Por: João Batista Freire
Imaginem uma semana de futebol em que todos os times favoritos vençam, nenhum pênalti seja registrado, jogadores não reclamem, técnicos não deem entrevistas polêmicas, técnicos não sejam demitidos, nenhum jogador se machuque, nenhuma jogada diferente chame a atenção, que os gols consignados sejam comuns, que não haja nenhuma goleada, nada de temporais alagando campos, torcidas bem-comportadas, que árbitros não cometam erros. A partida de futebol em campo seria apenas um detalhe. O que alimentaria os debates nas redes de rádio, televisão e internet ao longo da semana? O que alimentaria as discussões nos botecos? Que coisa chocha, não? Tudo normal. Imaginário vazio. Ah, o imaginário! É nele que mora o verdadeiro jogo. E o futebol, mais que qualquer outro esporte, é um estupendo alimentador de imaginação. Talvez venha daí seu enorme sucesso de público e de crítica.
Tal semana aqui descrita nunca existiu, para sorte e graça do esporte bretão, caso contrário ele desapareceria da face da terra. O futebol, como de resto, nenhum esporte, sobreviveria com a assepsia do incomum. O futebol é um jogo, um acontecimento lúdico, portanto, uma fonte inesgotável de alimentos para a imaginação. E nada há de mais rico na espécie humana que a imaginação. É ela que nos distingue, acima de tudo, dos outros animais. Não somos nem superiores e nem inferiores aos outros animais, somos apenas diferentes. Cada animal tem, na sua diferença, o instrumento decisivo de sobrevivência. A diferença que permite ao ser humano sobreviver é a imaginação – no resto ele é fraco. É por isso que não lhe basta o comum. Ele precisa do diferente, do inusitado, do imprevisível, do contraditório. E é aí que aguardamos, e até torcemos, tanto pela vitória de nosso time do coração, quanto pelo gol de bicicleta, pelo erro do árbitro, pelo temporal que alaga o gramado, pelo corte súbito de energia elétrica, pela contusão que afasta o craque do time, pela briga nas arquibancadas, pela expulsão do zagueiro, pelo frango do goleiro, pela goleada por sete a um, pelo choro sofrido dos derrotados na final do campeonato. Não é o futebol a questão maior, é a imaginação, que precisa ser alimentada. Essa imaginação que, durante a infância, constitui o principal motor da atividade das crianças, que as obriga a brincar em todos os momentos possíveis, até mesmo nos intervalos entre as misérias. Os seres humanos precisam brincar, as crianças em qualquer lugar, os adultos quando lhes sobra tempo e espaço. O futebol, em alguns países, é uma grande brincadeira.
Se parássemos de alimentar a imaginação, decretaríamos o fim da espécie humana. E aqueles que dominarem nossas imaginações, dominarão o planeta.
5 respostas em “Imaginem uma semana sem surpresas”
Muito boa reflexão sobre o nosso querido futebol!
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