão logo perca seu valor-de-uso (outra categoria marxista).

Não à toa, referências às equipes futebolísticas como máquinas e dos seus jogadores como peças, são bastante comuns, até mesmo entre os próprios atletas. Ainda que alguns, sejam eles integrantes de comissões técnicas, dirigentes, jornalistas e acadêmicos, venham se esforçando para romper com esse olhar e, principalmente, humanizar a relação com o jogador, não nos resta dúvidas que a força do mercado, na lógica do modo de produção capitalista, é significativamente mais poderosa.

Assim, ao invés de humanizarmos as relações trabalhistas entre jogadores de futebol e os clubes esportivos, dando ao trabalhador maior autonomia e poder em relação à sua força de trabalho estamos, cada vez mais, reforçando seu atributo de mercadoria. O jogador de futebol é visto atualmente como um dos principais ativos dos clubes, afinal, são importantes fontes de receita, tanto para os clubes associativos quanto, e principalmente, para os clubes empresas e Sociedades Anônimas do Futebol (SAFs).

E para que esse ativo se torne ainda mais lucrativo para os clubes e agentes, os contratos passaram agora a explicitar em suas cláusulas um percentual de ganho futuro com a… mais-valia do jogador. Ou seja, se o clube que comprou os direitos federativos de um atleta, o revender para outro clube por valor superior ao pago, o clube vendedor receberá um percentual referente a este lucro obtido.

Sim, nessa história, o trabalhador da bola também leva a sua parte. E, em alguns casos, essa parte representa valor tão exorbitante que mascara a realidade da absoluta maioria de atletas, cujos rendimentos não ultrapassam os 5 salários mínimos.

Como vimos, Marx chegou ao futebol para que entendamos melhor como ele, futebol, se insere na lógica capitalista. Falta agora chegar com seu espírito revolucionário para que também o futebol transcenda essa lógica por outra de natureza humanizada.

Texto por: Rafael Castellani e Lino Castellani Filho

*Este é um conteúdo independente e não reflete, necessariamente, a opinião da Universidade do Futebol.

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