Por: Rafael Castellani
É comum vermos atletas que se destacam em um clube e, quando transferidos para outro, não conseguem repetir seu desempenho esportivo. E vice-versa. São também bastante frequentes os casos de atletas que não vivem “boa fase”, apresentando performance muito abaixo da esperada, e após mudanças na comissão técnica passam a jogar muito melhor. O mais recente, e evidente, caso que me vem à cabeça é o do atleta do Corinthians, Yuri Alberto. De extremamente criticado pela mídia e torcida, ridicularizado até em certos momentos, protagonizando com o treinador um desentendimento constrangedor, após a saída deste técnico, há uma melhora significativa na sua performance, fazendo um gol atrás do outro, se tornando o artilheiro do Campeonato Brasileiro.
Há muitos fatores que podem ter influenciado a mudança deste cenário, mas já podemos descartar uma à priori: um jogador de futebol não “desaprende” a jogar bola, muito menos volta a aprender, de “uma hora para outra”. Dentre os fatores viáveis que poderíamos elencar, há aqueles de questões táticas, o apoio psicológico que manifestou ter buscado e, o que gostaria de destacar neste texto, a mudança no clima motivacional.
Afinal, o que é o clima motivacional?
São as condições de um ambiente, sobretudo sob aspecto psicológico, que determinam ou orientam, para a tarefa ou para o ego, os motivos que as pessoas encontram para se dirigir a uma tarefa e/ou se relacionar com as pessoas que fazem parte deste ambiente.
Parto do pressuposto que ninguém tem a capacidade de motivar diretamente o outro. Somente a própria pessoa, ao encontrar motivos que o fazem dirigir a uma tarefa ou meta, possuem essa capacidade. Mas, gestores, dirigentes e treinadores podem (e devem) criar climas motivacionais que favoreçam essa motivação. Ser respeitado e acolhido, dotar de sentimentos de justiça, ser querido e ter pessoas do seu círculo próximo (amigos e familiares) por perto, ser bem remunerado e receber em dia, por exemplo, são condições que criam um clima motivacional positivo.
É justamente devido ao clima motivacional criado nesta volta do Neymar ao futebol brasileiro que trago como hipótese seu, e do Santos, sucesso e retomada do bom futebol. Um atleta feliz, bem, acolhido, tratado com respeito e carinho, emocionalmente equilibrado e que trabalha num ambiente harmonioso “tem tudo para certo” e desempenhar esportivamente o que ele pode. Até mesmo um atleta que vem sofrendo ultimamente com inúmeras lesões, sob essas condições, provavelmente se sentirá melhor para fazer aquilo que faz tão bem: jogar futebol.
É inegável e indiscutível o talento e qualidade técnica do Neymar. Por isso que, se criado, de fato, um clima motivacional orientado para a tarefa e que, consequentemente, Neymar venha focado em retomar seus melhores momentos esportivos e reassumir “seu posto” na seleção brasileira, dificilmente sua volta ao futebol brasileiro e ao seu clube de coração não tenha sido uma decisão acertada.
Foto: @RaulBaretta_Photo / Santos FC