Inteligência emocional: Um olhar sobre o futebol

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Por: Maurício Rech

A população do Brasil lidera mundialmente em níveis de ansiedade, conforme apontam dados recentes da Organização Mundial da Saúde (OMS), o que se reflete diretamente no esporte. Atletas de futebol, expostos à pressão por resultados, às críticas da mídia e às expectativas de torcedores, enfrentam desafios emocionais intensos. Além disso, o uso excessivo de redes sociais e tecnologia tem sido identificado como um fator que contribui para o aumento da ansiedade entre os jovens brasileiros (45% dos casos de ansiedade entre jovens de 15 a 29 anos estão relacionados ao uso intenso dessas plataformas). De forma geral, a ansiedade elevada pode comprometer tanto o desempenho profissional quanto a saúde mental, causando déficit de concentração, tomada de decisões impulsivas e aumento do estresse competitivo. Nesse contexto, a inteligência emocional surge como um recurso valioso para ajudar atletas a lidar com essas demandas psicológicas e a encontrar equilíbrio mental nas suas rotinas.


A inteligência emocional é definida como a capacidade de reconhecer, compreender e gerenciar as próprias emoções, bem como de lidar com as emoções dos outros de maneira eficaz. No contexto esportivo ela desempenha um papel fundamental, especialmente em esportes coletivos como o futebol, em que as relações interpessoais e a gestão emocional são cruciais para o desempenho individual e da equipe.

Historicamente, a inteligência emocional foi incorporada ao mundo dos esportes de alto rendimento como uma ferramenta para aprimorar a performance dos atletas, indo além do treinamento físico e técnico. Estudos científicos na área esportiva mostraram que atletas com maior capacidade de gerir suas emoções tendem a lidar melhor com a pressão de competições, recuperam-se mais rapidamente de fracassos e constroem relações mais saudáveis com colegas e treinadores. Equipes de elite no futebol têm investido em programas psicológicos voltados ao desenvolvimento da inteligência emocional, utilizando psicoeducação e capacitação em saúde mental para integrar estratégias emocionais aos treinamentos. Popularizada pelo psicólogo Daniel Goleman nos anos 90, a inteligência emocional está alicerçada em cinco fatores principais: autoconsciência, autocontrole, motivação, empatia e habilidades sociais. Este conjunto de fatores está presente no cotidiano dos atletas de futebol de maneira integrada, tanto em treinamentos quanto em competições, por isso a necessidade de desenvolvê-los de forma consciente e adequada. Treinadores também utilizam esses conceitos para liderar seus times de forma assertiva e emocionalmente equilibrada, contribuindo para uma dinâmica de grupo mais saudável. Vejamos:

  • A autoconsciência permite que os jogadores identifiquem suas emoções e compreendam como elas influenciam o desempenho em campo. Por exemplo, um atleta que reconhece sua ansiedade antes de uma partida pode usar técnicas de respiração para se acalmar.
  • O autocontrole é essencial para gerenciar reações impulsivas, como a frustração após um erro, ajudando o jogador a manter o foco no jogo.
  • A motivação intrínseca é um dos principais impulsionadores de resiliência e superação, permitindo que os atletas estabeleçam metas claras e persistam mesmo diante de adversidades.
  • A empatia possibilita que os atletas compreendam as necessidades e sentimentos dos colegas, promovendo uma comunicação mais eficaz dentro do time.
  • As habilidades sociais garantem que os jogadores trabalhem bem em equipe, resolvam conflitos e fortaleçam os laços interpessoais, criando um ambiente harmonioso e cooperativo.

Por outro lado, a ausência ou falta de inteligência emocional entre atletas e treinadores pode gerar diversas dificuldades. Treinadores com baixos níveis de inteligência emocional frequentemente apresentam dificuldades em lidar com o estresse e as pressões inerentes ao ambiente esportivo, o que pode resultar em reações impulsivas, comunicação ineficaz e conflitos dentro da equipe. Em alguns casos, isso leva à perda de autoridade e à desmotivação dos jogadores. Já atletas com pouca inteligência emocional podem ter dificuldades em controlar emoções desagradáveis, como frustração ou ansiedade, o que pode impactar diretamente o desempenho em campo. Além disso, a incapacidade de lidar com derrotas ou situações adversas pode gerar queda de confiança, atritos interpessoais e até mesmo a deterioração do ambiente de trabalho em equipe.

A inserção da inteligência emocional no dia a dia dos clubes e atletas mostra-se cada vez mais associada ao crescimento integral do esportista e o sucesso das equipes, promovendo um ambiente capaz de lidar de forma mais equilibrada e funcional com derrotas e vitórias. Além disso, atletas emocionalmente inteligentes não apenas performam melhor em campo, mas também constroem uma carreira mais equilibrada e sustentável. A inteligência emocional, portanto, é uma aliada indispensável para transformar o futebol em uma experiência enriquecedora e bem-sucedida.

Maurício Rech tem formação acadêmica com Mestrado em Psicologia e Saúde e graduação em Direito, além de extensões nas áreas de Filosofia, Psicologia e Neurociências. Atua como professor, pesquisador científico e palestrante na área de Saúde Mental e Desenvolvimento Humano, integrando a área de psicoeducação aos seus trabalhos anteriores no esporte como advogado, agente e Diretor Executivo de Futebol Profissional e Categorias de Base.

Foto: Marcelo Cortes/CRF

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